O espanhol Jesús Morlán, técnico da seleção brasileira de canoagem de velocidade, é obcecado por números.
“O tempo é em segundos. A velocidade, em metros por segundo. O batimento cardíaco também é um número, assim como a frequência de remadas. Os treinamentos são números. E quanto mais você os domina, mais possibilidade de sucesso”, ensina o espanhol de 48 anos, ex-professor de matemática, biologia e geografia, que com esse raciocínio se tornou um dos maiores nomes da canoagem, detentor de um ouro e quatro pratas olímpicas treinando o conterrâneo David Cal, maior medalhista olímpico da Espanha.
A paixão por estatística, aliada à capacidade didática que herdou dos tempos em que lecionava, transformou um esporte de pouca tradição no Brasil em esperança de medalha na Olimpíada Rio-2016. Desde quinta-feira (27), Morlán está em Curitiba acompanhando o Campeonato Brasileiro da modalidade, que vai até domingo (30), no Parque Náutico do Iguaçu.
Idade não atrapalha Isaquias Queiroz na busca pelo pódio na Olimpíada do Rio
Leia a matéria completaSuso, como é chamado, assumiu a seleção permanente em abril de 2013. Desde então, soma seis medalhas em Mundiais e nove no Pan-Americano de Toronto. Todas fruto de um trabalho rígido e sistemático.
Cada treino e cada folga até a Olimpíada já estão programados. “Nunca vi treinador assim. Seu profissionalismo é surpreendente”, confirma o baiano Isaquias Queiroz, 21 anos, dono de três títulos mundiais, dois ouros em Pans e grande esperança nos Jogos.
“Antigamente sabíamos o que faríamos amanhã, talvez depois de amanhã. Agora sabemos quando vamos para casa. Tudo está programado: treino de força, de água, corrida. Sem falar na capacidade técnica dele, que aceitou vir ao Brasil pelo desafio de ganhar uma medalha olímpica”, continua Isaquias.
“O Morlán não fica só no ‘caderninho mágico’. Ele confere análises sanguíneas, biomecânicas. Tem treinador da moda antiga que recebe tudo isso e não usa”, atesta Sebástian Cuattrin, maior vencedor da modalidade no Brasil, com 11 pódios em Pans, atualmente gerente da canoagem do Comitê Organizador da Rio-2016.
“Hoje somos protagonistas. Ninguém mais quer cruzar com os brasileiros. Mas precisamos confirmar o favoritismo com medalha”
Pelo objetivo olímpico, Morlán confinou a seleção em Lagoa Santa, cidade mineira de 52 mil habitantes, para completar a última parte do ciclo olímpico. Lá, desde dezembro de 2014, ele divide casa com os atletas Nivalter Santos, Ronilson Oliveira e Erlon Silva, além de Isaquias. Mas engana-se que a manutenção do foco foi o único motivo pela escolha do quartel-general. Tudo foi calculado.
“Queria garantir as mesmas condições meteorológicas do Rio. Apesar de a cidade ser pequena, estamos a 20 minutos de Belo Horizonte, a dez do Aeroporto de Confins, que nos leva tanto para a América quanto para a Europa”, lista o metódico treinador, que orgulha-se por ter ajudado a mudar o status brasileiro para o esporte.
Antes, de acordo com o espanhol, os atletas do Brasil eram vistos como inofensivos. Eram até ridicularizados pelos rivais. “Hoje somos protagonistas. Ninguém mais quer cruzar com os brasileiros. Mas precisamos confirmar o favoritismo com medalha”, cobra.
Ao explicar as marcas do pupilo David Cal, Morlán também não foge aos números. “Ele ganhou muitas medalhas em campeonatos europeus e mundiais e ninguém sabia. Mas todos sabem que ele ganhou cinco medalhas olímpicas”, diz.
Se não conquistar medalha em 2016, Suso não continua o trabalho no país. Mas vai deixar um legado. “Tudo que o time faz é enviado à Confederação e ao Comitê Olímpico. Mando um monte de arquivos todo fim de semana. Dá trabalho ler, são muitos números. Mas se gostarem do esporte, vão ler com gosto.”
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