O comitê organizador da Olimpíada de 2016 vai repassar 12% do patrocínio obtido nos Jogos para o Comitê Olímpico do Brasil (COB ). A entidade pode receber mais de R$ 340 milhões dos recursos que ajudariam a custear a operação do evento.
A “mordida” no patrocínio, principal fonte de receita do comitê, pode ser paga pelo contribuinte. Por lei, qualquer resultado negativo na entidade será coberto com dinheiro da União, do Estado do Rio e do município.
A transferência de recursos entrou na mira do TCU (Tribunal de Contas da União). O tribunal teme que o volume transferido ajude a provocar um déficit no orçamento do comitê organizador dos Jogos e decidiu monitorar nos repasses. O valor é mais de 13 vezes o transferido pelo comitê organizador da Olimpíada de Londres-12 para a Associação Olímpica Britânica.
O TCU aponta “conflito de interesse” por parte de Carlos Arthur Nuzman, que preside tanto o COB como a entidade que organiza os Jogos. O comitê organizador disse que o repasse não vai desequilibrar seu orçamento. Afirmou também ser importante para o evento que o COB tenha estrutura para ajudar num bom desempenho dos atletas brasileiros. Resultados positivos do país-sede, diz, ajudam a aumentar o interesse no evento.
O COB disse em nota que a taxa foi decidida “em acordo entre as duas entidades, que possuem assembleia e comitês executivos próprios”.
O repasse de verba de marketing do comitê organizador (responsável por organizar o evento) para o comitê olímpico do país-sede (formador de atletas) é comum nos Jogos.
É uma forma de compensar a entidade esportiva pela queda na obtenção de patrocínios próprios. O COB não pode vender cotas de marketing nos anos anteriores à Olimpíada para evitar apoiadores concorrentes aos do comitê organizador. A captação própria se encerrou em 2011.
Mas a proporção do repasse no Brasil chama atenção.
Em Londres-12, a Associação Olímpica Britânica recebeu R$ 25 milhões (em valores atualizados) do patrocínio arrecadado para os Jogos. O valor refere-se a 5% do obtido pelo marketing do comitê organizador que excedeu US$ 815 milhões (R$ 2,8 bilhões).
A associação não ficou satisfeita e pede mais. A disputa está nos tribunais.
O repasse do comitê organizador é feito desde 2011 e ajudou a engordar a receita do COB com patrocínios. Enquanto em 2010 essa fonte foi de R$ 9,7 milhões (em valores corrigidos), ela chegou a R$ 69 milhões no ano passado, segundo balanço do comitê olímpico.
O COB já registrou em seus balanços saldo de R$ 121,6 milhões dos repasses -nem tudo foi depositado porque há uma dívida a ser apurada.
Como a Rio-2016 prevê obter R$ 3,5 bilhões em patrocínio, o repasse em dinheiro, produtos e serviços pode superar R$ 340 milhões -após atingir R$ 186 milhões, a mordida do COB cai para 8%.
O comitê organizador negou haver “conflito de interesses” na acumulação de cargos por parte de Nuzman. Afirmou que a decisão sobre o percentual de repasse foi submetida ao Conselho Executivo da entidade.
O comitê organizador prevê uma receita total de R$ 7,4 bilhões com patrocínios, venda de ingressos, licenciamento de produtos, entre outros.