O prefeito do Rio e a Austrália selaram a paz nesta quarta-feira (27), em uma conversa sobre a condição caótica da Vila Olímpica, com as controvérsias permanecendo, enquanto uma nova pesquisa mostrou que os brasileiros estão muito desanimados sobre os Jogos.
O prefeito Eduardo Paes deu um beijo na bochecha da chefe da delegação australiana, Kitty Chiller, entregando a ela a chave simbólica da cidade e pedindo desculpas pelos contratempos na Vila, que incluem banheiros interditados, perigosas instalações elétricas e vazamentos.
“Eu vi isso. Esse era o pior prédio. Eu reconheço os problemas que você se deparou”, disse Paes arrependido.
O discurso de Paes estava longe de sua reação no domingo (24), após Chiller criticar as acomodações dizendo que eram as piores que ela já tinha visto em cinco Olimpíadas.
No domingo, Paes tentou levar o assunto na brincadeira, afirmando que enviaria um canguru para que os australianos se sentissem em casa. Os australianos não acharam graça nenhuma.
O diretor de comunicação do comitê olímpico australiano, Mike Tancred, respondeu: “Não precisamos de cangurus, precisamos de encanadores”. A polêmica causou grande alvoroço nas redes sociais, com a hashtag #kangaroogate.
Paes explicou nesta quarta-feira que não tinha a intenção de ofender e ofereceu “uma desculpa formal, quase uma questão diplomática”.
Rodeada por atletas australianos, Chiller elogiou o Brasil pela “paixão e comprometimento” na realização de reparos - e deu a Paes um canguru de pelúcia.
Entretanto, novas preocupações surgiram sobre a corrida contra o tempo para terminar a Vila com apenas 9 dias antes do início dos Jogos, que terá sua cerimônia de abertura no dia 5 de agosto.
Inspetores do trabalho acusaram a comissão organizadora dos Jogos Olímpicos de estarem com 630 funcionários sem contratos, além de funcionários estarem trabalhando até a exaustão.
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“Se um trabalhador sofre qualquer tipo de acidente ou é morto, a família não terá nenhuma garantia”, disse o inspetor Hércules Terra ao G1, afirmando que os organizadores seriam multados.
Perguntado sobre quanto custariam os reparos, Paes respondeu: “Eu não sei”.
Melancolia e apatia do público
Os problemas da Vila Olímpica são outra situação embaraçosa para o Brasil, que está se esforçando para mostrar que pode lidar com a pressão durante um recessão econômica severa e uma crise política.
Os organizadores já estão lidando com questões como a baixa venda de ingressos, a apatia do público, medo sobre o vírus da zika e um aumento na criminalidade, além das queixas da polícia sobre a falta de recursos.
Uma pesquisa publicada no jornal Estado de São Paulo mostrou que 60% dos brasileiros acreditam que os Jogos Olímpicos irão trazer mais malefícios do que benefícios para o país. A pesquisa do Ibope para o Estadão apresentou que apenas 32% dos brasileiros acreditam que a primeira Olimpíada na América do Sul será mais positiva do que negativa.
Essa diferença mostrou um desânimo maior do que na véspera do último evento esportivo ocorrido no Brasil, a Copa do Mundo de 2014. Na época, 40% das pessoas esperavam que os resultados negativos fossem maiores, em comparação com os 43% que estavam otimistas.
Paes rebateu a pesquisa dizendo ao Estadão que “a cidade do Rio de Janeiro já está se beneficiando do legado, a população já está se beneficiando”.
Quando o Brasil, em 2009, ganhou o direito de o Rio receber as Olimpíadas, a economia estava prosperando e o presidente Lula era muito popular. Atualmente, a economia brasileira está retraída, Lula enfrenta sérias alegações sobre corrupção e sua sucessora, Dilma Rousseff, encara um processo de impeachment, cuja votação irá ocorrer logo após o fim dos Jogos.
A Anistia Internacional deu destaque nesta quarta-feira à violência policial no Rio de Janeiro ao colocar 40 sacos pretos em frente à sede do Comitê Olímpico Brasileiro - representando cada pessoa morta por policiais da cidade em maio.
“Nossa principal preocupação é que há um aumento da violência policial quanto mais nos aproximamos dos Jogos”, disse a especialista da Anistia, Renata Neder.
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