Como é tradicional nas cerimônias de abertura e encerramento, os fogos de artifício ajudaram a colorir o Estádio Olímpico de Londres| Foto: Dennis Sabangan/ EFE

Organização carioca ainda é discreta

Flávio Bernardes, especial para a Gazeta do Povo

A quatro anos da edição brasileira da Olimpíada, discursos e um patriotismo inflado de que tudo está saindo conforme o planejado tentam disfarçar uma realidade difícil: muita coisa precisa ser feita. É impossível não comparar o andamento das obras no Rio ao que era visto em Londres no segundo semestre de 2008.

Quando Pequim passou o bastão aos ingleses, a construção do Estádio Olímpico já tinha começado, assim como o Parque Olímpico e o Centro Aquá­­tico. Um ano antes dos Jogos, tudo estava pronto e – tão importante quanto – dentro do orçamento. Nem uma libra esterlina a mais do que o previsto em 2007: 9,3 bilhões de libras (R$ 30,2 bilhões).

Os londrinos, na verdade, até economizaram. Segundo balanço do governo, foram gastos 8,4 bilhões de libras – entre segurança, transporte, cerimônias de abertura e encerramento e infraestrutura de praças esportivas. Uma considerável economia de 476 milhões de libras (ainda que, na escolha de Londres como sede da Olimpíada, em 2005, o projeto aprovado apontasse gastos na casa de 4,2 bilhões de libras).

Do outro lado do Atlântico, sobra desconfiança. No Pan de 2007, no Rio, o orçamento final triplicou: em vez dos quase R$ 1 bilhão – inicialmente estimado – foram consumidos cerca de R$ 4 bilhões, além das obras concluídas em cima do prazo e tecnicamente questionáveis. Do possível legado, a posição é de que o velódromo não poderá ser usado na Olimpíada, assim como o Parque Aquático Maria Lenk.

O COI já anunciou que o calendário de obras será apertado – a previsão final dos projetos é final de 2015.

Sem orçamento atualizado em relação aos R$ 28,8 bilhões propostos em 2009 – o que deve sair no fim do ano, segundo estimativa do Rio –, quando teve sua candidatura aprovada, de "concreto" mesmo o Rio tem a pedra fundamental do Parque Olímpico, principal complexo esportivo, lançada em junho deste ano.

O início simbólico da obra só foi possível graças a um acordo entre governo federal e Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), pois o Parque será erguido onde hoje está o Autódromo de Ja­­ca­­re­­paguá. Enquanto um novo circuito não começar a ser construído, o antigo não será demolido. O problema é que no terreno da nova pista há indícios de explosivos não detonados em exercícios militares.

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Cobrança

Próximo anfitrião dos Jogos, o Brasil teve dia de festa, mas também de cobrança em Londres. O COI voltou a cobrar mais velocidade nas obras e também mostrou preocupação com o baixo rendimento esportivo do país. "É preciso ganhar medalhas", indicou o presidente Jacques Rogge.

Rio-2016

O presidente do COI, Jacques Rogge, revelou ontem que a entidade já está trabalhando com Comitê Organizador da Rio-2016 para chegar a um orçamento o mais rápido possível. Segundo ele, para o Brasil conseguir um bom resultado em 2016 é preciso começar agora.

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O prefeito do Rio, Eduardo Paes, recebe a bandeira olímpica, símbolo da responsabilidade da cidade carioca em abrigar os próximos Jogos
O gari Renato Sorriso,
Bandeiras das delegações que participaram da Olimpíada ficaram enfileiradas na festa londrina
Fênix sobrevoando o Estádio Olímpico, com a pira olímpica ainda acesa
As delegações dos países formaram, do alto, a bandeira da Grã-Bretanha
Índios com cocares estilosos dançaram no palco ao som do batuque brasileiro
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Destaques da cerimônia

A apresentação brasileira na cerimônia de encerramento da Olímpiada de 2012, na passagem da bandeira olímpica para o Rio de Janeiro, sede dos próximos Jogos, em 2016, não chegou a propriamente levantar as 80 mil pessoas no Estádio Olímpico de Londres, ontem. Mesmo assim, serviu para cumprir a promessa do cineasta Cao Hamburger, um dos diretores criativos da apresentação, de oferecer uma pílula do multiculturalismo do Brasil nos oito minutos do encerramento dos Jogos, que foi assistido por cerca de 1 bilhão de telespectadores em todo o mundo. Agora, todo o foco olímpico passa para a capital carioca.

