O jornal francês Le Monde revela suspeitas de corrupção na escolha do Brasil para os Jogos Olímpicos de 2016. Três dias antes da escolha do Rio de Janeiro como cidade sede, em 2 de outubro de 2009, uma companhia ligada ao empresário Arthur Cesar Menezes Soares Filho, apelidado de Rei Arthur, teria entregue US$ 1,5 milhão a Papa Diack , filho de Lamine Diack, então presidente da Iaaf (Federação Internacional de Atletismo) e membro influente do Cômite Olímpico Internacional (COI).
Segundo a investigação, o dinheiro teria sido usado para influenciar os votos durante a eleição da cidade-sede dos Jogos Olímpicos, em Copenhague, na Dinamarca. O pagamento, afirma o Le Monde, teria sido feito pelo grupo Matlock Capital, localizada nas Ilhas Virgens britânicas.
De acordo com a reportagem do jornal francês, trata-se de uma “triste novela” que começou com escândalos na construção de estádios e acabou com o episódio de obras olímpicas em deterioriação, entre elas o Maracanã. “O Rio teria trapaceado”, conclui a conceituada publicação francesa.
Uma investigação preliminar foi aberta na França em dezembro de 2015 pela Procuradoria Nacional Financeira, que já trabalhava sobre suspeitas de corrupção na Federação Internacional de Atletismo.
Arthur Soares já foi visto como o maior fornecedor de mão-de-obra terceirizada para o governo fluminense, sempre por intermédio de uma rede de empresas comandada pela Facility, uma empresa de serviços terceirizados como faxina e segurança. Pelos contratos, o grupo de Soares teria recebido quase R$ 3 bilhões no período.
Papa foi consultor de marketing da Iaaf e hoje está banido do atletismo, enquanto seu pai, Lamine, está preso na França sob acusação de lavagem de dinheiro e corrupção.
Rio-2016 diz que eleições foram limpas
Ouvido pelo jornal francês, o diretor de comunicações do Comitê Rio-2016, Mario Andrada, afirmou que as eleições foram limpas e lembrou que a vitória do Rio na última rodada se deu por um placar de 66 a 32, “uma vitória clara”.
COI diz confiar na inocência de auditor
As revelações sobre uma suspeita de compra de votos por parte do Rio de Janeiro no processo de definição da sede dos Jogos Olímpicos de 2016 levaram o Comitê Olímpico Internacional (COI) a garantir que confia que um de seus colaboradores denunciados é “inocente”. O auditor dos votos da escolha da sede é acusado de ter recebido dinheiro no dia da eleição.
Nesta sexta-feira, em um comunicado, o porta-voz do COI, Mark Adams, informou que a entidade “toma nota das alegações sérias feitas no jornal Le Monde relacionadas à votação para a escolha da sede dos Jogos de 2016”. O COI é parte civil no processo em Paris contra Lamine Diack.
“Continuamos totalmente comprometidos em esclarecer essa situação, trabalhando em cooperação com o procurador”, disse Adams. “Essa cooperação já levou ao fato de que Lamine Diack, que foi membro honorário do COI, não tenha mais qualquer função dentro da entidade desde novembro de 2015”, afirmou.
“O COI entrará em contato com as autoridades judiciais francesas de novo para receber informações sobre as quais a reportagem do Le Monde estão baseadas”, prometeu o porta-voz.
Apesar de garantir a cooperação, o COI informou que seu colaborador Frankie Fredericks já entrou em contato com o COI para explicar sua inocência. “O COI confia no fato de que Fredericks apresentará todos os elementos para provar sua inocência contra essas alegações feitas pelo Le Monde”, disse.
De acordo com os franceses, Papa Massata Diack transferiu US$ 299,3 mil pela empresa Pamodzi para a empresa offshore Yemli Limited, em 2 de outubro de 2009. A empresa tinha uma relação direta com Fredericks, que foi um dos monitores do COI no momento da votação nas eleições de 2009, vencidas pelo Rio.