Ao contrário dos atletas, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) não acredita que a redução de investimento das empresas estatais no esporte após a Rio-2016 vá atrapalhar de forma sensível a preparação no ciclo olímpico para Tóquio-2020.
Para o diretor executivo do COB, Marcos Vinícius Freire, como a principal fonte de financiamento do esporte olímpico no país vem de leis – Agnelo Piva, Bolsa Atleta e Bolsa Pódio. Portanto, não deve haver mudanças substanciais.
Freire afirma ainda que a partir da Rio-2016 houve um aumento maior de empresas privadas em patrocinar atletas e confederações. E o resultado alcançado por alguns deles na Olimpíada deve aumentar o repasse e até trazer mais de patrocinadores que não sejam as estatais. Há ainda o investimento das Forças Armadas, dentro do Programa de Atletas de Alto Rendimento, financiado pelos ministérios da Defesa e dos Esportes.
“A saída de um ou outro [patrocinador] não vai abalar o esporte olímpico. Hoje não temos mais a dependência de apenas um patrocinador”, enfatiza o dirigente do COB. “As confederações que fizeram um bom trabalho vão continuar com seus patrocínios privados porque deram uma boa resposta. A grande maioria das empresas privadas vão seguir com seus patrocínios”, confia o dirigente.
Só o Bolsa Atleta - maior programa de incentivo ao esporte do governo federal – beneficiou 77% da delegação nacional na Rio-2016. Mesmo assim, o projeto será revisto.
Já Correios e Petrobras, duas das principais patrocinadoras do esporte olímpico, anunciaram que vão reavaliar seus programas de patrocínio após o encerramento da Olimpíada. A possibilidade de cancelamento dos programas é grande. Os Correios investiram R$ 151,5 milhões entre 2012 e 2016 nas confederações de esportes aquáticos, handebol e tênis. Já a petroleira repassou R$ 45 milhões entre 2013 e 2016 às confederações de boxe, esgrima, levantamento de peso, remo e tae kwon do, além de contratos individuais com 24 atletas. Entre eles, três medalhistas da Rio-2016: o canoísta Isaquias Queiroz (duas pratas e um bronze) e os judocas Mayra Aguiar e Rafael Silva (um bronze cada um).
R$ 1,4 bilhão = 10% de crescimento
Após receber investimentos na casa de R$ 1,4 bilhão nos últimos quatro anos e ficar abaixo da meta de conquistar pelo menos o décimo lugar no quadro geral de medalhas, o COB considerou “extraordinária” a participação do Time Brasil nos Jogos do Rio. O País encerrou a competição com 19 medalhas e o 12º lugar na soma total de pódios. Em Londres-2012, o Brasil havia conquistado duas medalhas a menos.
O baixo crescimento – de cerca de 10% – não pode ser creditado à falta de investimentos nos últimos quatro anos. No total, o COB recebeu cerca de R$ 700 milhões em repasses através da Lei Agnelo-Piva, e o montante dobrou com a injeção de recursos de patrocinadores privados. No ciclo olímpico anterior, entre os Jogos de Pequim e Londres, o orçamento da entidade foi 50% inferior – o COB recebera R$ 390 milhões em leis de incentivo e o praticamente o mesmo valor em patrocínios.
“A meta (de ser Top 10) foi difícil e ousada, mas era factível. Tanto se mostrou que era factível que ficamos três medalhas abaixo do necessário. Os (países) que ficaram na frente estão há vários quadriênios com o investimento que tivemos agora”, afirmou Marcus Vinicius Freire, diretor executivo de Esportes do COB.
Presidente do comitê, Carlos Arthur Nuzman não pareceu muito à vontade quando o assunto era a meta não atingida. Ao ser lembrado que outros países que sediaram Jogos Olímpicos tiveram um salto de conquistas muito maior, ele rebateu menosprezando a situação da Grécia (sede dos Jogos de 2004, em Atenas) e, sobretudo, da Espanha (que sediou a Olimpíada de 1992, em Barcelona).
“Eu acho que a Espanha fez Olimpíada também, a Grécia fez Olimpíada também. O objetivo não é meramente numérico, ele é num todo. E ao ter esse objetivo num todo ele tem que abranger um legado que vai ficar no futuro”, ponderou Nuzman.
Pouco depois, ele voltou à mesma questão e, apesar de a Espanha ter conquistado o mesmo número de ouros do Brasil nos Jogos do Rio, considerou que o país europeu não pode ser considerado uma potência olímpica.
“Se falou muito na Espanha, mas não que a Espanha depois de Barcelona-1992 tivesse melhorado. Ao contrário, ela caiu em número de medalhas. Eu não quero que transformem a Espanha por causa do Nadal ou por causa do basquete num grande país olímpico que não o é”, disse o dirigente.
A delegação do Brasil neste ano foi a maior da história e chegou a 465 atletas. Contou muito para o número inchado o fato de a disputa ter sido no País e o Brasil ter vagas garantidas. Na avaliação do COB, o Time Brasil poderia ter até 90 atletas a menos se a competição tivesse acontecido em outro lugar.