Exército faz simulação de ataque terrorista na estação de trem no Rio de Janeiro.| Foto: Luciano Belford/Frame Photo/Folhapress

Agentes de inteligência de cerca de cem países vão se integrar à Polícia Federal, no Rio de Janeiro, na próxima semana, para acompanhamento e troca de informações sigilosas sobre terrorismo, dando início, efetivamente, à segurança da Olimpíada já em solo carioca.

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Além de tanques nas ruas e caças para o abate de aeronaves que desrespeitarem as zonas de exclusão aérea, autoridades estudam outras medidas mais drásticas. Uma delas poderá atingir em cheio o dia a dia de quem estiver próximo às instalações olímpicas: o bloqueio do sinal de celulares. Prática comum em todo o mundo durante a segurança de autoridades, como ocorreu no Rio, na visita do presidente americano Barack Obama, em março de 2011, à Cidade de Deus. No comboio da comitiva americana, um dos veículos vinha dotado do equipamento que permitia o bloqueio em áreas restritas. Segundo o secretário Extraordinário de Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça, Andrei Rodrigues, o bloqueador já está disponível.

“Nós temos essa ferramenta, mas não podemos bloquear o sinal indiscriminadamente, só porque alguém pode acionar uma bomba. Além do bom senso, temos que ter informações precisas que levem à necessidade do emprego desse equipamento. Não é a nossa única medida. Também temos outras, como armamento pesado, aeronaves, grupo tático, central de inteligência. A gente vai usando à medida que há necessidade”, explicou o secretário.

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Informação

Mas a maior arma da segurança é, sem dúvidas, a informação. O atentado em Nice, na França, semana passada, quando um caminhão foi usado para matar 84 pessoas e ferir dezenas, que participavam da festa do Dia da Queda da Bastilha, numa área restrita, provou que o serviço de inteligência francês falhou nesse item. Também mostrou que os bloqueios na rua não foram eficientes para impedir a entrada do veículo. O fato fez com que o secretário revisasse o planejamento de segurança nas áreas dos Jogos.

“Constantemente revisamos os planos de operação. Isso é um dos pilares do planejamento de segurança. Não fizemos modificações, apenas acrescentamos mais informações, em decorrência dos acontecimentos em Nice. Temos vários bloqueios, mas destaco dois em especial, localizados em áreas onde apenas veículos credenciados podem passar. Vai depender da geografia de cada região. A 500 metros das instalações dos Jogos, o acesso será só para a família olímpica, ou seja, os atletas, ou veículos de segurança. Em alguns casos, será permitido aos moradores que residem próximo às arenas que cheguem às suas casas. Ainda que credenciados, estes veículos não acessam os locais dos eventos esportivos”, explicou o delegado da Polícia Federal Andrei Rodrigues, à frente do planejamento.

Segundo ele, na segunda barreira, os carros credenciados da família olímpica e das forças de segurança irão para a área de escaneamento de veículos. Esse bloqueio é justamente para aqueles que irão acessar o Parque Olímpico, por exemplo.

“As pessoas desembarcam, mas vão ter credenciais especiais. Os carros são escaneados, assim como as bagagens deles. Só é permitida a entrada até a área de estacionamento. Depois disso, haverá um novo controle para acesso às arenas”, explicou.

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Restrição

Desde segunda-feira, o Rio também adotou outra medida importante na circulação de veículos: a restrição à entrada de caminhões na Avenida Brasil, na Linha Amarela e na Linha Vermelha, que vai vigorar até o fim de setembro. Essa medida, que tinha como objetivo inicial melhorar o trânsito, acabou sendo agora um importante fator para reduzir a quantidade de veículos de carga na cidade durante a Olimpíada, depois do episódio em Nice.

O ataque de um jovem armado com um machado e uma faca, ferindo quatro passageiros num trem na Baviera, na Alemanha, também serviu de alerta para as autoridades que planejam a segurança da Olimpíada. O Estado Islâmico reivindicou a autoria do atentado.

“É inesgotável a possibilidade de instrumentos que podem ser usados para cometer delitos. Amanhã vai um louco com um pedaço de pau. Temos que analisar todas as hipóteses. Não temos compromisso com erros. O que tivermos que ajustar, faremos de imediato. Estamos no mais alto nível de preparação. Se o nível é cinco, nove ou 20, eu não sei, mas é a melhor preparação em segurança que já foi feita no Brasil”, disse o secretário.

Para Rodrigues, as reuniões com os agentes de inteligência de vários países são imprescindíveis para a análise de informações, principalmente relacionadas a supostas ações do EI: “Temos na cooperação internacional um pilar muito forte para o planejamento da nossa segurança.”

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Confiança

O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, também está confiante no esquema de segurança. Ele afirmou hoje que o Brasil se mantém no patamar de “probabilidade absolutamente mínima” de ser alvo de ataques terroristas.

“ Eu repito o que venho dizendo: não temos hoje probabilidade de atentato terrorista na Olimpíada. A possibilidade sempre existe, como existe no mundo todo. Exatamente por isso, trabalhamos 24 horas por dia nesse monitoramento, nessas análises, na troca de informações. A população pode ficar tranquila que tudo o que é possível em termos de inteligência, de monitoramento, de rastreamento está sendo feito no Brasil.”

Dentro do esquema de preparação para os Jogos, cariocas têm assistido, nos últimos dias, a vários exercícios militares. Na terça (19), ao meio dia, quem passou pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão começou a ter uma ideia da segurança aeroportuária que será utilizada a partir do dia 24. A simulação envolveu 1.200 agentes da Polícia Federal nas áreas internas e externas do aeroporto. Participaram do treino equipes de patrulhamento com cães da K-9 e do Batalhão de Policiamento com Cães, além dos 200 policiais da Aeronáutica que farão o patrulhamento ostensivo do principal ponto de chegada de turistas e delegações.

Na parte externa do aeroporto, era possível ver um grupo de agentes federais e soldados da Força Aérea, que realizavam o policiamento ostensivo nos saguões de embarque e desembarque e nos acessos aos terminais. A professora de inglês Libni Meireles, que teve a mala cheirada por um dos cães, contou que viveu experiência semelhante durante os jogos de Londres.

Também houve exercícios militares na Baía de Guanabara e no Aterro do Flamengo envolvendo cerca de mil fuzileiros navais e outros militares. Eles simularam um cerco do monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial e uma manobra de isolamento do aeroporto Santos Dumont.

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