O Comitê Olímpico Internacional (COI) havia avisado a presidente Dilma Rousseff em fevereiro que a situação da preparação do Rio de Janeiro era desesperadora e que o governo federal precisaria intervir com urgência se quisesse garantir o sucesso dos Jogos de 2016. Nesta semana, o COI decidiu tornar pública a crise existente há meses entre a entidade e o Rio. Os problemas são considerados tão profundos que, hoje, não há nem mesmo garantias de que o evento consiga ser financiado.

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A opção por revelar os problemas foi feita após a entidade se dar conta de que nenhuma providência estava sendo tomada, nem no Rio nem em Brasília. E o COI aguardava o fim dos Jogos de Inverno de Sochi para voltar todas suas atenções ao Brasil.

As avaliações negativas sobre o Rio ocorrem há pelo menos um ano com destaque para a indefinição sobre os locais em que seriam realizadas partes das provas, para a crise financeira e para as obras que nem sequer foram iniciadas. Mas eram guardadas a sete chaves, justamente para não azedar a relação entre o COI e o Brasil.

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Nos últimos dias, cartolas de diferentes modalidades atacaram abertamente a preparação para 2016, acusando o evento do Rio de ser o mais atrasado em mais de 20 anos. Em oito modalidades, as instalações nem começaram a ser erguidas.

Na prática, faltando pouco mais de dois anos para o evento dificilmente o COI conseguiria transferir a Olimpíada para um outro país. Mesmo assim, dirigentes revelaram à reportagem que a opção de federações e mesmo do presidente do COI, Thomas Bach, foi de "assustar" o Rio com ameaças de implementar um eventual "Plano B".

AJUDA - A única opção que o COI tinha - e que foi adotada - foi a de intervir e passar a controlar a organização do evento. O escolhido para ajudar o Rio foi Gilbert Felli, que por anos dirigiu o departamento da entidade que organiza os eventos. A partir de agora, o suíço vai praticamente morar no Rio.

Essa não é primeira vez que o COI socorre o Rio. Na primeira avaliação da entidade com as cinco então candidatas a sede do evento de 2016, a cidade havia ficado na última colocação e por pouco não atinge a nota de corte. Mas existia vontade política do ex-presidente da máxima entidade olímpica Jacques Rogge de levar os Jogos pela primeira vez para a América do Sul.

O belga, então, montou uma equipe e a despachou para o Rio para ajudar Carlos Arthur Nuzman a corrigir seu plano. "Nenhuma outra cidade que se candidatava naquele momento ganhou esse privilégio", disse uma fonte em Madri - a cidade espanhola ficou em segundo lugar.

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O plano foi integralmente revisado. O Rio ainda contratou uma assessoria de comunicação de Londres e a opção foi por focar a busca dos votos com um prisma político e não apenas pelo aspecto técnico do projeto funcionou. Mas nem bem o nome do Rio foi lido por Rogge em 2009 ao anunciar o vencedor e o COI se deu conta que teria de monitorar cada passo do processo.

Dilma

A chegada de Bach à entidade no final de 2013 mudaria o estilo da conduta com o Rio. O alemão é conhecido por criticar nos corredores os cartolas sul-americanos e nunca escondeu a desconfiança em relação à Nuzman e à classe política brasileira.

Seu primeiro gesto ao assumir a presidência foi pedir uma reunião com Dilma para explicar a crise. Ela o recebeu em fevereiro e, segundo fontes em Brasília, ouviu de Bach um informe preocupante. Além dos atrasos, as contas não fechavam. "Naquele momento, o Brasil levou um cartão vermelho. Mas o combinado era de que nada seria divulgado, justamente para não manchar a relação entre o COI e o Planalto", explicou um dirigente do órgão.

Na reunião, o COI apresentou uma espécie de placar em que classifica cada uma das áreas em verde, amarelo e vermelho, dependendo do andamento do setor avaliado. O que Dilma viu foi um placar marcado pela cor vermelha. Eduardo Paes, prefeito do Rio, também estava ciente das conclusões do COI. "Mas ninguém se mexeu desde fevereiro no Brasil", se queixou uma fonte próxima às federações esportivas.

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Na sede do COI, em Lausanne, admite-se que a crise hoje é muito mais profunda que a dos Jogos de Atenas/2004, considerados os mais problemáticos. "A situação no Rio fez muitos pensarem que, em Atenas, vivíamos num paraíso", declarou um dirigente ao Estado.