Sobrou para a Justiça definir uma das vagas do tiro esportivo do Brasil na Olimpíada do Rio, em 2016.
O paranaense Rodrigo Bastos, 48 anos, ingressou com um mandado de garantia no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) reivindicando a única vaga do país para a disputa da prova de fossa olímpica, obtida pelo gaúcho Roberto Schmits, 46 anos, no Mundial de Lonato, na Itália, no último dia 13.
Na ação, o atirador de Guarapuava questiona a Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE) por não ter publicado em edital a alteração da regra classificatória aos Jogos.
Em reunião em Curitiba em fevereiro, a comissão técnica da CBTE decidiu mudar o regulamento da classificação para a Rio-2016. Ao invés de somar os pontos de três Copas do Mundo mais o Mundial, ficou acertado que a vaga olímpica ficaria para quem somasse mais pontos em duas Copas mais o Mundial.
Vou buscar a classificação onde precisar, porque está engasgado. Nunca estive tão chateado na minha carreira. Isso é uma afronta ao esporte, à legitimidade do resultado
Logo após a reunião, a CBTE informou a nova regra aos quatro atiradores que disputavam a classificação. Dia 17 de agosto, a confederação publicou um comunicado com a mudança em seu site. Mesmo assim, Bastos afirma que desde então vinha cobrando a CBTE para que oficializasse a alteração em edital.
“Como não fizeram nada, o que vale é o regulamento publicado. Quem ler o regulamento oficial vai ver que tenho direito à vaga”, defende Bastos, que disputou as Olimpíadas de Seul-1988 e Atenas-2004 e detém dois ouros em Mundiais.
No Mundial de Lonato, Bastos acertou 109 pratos de 125 possíveis na fase de classificação. Como o placar só é aberto a partir de 110 acertos, com cada prato valendo um ponto, o paranaense terminou a competição zerado. Dessa forma, ficou só com os 18 pontos conquistados nas duas últimas edições das Copas no somatório para a Olimpíada.
Já Schmits tinha 15 pontos das duas Copas e acertou 115 pratos no Mundial da Itália, fechando com 20 pontos a corrida para os Jogos.
Mas se fosse considerada mais uma Copa, torneiro descartado pela nova regra, Bastos passaria o adversário em um ponto.
O paranaense enfatiza que vai levar a disputa judicial pela vaga olímpica até a última instância. Cogita até entrar com ação na esfera cível, caso não obtenha sucesso no STJD.
“Vou onde precisar porque está engasgado. Nunca estive tão chateado na minha carreira. Isso é uma afronta ao esporte, à legitimidade do resultado”, ressalta.
Se o Rodrigo tivesse obtido a classificação, será que iria questionar o fato de a nova regra não ter sido publicada em edital? Acho que não
O diretor-técnico da CBTE, Aílton Patriota, confirma que a alteração no regulamento não foi publicada em edital. Mas reforça que Bastos, assim como os outros atletas, sabia da mudança.
“Não sentimos necessidade de publicar a ata da reunião de Curitiba porque todos os atletas foram informados e estavam cientes da mudança. Todos concordaram, não houve nenhuma contestação”, defende o diretor-técnico da CBTE.
Patriota, entretanto, confirma as cobranças de Bastos para que a confederação publicasse o novo regulamento em edital.
“O Rodrigo ligava para mim pedindo. Eu dizia que não precisava e falava que ele tinha que se preocupar em treinar e se preparar para conquistar a vaga [na nova regra]”, explica Patriota.
Roberto Schmits diz estar alheio ao processo movido por Bastos. O atirador gaúcho recebeu a programação de treinos e começou semana passada a preparação para os Jogos Olímpicos em um clube de tiro em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Na sequência, Schmits vai treinar em Cuiabá (MT), onde há um clube cujos equipamentos são os mesmos que serão utilizados na Rio-2016.
“Se o Rodrigo tivesse obtido a classificação, será que iria questionar o fato de a nova regra não ter sido publicada em edital? Acho que não. Então estou tranquilo. Fiz minha parte e garanti a vaga”, ressalta Schmits, que vai para sua primeira Olimpíada.
“A atitude do Rodrigo é lamentável. O atleta tem que fazer a parte dele, que é treinar e competir. Se for para se meter na parte administrativa, então que vire dirigente”, critica Schmits.
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