O jovem Che desbravou a América Latina na luta por um ideal. Não, não estamos falando de Ernesto Guevara de la Serra, mas de uma figura olímpica. Ou melhor, figuraça. Treinador de basquete desde os 24 anos de idade, Néstor “Che” García saiu de sua Argentina e rodou durante 27 anos por Porto Rico, México, Uruguai e Brasil (o.k., teve uma ida ao Qatar) para então chegar a sua primeira Olimpíada como comandante do time masculino da Venezuela.
Um cara nervoso, daqueles que dão espetáculo à beira de quadra (“A cada ano ficou mais louco’’, diz), ele ganhou a amizade do presidente Nicolás Maduro. Não é para menos. Desde que assumiu, em 2013, foram dois títulos do Sul-Americano (2014 e 2016) e a Copa América (2015). No torneio disputado no México, surpreendeu os times do Canadá e da Argentina, ambos recheados de jogadores da NBA, para conseguir a vaga olímpica.
Seria Che um revolucionário do basquete? “Não... Um trabalhador”, corrigiu Che, em entrevista ao GLOBO. “Ele (Maduro) me trata como um rei, está muito agradecido pelo momento do basquete. Ele gosta, recebe o time, sempre dá premiação. Há quatro anos que nossas preparações são 40, 50 dias na Europa.”
Ele diz que quando Maduro recebe jogadores, o clima é sempre de descontratação de um presidente falante.
Mas a amizade esteve em xeque. Em junho, o voo para a Lituânia tinha quatro escalas (Espanha, França, Alemanha e Letônia), e os jogadores se queixaram pelo Twitter. Foi lembrado que o Ministério dos Esportes banca voos fretados para a seleção de futebol.
Os irmãos Gregory e José Vargas, algumas das vozes mais fortes nos protestos, estão no Rio. Embora diga não dar palpites políticos, Che defende o governo: “Na Venezuela tem liberdade de expressão. Se eles quiserem falar, podem falar”.
Além de figuraça, Che é um fumante inveterado. Ao chegar para seu primeiro treino no Parque Olímpico, na noite da última segunda-feira (1º.), tirou dois maços do bolso na hora de ser revistado. E do Marlboro vermelhão. Ele diz que é para relaxar depois de aturar seus comandados, mas tem a simpatia dos jogadores.
“Nós o amamos”, disse o ala John Cox. “Ele é emotivo, bota o coração no jogo”.
Passagem pelo Brasil
Em suas andanças, Che pisou no Brasil. Foi no Minas Tênis na temporada 2010/2011. Lá, trabalhou com dois jovens que estão na seleção: Raulzinho e Cristiano Felício, ambos então com 19 anos.
“Eles já falavam que jogariam na NBA. Merecem porque trabalharam para isso. São jogadores de primeiro nível, estão acostumados a ginásio lotado. Saíram de casa cedo, deixaram a família. Isso é pressão, jogar basquete é prazer”, filosofou.
Che monta seus times pela defesa. Na Copa América do ano passado, a Venezuela foi derrotada quatro vezes em dez jogos, mas nunca sofreu 80 pontos. No ataque, Greivis Vásquez, único venezuelano na NBA, não foi liberado pelo Brooklyn Nets e fará falta. Ainda assim, o time busca uma vaga na segunda fase.
O desafio começa sábado, contra a Sérvia. “Hasta la victoria siempre”, mandou avisar.
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