Família
Receita caseira para fomar atletas inclui soco em bananeira
Da Redação
Enquanto os filhos disputavam as semifinais do boxe em Londres, a família de Adegard Câmara Florentino, mais conhecido como Touro Moreno, se aglomerava na casa simples em que vivem há dez anos, presente de um ex-aluno do patriarca. Em Jacaraípe, na cidade de Serra, na Grande Vitória, se dividiam ontem entre a expectativa pelo desempenho dos garotos e a pressão dos repórteres, que faziam deles celebridades.
Touro Moreno até brinca com a popularidade recente, dizendo que está revendo amigos que estavam sumidos há muitos anos. "Tem uns que eu não dava com as caras há uns 20 anos. Como é bom vencer", se diverte, sonhando com o ouro de Esquiva, mas sem se empolgar demais. "O que vier temos de receber com humildade."
Um dos ingredientes para a fórmula de criar campeões dentro de casa está justamente no quintal do ex-lutador de vale tudo e que ainda desfere seus golpes como pugilista aos 75 anos: um ringue de grama e uma bananeira como dublê de saco de pancadas. O envolvimento com o esporte começou cedo, pois não tiveram muita escolha. O único "brinquedo" que ganharam foram luvas de boxe, substituídas à medida em que cresciam e espancavam a árvore no "ginásio improvisado".
O jeitinho brasileiro não os impede nem de conversar antes e depois das lutas, mesmo sem telefone próprio na residência. "Para sentir a vibração do paizão", conta Esquiva. Matam a saudade pelo orelhão vizinho ao terreno de Touro Moreno, pai de "uns 18 filhos", segundo o cunhado, provenientes de três casamentos. A próxima missão dos irmãos é convencer o pai a parar de lutar, desejo da família. Com a medalha, talvez seja mais fácil.
Não será em Londres que Yamaguchi e Esquiva Falcão conseguirão igualar a façanha dos irmãos americanos Leon e Michael Spinks, em Munique-1972, de dois representantes da mesma família levarem para casa o ouro em uma Olímpiada. O caçula garantiu ontem o boxe brasileiro pela primeira vez em uma decisão olímpica, mas o mais velho empacou na semifinal ficou com o bronze, pois no boxe olímpico não há decisão de terceiro lugar. A dobradinha pode também não ser possível no Rio-2016, já que ambos cogitam se transferir para o MMA.
De manhã, na Arena Excel, Esquiva deixou para trás o britânico Anthony Ogogo e a torcida local, com uma vitória por 16 a 9, para decidir hoje, às 17h45 (de Brasília), com o japonês Ryota Murata, o ouro no peso médio (até 75 kg).
À noite, porém, Yamaguchi não conseguiu vencer a força e a velocidade do russo Egor Mekhontcev na semifinal do peso meio-médio (até 81 kg) e perdeu por 23 a 11.
Apesar das medalhas, tanto Yamaguchi quanto Esquiva são enfáticos em dizer que um dia vão se transferir para o MMA e realizar o sonho do pai, o folclórico lutador capixaba Touro Moreno, que além do boxe também subiu nos ringues de vale tudo na época do telecatch, entre os anos 60 e 80.
O mais velho cogita deixar o boxe olímpico já na volta ao Brasil. "Tudo vai depender da proposta que eu receber. Mas se forem duas iguais, vou para o MMA", revela Yamaguchi. Atualmente, cada um dos irmãos recebe patrocínio da Petrobras de R$ 3,2 mil de salário, mais R$ 1,2 de vale-refeição e R$ 800 de plano de saúde.
Já Esquiva não esconde que o fato de ter chegado à final em Londres deve atrasar o desejo de lutar no octógono. "Acho que vou ficar mais dois anos ainda no boxe olímpico, porque esse é meu melhor momento. Depois, vou começar a treinar luta de chão. Vou lutar MMA nem que seja só para ter uma luta no currículo", planeja.
Além do MMA, Esquiva também não descarta a possibilidade de seguir o caminho de Adriana Araújo, que depois de também conquistar o bronze em Londres, na categoria leve (até 60 kg), vai se transferir para o boxe profissional ainda em 2012.
Retrocesso
Para o técnico da seleção de boxe, João Barros, a transferência dos irmãos para o MMA seria um retrocesso não só para ambos, mas para o esporte brasileiro. "Eu vou conversar com eles para desistirem disso. Chegamos tão longe aqui, não podemos voltar agora. Até porque viemos com uma estrutura boa e a tendência com essas medalhas é melhorar ainda mais em 2016", avalia o treinador.
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