A forte suspeita de uma proliferação de uma grave doença contagiosa entre cavalos do Exército em Deodoro tem levado apreensão aos meios militares e ao governo federal, além de preocupação ao comitê Rio 2016, que organiza daqui a duas semanas o evento-teste de hipismo para as Olimpíadas. Depois de dois casos positivos, está sendo feita uma varredura em todos os mais de 500 cavalos do Exército que ficam em Deodoro, que tiveram sangue coletado. O resultado dos exames nos próximos dias.
O mormo é uma doença causada pela bactéria Burkholderia Mallei, altamente contagiosa e letal para cavalos — quando um animal tem diagnóstico positivo, o sacrifício é inevitável. A doença é uma zoonose tida como “silenciosa”, pela ausência de sintomas externos: a bactéria provoca secreções e nódulos em áreas como mucosas nasais, gânglios linfáticos e pulmões. O contágio se dá através de contato com material infectado, como urina, fezes, ou mesmo água compartilhada pelos cavalos. Embora seja mais raro, o mormo também pode ser contraído pelo homem.
As condições sanitárias do Centro Olímpico de Hispimo, em Deodoro, são um dos principais pontos a ser avaliados por observadores da Federação Equestre Internacional (FEI) no evento-teste que começa no dia 6 de agosto. A área de competição olímpica está isolada há seis meses, como manda o protocolo internacional, e os cavalos do Exército foram levados em fevereiro para pontos vizinhos, também em Deodoro.
Governo quer certificado da OMS
A possível constatação de que o mormo está espalhado em áreas vizinhas à competição olímpica de hipismo terá grande repercussão negativa com vistas aos Jogos Olímpicos. No evento-teste, só haverá cavalos nacionais competindo, e eles hoje estão também em condição de isolamento em Barretos (SP).
Entre proprietários de cavalos e militares, os rumores de sacrifício de dezenas de animais que aconteceria hoje levou preocupação. O Exército nega que já haja novos resultados positivos.
— Claro que preocupa. Mas posso garantir que não há nenhum sacrifício previsto, por enquanto. O resultado dos exames não está pronto, é preciso aguardar — garantiu o coronel Paulo Cezar Crocetti, comandante do Regimento Andrade Neves e interlocutor do exército para esta questão com o Ministério da Agricultura.
Nos últimos dias, o ministério e o exército montaram uma força-tarefa para uma varredura completa não só nos cavalos pertencentes à força, mas também de vários outros haras do Rio. Como muitos cavalos do Exército disputam competições de hipismo regularmente, há contato com centenas de outros animais. O objetivo do governo federal é que Deodoro conquiste o status de “Risco Insignificante para Doença de Equídeos”, chancela concedida pela Organização Mundial de Saúde Animal.
Em abril, houve o primeiro caso relacionado a Deodoro: um cavalo da PM do Espírito Santo que esteve no Rio até o fim de 2014 testou positivo, o que estendeu a investigação a outros animais com os quais teve contato. Dois cavalos do exército ficaram sob suspeita e um deles também deu positivo, mais recentemente. Estes dois cavalos estão isolados na Ilha de Cananeia, em São Paulo. A partir daí, ampliou-se a varredura para os demais cavalos.
Diagnóstico polêmico
O mormo é uma doença que durante décadas pouco apareceu no Brasil, tendo ficado restrita a poucos casos no Nordeste. Nos últimos anos, porém, vem reaparecendo, trazendo consigo uma polêmica sobre seu diagnóstico.
Donos de cavalos afirmam que a tecnologia feita em laboratórios brasileiros é ultrapassada e ineficiente. A explicação é que os testes se baseiam na alta presença do anticorpo que combate a doença, e não diretamente na identificação da bactéria. E que anticorpo também é produzido para combater outras bactérias, o que fragilizar o diagnóstico do mormo.
O ministério da Agricultura não respondeu até a noite de ontem sobre os casos já identificados, as suspeitas e a deficiência do diagnóstico. O comitê Rio 2016 diz que confia no isolamento sanitário do Centro Olímpico e que não comentará antes de haver novos casos confirmados.
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