“Turbilhão de emoções” foi a expressão que a medalhista olímpica Agatha Bednarczuk Rippel – vice-campeã no Vôlei de Praia feminino na Rio 2016 – escolheu para definir os últimos dias. Em Paranaguá, a cidade do coração da atleta, ela foi recebida na sexta-feira (26) com desfile no caminhão do Corpo de Bombeiros e desde então tem recebido muitas homenagens, principalmente das crianças e adolescentes do Projeto Agatha, que ensina Vôlei de Praia e BeachSoccer.
Dez dias após a final da Olimpíada, Agatha está aproveitando um pouco do carinho da família e dos fãs, mas já tem data para retomar as atividades: 5 de setembro, segundo o preparador físico e marido da atleta, Renan Rippel.
No retorno, o principal desafio será encontrar uma nova parceira para buscar os próximos objetivos. A Olimpíada de Tóquio, em 2020, já está nos planos da atleta. “Eu coloco na mão de Deus, eu foco no que eu quero, se eu vou chegar lá eu não sei, mas eu coloco na mão Dele, que seja de acordo com a vontade de Deus”, afirma.
Os planos vão deixando para depois o merecido descanso pós Rio 2016. “Descanso passou longe, mas tem sido gostoso reunião aqui, reunião ali, todo mundo quer curtir um pouquinho dessa conquista. Apesar de eu ter conquistado, todo mundo fez parte dessa conquista. Todo mundo torcendo, rezando para que desse certo, então eu estou retribuindo, dividindo com eles essa conquista”, conta.
Novas parcerias
O fim da parceria com Bárbara Seixas, abre um novo ciclo na carreira de Agatha, que vai procurar uma nova companheira de equipe para continuar jogando. “Nós encerramos um ciclo, não foi a melhor forma de encerrar devido a separação repentina da equipe, mas nós ganhamos uma medalha olímpica”, avalia Renan Rippel.
Para o preparador físico, a partir do dia 5 de setembro, o objetivo muda e eles vão retomar o trabalho já com foco na próxima Olimpíada. “Agora, temos que virar a chave, fazer uma nova parceria e começar do zero, continuar vencendo. O atleta, a comissão técnica, precisam de um objetivo maior e o objetivo é Tóquio. Nós vamos chegar lá? Só Deus sabe, mas esse é o objetivo. Se não chegar, faz parte do esporte”, finaliza Rippel.
“Estou na minha melhor forma física, estou na minha fase mais madura como atleta, e acho que posso fazer um time muito bom com outra pessoa. Seria injusto comigo mesma depois de tantos anos de ralação não aproveitar esse momento para continuar jogando”, diz Agatha.
Aos 33 anos, ela diz ter consciência que a idade pode influenciar nas próximas metas. “Só o tempo vai dizer se o meu corpo vai responder bem. Por outro lado, na parte mental eu vou estar a frente das mais novas e isso pode fazer a diferença”, avalia.
Raízes e fé
Parnanguara ou curitibana? “Os dois”, responde com firmeza a medalhista olímpica. Nascida em Curitiba e criada em Paranaguá, ela diz ter raízes – e família – em Curitiba, ao mesmo tempo que possui um carinho imenso pela cidade litorânea, onde iniciou a carreira. Desse carinho nasceu o Projeto Agatha, com oito anos de atividades e mais de cinco mil pessoas formadas. “Eu sei que estou formando cidadãos”, afirma.
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Os pais de Agatha, Maria José Vagnoni Moscardi Bednarczuk e Alfredo Bednarczuk Junior, moram em Paranaguá e estiveram presentes em todos os jogos da filha. Ao final de cada partida, Agatha corria para os braços deles, mas em um jogo – a semifinal, contra as americanas Walsh e Ross – o abraço foi especial. “Era Dia dos Pais, meu pais estava ali, e aquele abraço, aquele aconchego gostoso foi um presente para ele”, conta.
Para os pais, que acompanharam de perto toda a trajetória da atleta, a medalha de prata – que pesa meio quilo – tem um valor especial. “Nós acompanhamos a luta em busca de patrocínio, ela ouviu bastante ‘não’, as coisas não davam certo, então essa medalha é de todos que sempre estivemos ao lado dela”, desabafa o pai. “A medalha tem gosto de felicidade, tem gosto de conquista, tem gosto de justiça, foi uma trajetória com bastante percalços, então agora é um gostinho de missão cumprida”, relata a mãe.
De família católica, Agatha aprendeu desde cedo a rezar o terço em casa com a família. Quando chegou ao Rio de Janeiro, ainda sem conhecer ninguém, deixou bilhetinhos nos apartamentos convidando os vizinhos para rezar o terço com ela. A iniciativa deu certo e toda quarta-feira ela se reúne com as amigas para fazer orações. “Cada dia na casa de uma amiga. Se eu tivesse tempo, faria parte de grupos dentro da igreja porque só ir a missa eu acho muito pouco”, detalha.
Durante os jogos, uma amiga fez uma bandeira do Brasil com a imagem de Nossa Senhora do Rosário e levou para a arquibancada. Dias depois, elas descobriram que durante os jogos não é permitido menção religiosa então a bandeira não pôde mais ser levada.