Após o prefeito do Rio, Eduar­­do Paes, receber a bandeira olímpica das mãos do prefeito da capital britânica, Boris Johnson, e do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, o primeiro dos artistas brasileiros a aparecer no palco foi o dançarino e gari Renato Sorriso, famoso pelos passos que executa enquanto varre as ruas do Rio, especialmente após os desfiles das escolas de samba no carnaval. Sorriso, que representava a alegria carioca, foi o anfitrião dos artistas brasileiros que entraram na sequência.

A cantora Marisa Monte entrou junto com um grupo de dançarinos brasileiros convocados em escolas de samba de Londres, que estavam vestidos de índios com cocares reluzentes. Na sequência, o rapper BNegão fugiu completamente da sua origem no hip hop e apareceu vestido com as roupas típicas do maracatu pernambucano. Apesar da homenagem justa ao cantor e compositor recifense Chico Science, líder do movimento Mangue Beat nos anos 90 e que faleceu em acidente de carro em 1996, o rapper ficou completamente deslocado cantando Maracatu Atômico.

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A apresentação brasileira contou ainda com a participação inexpressiva da modelo Alessandra Ambrósio, conhecida mundialmente por estampar seu rosto em campanhas publicitárias internacionais, e do cantor Seu Jorge. No encerramento, todos cantaram juntos "Aquele Abraço", de Gilberto Gil, para recepcionar o convidado mais ilustre: o Rei Pelé, que deu um abraço simbólico no público.

Adeus

A cerimônia de encerramento de Londres 2012 começou com a entrada das delegações no estádio. O porta-bandeira do Brasil foi o boxeador Esquiva Falcão, que, junto com o irmão Yamaguchi, foi a principal surpresa da delegação brasileira na Olímpiada, com a prata na categoria peso médio e bronze na meio-pesado, respectivamente.

Para a despedida, Londres preparou uma grande balada para os atletas e o público. A disposição das delegações em volta do palco formava uma imagem que remetia à bandeira britânica. Atletas e público tiveram a oportunidade de assistir a uma sucessão de estrelas, que ia do reencontro especialmente para a ocasião das Spice Girls, às lendas do nos anos 60, como My Generation. Assim como Londres mudou os conceitos de organização de uma Olimpíada em 2012.

Reino Unido projeta ganhos de R$ 40,3 bi

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Marco Sanchotene, especial para a Gazeta do Povo

Com a responsabilidade da próxima Olimpíada transferida ontem para Rio de Janeiro, é possível que os britânicos esqueçam o sucesso no quadro de medalhas e voltem a se perguntar se os gastos de 9,3 bilhões de libras (quase R$ 29 bilhões) realmente valeram a pena.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, chegou a falar em ganhos de 13 bilhões de libras (R$ 40,3 bilhões) por causa do evento, mas alguns setores reclamaram de queda no consumo durante os Jogos.

A empresa de consultoria Deloitte, provedora oficial de serviços para a Olimpíada em Londres, apresentou uma pesquisa feita na primeira semana do evento, mostrando que 42% de 100 grandes empresas consultadas relataram aumento nos negócios, enquanto 27% declararam queda.

O resultado contrasta com a expectativa das mesmas empresas em janeiro deste ano, quando 80% esperavam um aumento nos negócios, enquanto 4% acreditavam que teriam menos demanda. Este é um dos primeiros indicadores de como a economia britânica foi afetada pelo evento.

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Outra pesquisa, desta vez do British Retail Consortium, uma associação do setor varejista no Reino Unido, mostra que as vendas em julho aumentaram 0,1% em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o estudo, a Olimpíada ajudou o setor de bebidas e alimentação, mas como o evento começou em 27 de julho, ainda não dá para saber qual foi o real impacto no comércio britânico.

Logo nos primeiros dias de competição, lojistas da região central da capital inglesa reclamaram de queda de até 10% no movimento, conforme dados da consultoria Experian, e culparam a empresa de transporte público da capital, a TFL, que fez uma campanha para a cidade se preparar para até 1 milhão de passageiros extras durante os Jogos. Na sexta-feira, a empresa anunciou que foram transportados 47 milhões de passageiros nos 12 primeiros dias dos Jogos, um aumento de 30% (11 milhões) se comparado ao período do ano passado.

Um estudo do banco de investimento Goldman Sachs, divulgado pouco antes do início da competição, revela que o governo deve recuperar parte dos gastos com a venda de terrenos e construções do Parque Olímpico. A conclusão é que os Jogos serão positivos no geral e devem aumentar o produto interno bruto britânico entre 0,3% a 0,4% no terceiro trimestre, com ganhos maiores no longo prazo muito além das 13 bilhões de libras projetadas pelo governo.