Na primeira vez que é disputada na América do Sul, a Olimpíada ganhou tons de Libertadores e MMA. Dependendo da prova e do adversário, a torcida brasileira faz com que as arquibancadas das arenas da Rio-2016 se assemelhem a uma dessas competições.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) sentiu que a postura da torcida brasileira fugiria do padrão bem comportado das outras edições dos Jogos já na cerimônia de abertura. Quando a Argentina entrou no desfile das delegações, uma vaia tomou conta do Maracanã. E assim tem sido cada vez que os atletas do país vizinhos entram numa disputa.
O clima tem irritado alguns atletas argentinos. Os jogadores de basquete Luis Scola e Manu Ginóbili, astros da NBA e campeões olímpicos em Atenas-2004, não gostaram nada de ver os fãs de sua própria equipe provocando a torcida brasileira com citações ao vexame dos 7 a 1 para a Alemanha na Copa de 2014 na vitória de estreia contra a Nigéria. As provocações só empurraram ainda mais o público brasileiro contra a equipe portenha na partida.
“É alarmante o clima de confronto entre torcedores argentinos e brasileiros nos Jogos Olímpicos. Vamos transmitir uma mensagem de paz”
Vaia para nadadora russa
O ministro dos Esportes da Rússia, Vitali Mutko, demonstrou nesta terça-feira (9) seu apoio a sua nadadora Yulia Efimova, um dia após ela conquistar uma medalha de prata, apesar da hostilidade que encontrou por parte do público e dos rivais devido ao seu passado ligado ao doping.
Efimova, de 24 anos, que venceu uma apelação ante o Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) para poder competir no Rio, foi vaiada quando entrou na piscina e não pôde evitar as lágrimas depois de ser batida pela adolescente americana Lilly King na final feminina dos 100 metros peito.
“Acho que isso só prova que você pode estar totalmente limpa e ainda chegar ao topo”, disse King após sua vitória, depois de ter criticado mais cedo Efimova.
“Festejar os sete gols que aconteceram há dois anos de um esporte que sequer é o que estamos disputando é uma grande imbecilidade”, declarou Scola ao jornal La Nación.
Na vitória do argentino Juan Martín del Potro sobre o português João Sousa no tênis, um torcedor de cada país teve de ser expulso da quadra após trocarem socos na arquibancada.
Outra reclamação que ganha cada dia mais proporção na Rio-2016 é a de atletas que disputam provas que exigem silêncio para se concentrar, como no tiro esportivo, esgrima e judô.
Na decisão da prova de pistola de ar comprimido 10 metros, em que o paulista Felipe Wu conquistou a prata, o vencedor, o vietnamita Xuan Vinh Hoang, reclamou que a vibração da torcida brasileira, completamente fora do padrão do tiro esportivo, o atrapalhou.
Mas tem bom humor também.O grito já consagrado de “ôôô Zika” para Hope Solo, goleira da seleção feminina de futebol dos EUA, viralizou nos estádios.
Os brasileiros tentam tirar proveito da situação.
Na conquista do ouro na categoria leve (até 57 kg) segunda-feira (8), a judoca brasileira Rafaela Silva diz que sentia do tatame o ginásio tremer de tanto barulho que a torcida fazia. O grito de “uh, vai morrer”, ecoado a cada edição do UFC no país deu o tom na arquibancada da Arena Carioca 2 na conquista de Rafaela.
“Eu senti que minhas adversárias ficavam preocupadas com a pressão da torcida, um pouco para baixo, porque elas não estão acostumadas. Aí eu só pensava ‘vou para cima delas’”, afirma a primeira atleta do Brasil a conquistar ouro na Rio-2016.
O esgrimista curitibano Athos Schwantes também afirma que os adversários vêm tendo dificuldade com a animação da torcida brasileira. Ele lembra que o comportamento dos torcedores no Pan do Rio de 2007 já foi fora do padrão para a modalidade. Mas nada comparado com o que a torcida tem feito na Rio-2016.
“Temos uma grande público nas competições de esgrima em países como França, Itália e mesmo nos Jogos Olímpicos. Só que a torcida é sempre muito contida. Trazer a cultura do estádio de futebol para cá está sendo demais”, considera o paranaense. “Nós brasileiros estávamos preparados para isso. Absorvemos essa força e jogamos para o nosso lado”, ressalta.
Do outro lado, os adversários dos brasileiros e a própria organização não escondem a insatisfação. Nas partidas das duplas brasileiras no vôlei de praia, por exemplo, os pedidos constantes do locutor da arena de Copacabana para a torcida fazer silêncio é sempre em vão.
Já na vitória do tenista brasileiro Thomaz Bellucci na primeira rodada das partidas de tênis individual, o alemão Dustin Brown abandonou a partida lesionado, teve de ser ajudado para sair da quadra e mesmo assim foi vaiado pela torcida.
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