O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Wilson Trezza, disse em entrevista nesta quarta-feira, que o Brasil “ainda não foi informado” da possibilidade de ocorrência de um atentado terrorista contra a delegação da França, durante a realização dos Jogos Olímpicos, que serão realizados de cinco a 21 de agosto.
O alerta, embora só tenha vindo a público na última terça-feira, foi divulgado no dia 26 de maio pelo chefe da Direção de Informação Militar (DRM) – um dos serviços secretos da França –, o general Christophe Gomart, à Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou os atentados de 13 de novembro em Paris e Saint-Denis.
Segundo as informações divulgadas aos parlamentares, o ataque seria cometido por um brasileiro em nome do grupo jihadista Estado Islâmico, teria como o alvo a delegação francesa e foi divulgado, por engano, na terça-feira com a publicação de um relatório no site do Legislativo.
A entrevista foi convocada para que a Abin informasse sobre os trabalhos de preparação para a Olimpíada pelos serviço de inteligência brasileira e a integração com todos os órgãos do setor, para prevenção de possíveis atentados.
Trezza, que disse desconhecer o alerta, evitou reconhecer o atraso no repasse desse tipo de informação ao Brasil, que é fundamental para a segurança dos Jogos, e que já era de conhecimento do governo francês há pelo menos 50 dias. Questionado se havia demora do governo francês em repassar o estratégico informe ao Brasil, o diretor-geral da Abin evitou qualquer crítica ao parceiro.
“Eu não posso afiançar o que houve para que ele [o serviço de inteligência francês] tivesse divulgado e não tivesse falado conosco ainda”, tentou justificar, acrescentando que “certamente vamos nos sentar para conversar sobre isso porque existe representante do serviço de inteligência francesa no Brasil”.
Quando classificamos uma delegação com um grau de risco, pode nos fazer descuidar das outras. Então, todas as delegações estão tendo o mesmo grau, levando o sistema de segurança integrada a enfrentá-los, a tratá-los com mesmo grau de risco, e todos são elevados
Apesar da ameaça de atentado, o governo diz que não haverá uma segurança ampliada para os atletas franceses. “Quando classificamos uma delegação com um grau de risco, pode nos fazer descuidar das outras. Então, todas as delegações estão tendo o mesmo grau, levando o sistema de segurança integrada a enfrentá-los, a tratá-los com mesmo grau de risco, e todos são elevados porque isto é o que a gente acredita que deve fazer. Temos de assegurar que todos os que participarem dos Jogos tenham proteção adequada”, declarou o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, a quem a Abin está subordinada.
“Não raciocinamos que uma delegação tem maior e outra menor risco. Todas são de nossa responsabilidade e para todas será dada o mesmo nível de tratamento como se o risco fosse igual para todas”, afirmou ele, acrescentando que “da perspectiva da inteligência, da segurança integrada, o Brasil está pronto para os Jogos Rio 2016”.
Guantánamo
Nem o ministro do GSI, nem o diretor da Abin quiseram falar da preocupação que tomou conta do governo no mês passado sobre alertas divulgados, até pela companhias aérea Avianca, por causa da falta de informações sobre o paradeiro do sírio Jihad Diyab, de 34 anos, ex-preso de Guantánamo acolhido como refugiado no Uruguai e que teria vindo para o Brasil.
“Podemos dizer que todas as informações que têm chegado à Abin, todos os conhecimentos têm sido classificados como alvo de preocupação do Sistema de Inteligência e estão sendo tratados. Detalhes das operações, infelizmente, peço compreensão, não serão fornecidos”, avisou o ministro Etchegoyen, descartando qualquer possibilidade de tratar do assunto.
Segundo informações obtidas pela reportagem, há pouco mais de um mês, entre os dias 6 e 7 de junho, Jihad Diyab teria passado pelo Brasil, em direção à Venezuela, onde teria sido acolhido. A Polícia Federal também não quis comentar a possibilidade, alegando desconhecê-la.
A PF, no entanto, tem registro de duas tentativas de entrada do sírio, que teria saído do Uruguai para o Brasil, via Chuí. No entanto, nestas duas tentativas ele foi “barrado”, de acordo com a polícia. A PF não confirma, mas, de acordo com uma fonte, o serviço de inteligência uruguaio avisou ao Brasil que Jihad acabou entrando no País, mas não permaneceu na nação, apenas passando e seguindo para território venezuelano.
Desde então, ele estaria sendo dado como desaparecido pelos órgãos de segurança do Uruguai, embora a embaixada dos Estados Unidos em Montevidéu tenha afirmado que está “cooperando” para descobrir onde está Jihad Diyab.
Alerta
A Abin reconheceu que emitiu um relatório, em maio, falando em alerta 4 (em uma escala que o grau máximo é cinco) para a ameaça de atentado terrorista no Brasil. Declarou, o entanto, que este nível de alerta já foi reduzido, mas não disse para quanto.
“Em maio tivemos uma série de atentados terroristas no mundo. Estes eventos indicaram obviamente uma elevada exposição, propensão de acontecer e, consequentemente, nós aumentamos o nosso alerta do lado de cá. Não que nós tenhamos achado três, quatro, cinco, ou seis células terroristas e cem lobos solitários, mas porque interagindo, reunindo com outras agências, nós identificamos que se elevou (o alerta) por causa dos inúmeros atentados em vários países”, declarou o ministro Etchegoyen.
O general explicou ainda que houve uma intensificação de ações e intercâmbios para prevenção ao terrorismo e que haverá um completo monitoramento de tudo pelo serviço de inteligência a partir do centro de Brasília e do Rio de Janeiro, integrado com 24 outros órgãos brasileiros e com mais de cem agências de outros países.
O ministro Etchegoyen disse ainda que a principal ameaça é o lobo solitário, já que esta tem sido a principal forma de ação do terrorismo. “Quando a gente raciona com terrorismo, o que assusta o mundo é o lobo solitário, é a célula adormecida”, observou.
O diretor da Abin, por sua vez, emendou lembrando que “a característica de atuação do terrorismo internacional se modificou e essa modalidade de ação (lobo solitário) é cada vez mais utilizada porque é considerada eficiente, mais barata, exige menos mobilização, menos investimento, menos preparação, e é o que temos visto acontecer em vários países do mundo, com resultados diferentes de antigamente”. E concluiu: “A principal preocupação não só no Brasil, mas na maioria dos países, é o lobo solitário”.
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