A Cerimônia de Abertura da Olimpíada do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (5), às 20 horas, no Maracanã, terá a cara do Brasil. No bom e no mau sentido.
Trabalhando com orçamento curto para o tamanho do show – o valor não foi revelado, mas é bem inferior ao de Londres-2012, por exemplo –, a equipe de produção foi obrigada a improvisar para tentar impressionar o mundo inteiro. O jeitinho brasileiro e a “arte da gambiarra” estarão presentes em cada momento do espetáculo de 3h37min, que tratará de temas como meio-ambiente, diversidade, tolerância e, principalmente, a alegria do povo do país.
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“Nosso recurso é muito menor do que qualquer outra cerimônia. A projeção é o único recurso de alta tecnologia que temos”, revela o diretor e produtor de cinema Andrucha Waddington, integrante do núcleo criativo da abertura da Rio-2016.
OS TEMAS DA ABERTURA
A abertura da Rio-2016 terá três assuntos principais. Saiba quais são eles:
Jardim
O Brasil é tratado como o último grande jardim natural do planeta. A ideia é mandar um recado para o mundo, já que a questão do meio-ambiente ainda é mais teórica do que prática, na visão dos produtores do show.
Diversidade
A intenção é mostrar os diversos povos e cultura que fazem o Brasil e que aqui há tolerância. Um muçulmano pode se sentar à mesa com um judeu e um católico para brindar, por exemplo.
Alegria
O jeito de ser e o calor humano serão abordados nessa parte do espetáculo. “Mostrar que vale a pena ser legal, sem apontar o dedo para ninguém”, explicam os produtores.
“Tivemos de fazer mais com menos. É a gambiarra criativa. Tem Saara pra cacete na abertura”, acrescenta o diretor de cerimônia Leonardo Caetano, citando o tradicional ponto de comércio carioca, onde é possível encontrar produtos de diversas naturezas com preço popular.
Os 50 mil metros de tecido utilizados na apresentação, por exemplo, foram comprados logo ali, a apenas cinco quilômetros do Maracanã.
POEMA BILÍNGUE
Em determinada parte da cerimônia, a atriz Fernanda Montenegro, 86 anos, fará a leitura de um poema em português. A versão em inglês será interpretada pela atriz britânica Judi Dench, 81, em vídeo previamente gravado.
Além de recursos escassos, o próprio estádio também foi um desafio para a criatividade dos produtores. Após a reforma para a Copa do Mundo, os portões ficaram com altura máxima de quatro metros, situação que inviabilizou a utilização de carros alegóricos e até mesmo a montagem de um palco no campo. Assim, o show acontecerá na altura do gramado, que será coberto com um piso de proteção.
“Não temos com que fazer, mas temos que fazer. Então faremos. É macgyverismo”, brinca a cineasta Daniela Thomas, em referência ao seriado dos anos 80 ‘MacGyver: Profissão Perigo’, onde o personagem resolvia situações com a ajuda de objetivos ordinários, como um canivete.
“Mas não é algo sacrificante. Gambiarra rocks [é demais]. É pura maravilha”, ressalta a diretora criativa.
Para o presidente interino Michel Temer, contudo, a abertura dos Jogos não deve ser tão maravilhosa assim pelo menos do ponto de vista político. Os produtores negaram veementemente que haverá uma operação para abafar possíveis vaias com música do sistema de som.
Como já é tradição no país, Temer dificilmente escapará dos apupos do público – ao todo, serão aproximadamente 50 mil espectadores. No Pan-Americano de 2007, no Rio, Lula foi vaiado no Maracanã. O mesmo aconteceu com Dilma Rousseff na abertura da Copa das Confederações de 2013, no Estádio Nacional de Brasília, e também no jogo inaugural da Copa do Mundo de 2014, no Itaquerão, em São Paulo.
Outro desmentido foi sobre uma cena onde a Garota de Ipanema, que seria interpretada pela modelo Gisele Bündchen, sofreria um assalto.
“Planejamos por dois anos esta cerimônia e nunca ouvimos nada sobre isso. Quem deu essa informação é mais criativo e mais informado do que nós”, ironizou o cineasta Fernando Meirelles, também responsável pela criação do espetáculo.
Meirelles, diretor do filme candidato ao Oscar Cidade de Deus, evitou contar os segredos da apresentação, mas garante que o produto final vai agradar. Quem sabe, pode ser o ponto de partida para Cidade Maravilhosa finalmente abraçar a Olimpíada.
Segundo pesquisa da Paraná Pesquisas realizada entre 27 e 31 de julho com 900 pessoas, no Rio, 75,8% dos entrevistados estão pouco ou nada interessados na competição. Outros 79,3% acreditam que a cidade ainda não está preparada para sediar o evento, enquanto 58,8% pensam que os Jogos trarão mais prejuízos do que benefícios.
“Atenas teve uma abertura clássica. A de Pequim foi grandiosa. Já Londres teve um show esperto, smart. A nossa será cool [legal]”, prevê o diretor, que jura não saber quem acenderá a pira. A surpresa será revelada nos últimos minutos, mas o mais provável é que Pelé, que revelou ter sido convidado, seja mesmo o último a conduzir o fogo olímpico.