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Fabiana Murer chegou a pensar em interromper a prova, se colocando entre a chinesa Shuying Gao e a pista de corrida para o salto. | Caio Guatelli/ Folha Imagem
Fabiana Murer chegou a pensar em interromper a prova, se colocando entre a chinesa Shuying Gao e a pista de corrida para o salto.| Foto: Caio Guatelli/ Folha Imagem

Só acontece com o Brasil

O sumiço da vara de Fabiana Murer entra para o rol de bizarrices que impediram os atletas brasileiros de terem um melhor desempenho em finais olímpicas

Refugo – Favorito ao ouro na prova de saltos em Sydney-2000, Rodrigo Pessoa é desclassificado da final após o seu cavalo, Baloubet du Rouet, recusar-se a saltar três obstáculos.

Desarranjo – Bronze em Atlanta-96 e prata em Sydney-2000, o revezamento 4 x 100 m rasos do Brasil não consegue o terceiro pódio em Atenas. Motivo: a comida ingerida durante a aclimatação, na Espanha, fez mal aos atletas, que tiveram diarréia e desidratação.

Padre irlandês – Líder da maratona em Atenas, Vanderlei Cordeiro de Lima é interceptado por um padre irlandês a poucos quilômetros do fim. Com o auxílio de espectadores, ele consegue se desevenciliar do invasor, mas fica apenas com o bronze.

Chorando a dor de quem acaba de ter o sonho de uma medalha olímpica arrancada das mãos, Fabiana Murer promete nunca mais "pôr os pés na China". Motivos ela tem de sobra. A organização dos Jogos de Pequim conseguiu extraviar o material de trabalho da atleta. Sem a vara específica para ultrapassar a barreira dos 4,65 metros, a paulista esbarrou no sarrafo três vezes seguidas e foi eliminada ontem da competição. Acabou em um frustrante décimo lugar.

A história do sumiço da vara dá uma cara de campeonato escolar à Olimpíada chinesa. Os promotores do evento se encarregaram de tirar todos os bastões da brasileira de seu tubo particular e colocá-los em um carrinho giratório antes da disputa. Chegaram até a preencher e assinar um formulário confirmando a existência dos dez acessórios. Entretanto, quando Fabiana se preparava para atingir a marca de 4,55 metros na segunda rodada da competição – começou nos 4,45 m –, a vara com a inscrição FA e um número de série impressos não estava no local reservado ao material da atleta.

Foram minutos de tensão. Desesperada, a brasileira gritou com os fiscais e pensou em interromper a prova, se colocando à frente da chinesa Shuying Gao, a próxima competidora a saltar.

"Eles só falavam ‘procura direito que está aqui, procura direito que está aqui’. Revirei as coisas de todas as outras meninas e não achei nada. Fiquei desesperada", relembrou.

O nervosismo ajudou a derrubar Fabiana. Já não havia mais clima para continuar, apesar da tentativa frustrada de usar uma vara mais resistente, produzida para atingir alturas acima dos 4,65 metros. Quatro anos de preparação foram jogados no lixo devido à desatenção dos chineses, por isso a decepção com o país.

"A revolta é com a organização. Foi muita desorganização, na verdade. É um absurdo que percam material em uma competição deste porte. Eles acabaram com a minha competição", disse ela, segurando a emoção para ir às lágrimas novamente.

Apesar da tristeza, Fabiana não consegue ver maldade na trapalhada oriental. Credita a eliminação precoce a um descuido irreparável, o mais grave desta Olimpíada até o momento. "Nunca vi história parecida. É estranho, mas foi sem querer. Pura desorganização."

A missão brasileira encaminhou um pedido formal de anulação da prova ao Comitê Organiza-dor dos Jogos de Pequim (Bocog). A Federação Internacional de Atletismo (IAAF), porém, rejeitou o protesto, entendendo que ao tentar pular 4,65 metros, Fabiana legitimou a sua participação.

"Sei que não se resolve coisa alguma, mas que sirva de lição para que tenham mais atenção da próxima vez", ressaltou a atleta.

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