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| Foto: JEFF PACHOUD/AFP

Foi difícil dizer o que foi mais bonito: as silhuetas da antiga cidade imperial se estendendo do mar às montanhas, ou os atletas em doce movimento. Eles eram o pano de fundo para tudo. E sem eles, você ficaria apenas com as dívidas e o lixo flutuante e as pedras voadoras, e teria de se perguntar se as Olimpíadas ainda valem à pena de serem feitas. Então foi uma boa coisa que o Cristo Redentor e Neymar estiveram lá.

Eles acobertaram os picos esfarrapados da cidade. Eles foram as cortinas que esconderam a nudez do irlandês Patrick Hickey, membro do Comitê Olímpico Internacional (COI), preso em seu hotel acusado de revender ilegalmente ingressos dos Jogos. Eles esconderam os estádios semivazios, os seis bilhões de dólares de dívidas do estado e o deficit orçamentário tão íngreme que levantou a questão sobre a impossibilidade de hospedar a Paralimpíada.

No domingo de manhã, algumas arenas e suas instáveis plataformas para pedestres já haviam sido desmanteladas para poupar dinheiro. Foi mais do que difícil engolir a afirmação do presidente do COI, Tomas Bach, de que estes foram os “Jogos do povo; Jogos mais felizes de todos; mais bonitos; os Jogos da paixão”.

Os Jogos do Rio visivelmente fizeram coisas boas para essa cidade de brisa morna, de mil graças, com suas favelas escondidas nos morros e quadras empoeiradas repletas de palmeiras. Há um novo porto glorioso e um museu de asas brancas para receber os turistas, substituindo os píeres velhos, e uma nova autoestrada para os subúrbios ricos.

Bach tentou ganhar um pouco do crédito por essas coisas, dizendo que “por décadas não houve investimento real nesta cidade...Imagine onde o Rio estaria hoje se esta situação tivesse prosseguido”. Mas a questão que levará meses, senão anos para ser respondida, é se o “movimento olímpico” deu mais do que tirou, em demandas e fardos, a essa cidade destruída pela recessão.

Foram visíveis os sinais da luta financeira do Rio para hospedar os Jogos. Um esgoto a céu aberto próximo ao Parque Olímpico fedia e todas as manhãs helicópteros sobrevoavam a poluída Baía de Guanabara para checar se alguns dos detritos não flutuariam para dentro das arenas. A inexperiência fez com que a água das piscinas de mergulho ficassem tão verdes que não era possível ver seu fundo.

Um cabo se soltou e liberou uma câmara gigante para cair sobre os espectadores no Parque Olímpico. A uma rampa para barcos desmoronou, um pequeno incêndio teve início. Ainda assim, os cidadãos do Rio e os voluntários de alguma maneira superaram esses grandes inconvenientes e cuidaram e alimentaram 10 mil atletas e suas equipes.

Atletas redimiram os Jogos

As performances exultantes daqueles atletas em contraste com o pano de fundo de montanhas verdes mergulhando nas baías fez com que os desastres parecessem pequenas falhas. Foi indiscutivelmente a mais notável coleção de campeões jamais reunidos em um só local.

“Eu sou o melhor de todos”, afirmou Usain Bolt depois de vencer seu nono ouro no revezamento 4x100 metros, mas ele tinha de dividir o título com Michael Phelps e suas costas de golfinho, a épica Katie Ledecky, o cata-vento humano Simone Biles, e um titânico time de basquete americano feimino que ganhou seis partidas seguidas rumo ao ouro.

Não apenas os grandes serão relembrados. Alguns permanecerão na memória pelo que disseram ou fizeram, por sua eloquência. “Toda vez que você bate em alguém, está destruindo seus sonhos, então é um processo árduo”, disse o boxeador britânico vencedor do ouro, Nicola Adams. A lutadora olímpica Helen Maroulis disse que ela “simplesmente não queria olhar para Golias e ficar assustada”.

Mas talvez palavras nenhumas foram tão impactantes como aquelas de Abbey D’Agostino para Nikki Hamblin, da Nova Zelândia, após tropeçarem no calor dos 5 mil metros: “Levante, levante, temos de terminar isso”.

Os 10 mil atletas e os brasileiros são os redentores dos Jogos. E, no entanto, eles carregaram o maior fardo e foram os menos recompensados por seus esforços, enquanto o COI desfilava por almoços de bufês com os bolsos cheios com o dinheiro das receitas.

O COI precisa de um novo modelo, um que rode os Jogos por cidades que já tenham os locais preparados. É hora de terminar esses gigantes atropelos com os custos. Se o COI realmente quer mostrar ao mundo que seu “movimento” tem mais valor que a revenda de ingressos, poderia começar mergulhando em sua inchada conta bancária e oferecer ao Rio apoio para as Paralimpíadas. É hora de o COI se tornar alguém que dá mais do que toma.

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