Robson Conceição sabe muito bem que o caminho até o pódio olímpico não é suave. Ao contrário.
O boxeador segurava um pacote de gelo do lado esquerdo do rosto – inchado e com dois cortes pequenos – ao conversar com a imprensa no Pavilhão 6 do Riocentro no início da tarde deste domingo (14). Minutos antes, o baiano de 27 anos derrotou por decisão unânime o atual bicampeão mundial Lázaro Jorge Alvarez, de Cuba, resultado que o colocou na final da categoria leve (até 60 kg) da Rio-2016.
Para garantir no mínimo a medalha de prata, contudo, o pugilista sofreu incontavelmente mais do que com os potentes golpes do cubano. A final será terça-feira, às 19h15, contra o francês Sofiane Oumiha.
“Meus amigos na Bahia estavam me batendo muito [nos treinamentos]. O [Malvedio] Neto, Alisson [Silva], Rafael [dos Santos], estavam me espancando bastante, cara. Indo para cima de mim, sem medo, com determinação de me ajudar”, conta Robson, natural de Salvador.
A obsessão pelos treinos é uma das características do pugilista, garante o treinador Luiz Dórea, formador da medalhista de bronze em Londres-2012 Adriana Araújo e também do campeão mundial Acelino Popó Freitas.
O baiano de 1,75 m, que começou a treinar na academia Champion aos 15 anos de idade, pede para fazer mais sessões de sparrings do que o planejado. Implora para continuar a série de tiros de 200 m ladeira acima.
Se estão programadas oito vezes, ela faz dez. “Quer ser sempre o mais rápido, o mais forte. Ele vive para ser atleta. Treina, se alimenta e descansa com a família. É muito focado”, conta o técnico, quem também trabalha com lutadores de MMA como Anderson Silva e Junior Cigano.
“Estou emocionado, mas nem um pouco surpreso. Em nossas conversas ele diz que vai fazer história”, completa Dórea.
Para o próprio lutador, a ficha ainda não caiu. Nos Jogos de Pequim, em 2008, e Londres, em 2012, enfrentou duas grandes decepções ao ser eliminado na primeira fase.Passou a treinar ainda mais e obteve, no último ciclo olímpico, alguns de seus melhores resultados.
No Campeonato Mundial, por exemplo, foi segundo colocado (2013) e terceiro (2015). Já nos últimos Pan-Americanos de Boxe (2013 e 2015) subiu duas vezes ao lugar mais alto do pódio.
“Todas as lutas são muito difíceis, todos estão bem preparados. Porém, acho que treinei muito mais do que eles e essa é a hora de buscar mais”, pensa o lutador, que contou com apoio maciço da torcida durante a luta e gritou ‘é campeão’ depois do anúncio da vitória.
“Ainda não cai na real. Estou louco para que chegue a final e eu possa buscar o ouro”.
O duelo decisivo, na terça-feira (16), às 19h15, será contra Sofiane Oumiha, da França, que derrotou Otgondolai Dorjnyambuu, da Mongólia, por decisão unânime .
O brasileiro Michel Borges ficou perto da medalha de bronze no boxe, mas não foi páreo para o tricampeão mundial dos meio-pesados (até 81 kg) Julio Cesar La Cruz, de Cuba. Neste domingo (14), por decisão unânime, o carioca criado na favela do Vidigal foi eliminado da disputa na Rio-2016.
Mais cedo, o baiano Robenilson de Jesus foi outro atleta local eliminado. Por decisão unânime, perdeu para o americano Shakur Stevenson, nas oitavas de final do peso-galo (até 56 kg).