Nascida três anos após o acidente nuclear de Chernobyl, numa das localidades da Ucrânia afetadas pela radiação, Oksana Masters apresentava no corpo os efeitos do desastre: uma tíbia mais larga que a outra, mãos com cinco dedos mas sem polegares, seis dedos em cada pé e apenas um rim. Abandonada pelos pais, passou a infância em vários orfanatos, passou fome e sofreu abusos. Até que, aos sete anos, foi adotada por Gay Masteres, uma fonoaudióloga americana que vivia no Kentucky. Então, começou uma nova vida.
“Minha mãe, literalmente, salvou minha vida”, disse, sobre Gay, a quem chama também de “anjo”. “É incrível que eu ainda esteja aqui e me sinto muito sortuda por poder viver este sonho”.
No orfanato, nunca havia comida suficiente para matar a fome, conta a atleta, que estava desnutrida quando foi adotada. Ela relata ainda que havia abusos físicos e sexuais, mas diz que as memórias foram bloqueadas em sua mente. Não bastasse o pesadelo dentro da instituição, havia o ambiente externo. Oksana se lembra de policiais dizendo para que não saísse do orfanato por causa da radiação.
Já nos Estados Unidos, aos 9 anos, Oksana sofreu amputação de uma perna acima do joelho. Cinco anos depois, passo pelo mesmo procedimento na outra. Foi então que começou a praticar remo e, graças ao esporte, conheceu um militar que havia perdido as duas pernas na guerra do Afeganistão: Rob Jones veio a se tornar seu marido. Juntos, conquistaram a medalha de bronze no remo, em Londres. “O esporte foi minha saída. Tinha 13 anos quando comecei e logo se tornou minha paixão”.
Por causa de uma lesão nas costas, Oksana teve de deixar o remo. Mas abraçou uma nova aventura, com os esportes de inverno, e, anos depois, conquistou uma prata e um bronze no esqui. Na Rio 2016, a atleta compete no ciclismo. Ficou em quarto lugar, sem medalha, mas aproveitou a passagem para passear pela Cidade Maravilhosa, que conheceu graças ao esporte. “Estou agradecida pela experiência e por tudo que vivi”.