Principal polêmica da delegação brasileira no Pan de Toronto-2015, a continência voltará ao pódio da Rio-2016.
FOTOS: conheça alguns atletas-militares
Dos Jogos de 2012 para 2016, o número de atletas militares no Brasil quase triplicou. De 51 em Londres, os esportistas das Forças Armadas foram para 145 no Rio. Efetivo que é 31% do total de 465 atletas da equipe nacional e que tem meta de conquistar dez medalhas em 27 modalidades.
Domingo (31), o jogador de hóquei sobre a grama Bruno Mendonça, sargento da Aeronáutica, foi o primeiro a prestar continência na Rio-2016, na execução do hino no hasteamento da bandeira do Brasil na Vila Olímpica. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) não se opõe à manifestação militar na premiação de medalhas e os atletas são orientados por seus oficiais nos quartéis a fazê-lo. Mendonça é um dos competidores que vai estrear em Olimpíadas e que contribuiu para que as Forças Armadas superassem em 45% a meta de 100 atletas no Rio.
Durante os Jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2015, atletas brasileiros bateram continência no pódio, durante a cerimônia de premiação. Contratados com apoio financeiro pelas Forças Armadas do Brasil, eles deixaram a dúvida se havia uma obrigatoriedade no gesto. Todos negaram, mas contaram que havia uma recomendação.
A maioria, 141, são competidores do Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR) das Forças Armadas, que, por um acordo entre os ministérios da Defesa e do Esporte, incorpora esportistas de ponta aos quadros do Exército, Marinha e Aeronáutica.
Todos entram no PAAR como terceiro sargento, o que garante soldo de R$ 3,1 mil. A permanência nos quadros militares é de no máximo oito anos, sem possibilidade de ascensão de patente.
Nesse contexto, estão atletas como o ginasta campeão olímpico Arthur Zanetti, da Aeronáutica, a atleta do pentatlo Yane Marques, bronze em Londres-2012 e que vai conduzir a bandeira do Brasil na abertura dos Jogos, bem como a jogadora paranaense de vôlei de praia Ágatha e a judoca Mayra Aguiar, ambas da Marinha e cotadas ao ouro.
A esgrimista Amanda Simeão, 22 anos, incorporada ao Exército ano passado, explica que, além de representar a corporação em competições militares e civis, como a Olimpíada, os atletas do PAAR devem uma vez por ano se apresentar na Escola de Educação Física da Urca, no Rio, para treinos militares.
“Não nego que chorei quando tive de matar uma galinha e beber o sangue para me alimentar no meu primeiro treino”, admite a esgrimista, que vê muito em comum entre a vida de atleta e militar. “A disciplina é a mesma. Então para mim não é difícil acordar cedo e ter horários rígidos para tudo”, diz ela, que chegou a recusar um convite da revista Playboy por causa da condição de militar.
Já o atirador paulista Felipe Wu, 24 anos, viu no PAAR a chance de seguir treinando e realizar o sonho de ser militar. Antes de entrar no programa, Wu tentou concurso na Academia dos Agulhas Negras do Exército e na Academia da Aeronáutica. “Graças ao Exército, pude treinar no meu esporte”, afirma o atirador. Ele se refere ao fato de, como militar, ter podido comprar a pistola com que compete antes de completar 25 anos, idade mínima por lei para aquisição de arma.
De carreira
As exceções aos integrantes do PAAR entre os atletas fardados são quatro.Além de Mendonça, que ingressou na Aeronáutica como soldado em 2003, os outros são três oficiais do tiro esportivo: o major paranaense Cássio Rippel e o tenente-coronel Emerson Duarte, do Exército, e o coronel da Aeronáutica Julio Almeida. “Aqui temos um clima mais informal, de coleguismo de seleção brasileira”, diz Rippel sobre o fato de Wu, companheiro na equipe de tiro, mas seu subalterno no Exército, não precisar prestar continência para ele na Olimpíada.
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