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Rafaela Silva mostra o ouro para a torcida, que a empurrou na conquista na Rio-2016 | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Rafaela Silva mostra o ouro para a torcida, que a empurrou na conquista na Rio-2016| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Nos tatames do Rio de Janeiro não tem para ninguém. Quem manda é Rafaela Silva, campeã mundial em 2013 e agora olímpica na sua própria cidade, única judoca brasileira a conquistar as duas competições. “O Rio é onde eu mais tenho confiança para lutar”, crava a lutadora, nascida e criada em Cidade de Deus, subúrbio carioca retratado no filme de mesmo nome do diretor Fernando Meirelles.

Na tarde desta segunda-feira (8), Rafaela conquistou o primeiro ouro do Brasil na Rio-2016, ao vencer na final da categoria leve (até 57 kg) a número 1 do mundo, a mongol Sumiya Dorjuren. A carioca se tornou a segunda judoca do país a ter o ouro e manteve a tradição de o Brasil chegar ao pódio da modalidade em todos os Jogos desde Los-Angeles-1984.

Se na conquista do Mundial a torcida foi determinante para Rafaela reverter a desvantagem que a desclassificaria já na segunda luta, na Olimpíada, antes mesmo de entrar no tatame da Arena Carioca 2, no Parque Olímpico da Barra, ela já sabia que tiraria disso ainda mais força para buscar o ouro.

“O primeiro dia da Olimpíada assisti na TV e já achei diferente. Mas domingo vim assistir às lutas ali da arquibancada e senti o ginásio tremer de tanto barulho que a torcida fazia. Aquilo me deu vontade de pular na hora e lutar”, afirma a mais nova campeão olímpica.

Mas antes de aplicar o wazari que garantiu o ouro com apenas um minuto de luta na decisão, Rafaela teve que dar vários golpes na sua baixa auto-estima. Na Olimpíada de Londres-2012, após ser desclassificada por agarrar a calça da adversária - golpe que meses depois passaria a ser legal -, a judoca foi vítima de racismo. Pelo Twitter, foi chamada de macaca.

“Pude mostrar às pessoas que disseram que eu deveria estar numa jaula que tenho condições de estar entre as melhores da minha categoria. E se eles falaram que eu era uma vergonha para minha família, agora posso dar essa medalha para eles [os pais e irmãos]”, enfatiza a lutadora.

Depressão

Aliados às ofensas racistas, os maus resultados dos últimos dois anos também por pouco não fizeram com que Rafaela abandonasse o esporte. Quinta colocada no Mundial de 2014 e desclassificada na primeira fase da disputa de 2015, a judoca entrou em depressão. O acompanhamento psicológico foi o que a fez seguir nos tatames.

“A psicóloga me fez uma pergunta bem simples: se eu me imaginava fora do judô. Aí caiu a ficha que o judô é minha vida e que eu tinha que voltar a treinar”, ressalta Rafaela, que começou no esporte com 5 anos.

Para acalmar o comportamento agressivo da filha, os pais botaram a menina para treinar numa academia improvisada em Cidade de Deus. O salto para a carreira foi quando Geraldo Bernardes, técnico de Flavio Canto, judoca bronze em Atenas-2004, viu potencial na garota. Rafaela foi levada para treinar no Instituto Reação, comandado por Canto e Bernardes, que ensina judô a crianças em comunidades carentes.

“A gente não tem muitos objetivos na Cidade de Deus, porque lá não tem muita coisa para fazer. Mas hoje mostrei que toda criança que tem um sonho pode realizar. Nem que demore e tenha dificuldade, como foi comigo”, reforça a campeã olímpica.

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