O paulista Felipe Wu pode ser o primeiro brasileiro a subir no pódio da Rio-2016, na prova de pistola de ar 10 metros, disputada das 8h30 às 16h20 de sábado (6) – além da prova em que é especialista, ele também vai para a competição da pistola 50 metros dia 10. Entretanto, a possibilidade de conquistar uma medalha que o Brasil não consegue desde 1920, no primeiro ouro olímpico do país, com o atirador Guilherme Paranaese, não empolga o atleta de 24 anos sobre a chance de a modalidade se popularizar no Brasil.
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“A medalha vai melhorar a minha vida. Mas infelizmente a burocracia para quem quer praticar o esporte no Brasil vai continuar”, enfatiza o atleta, cuja carreira deu um salto a partir do ouro no Pan-Americano de Toronto-2015. Em 2016, Wu conquistou duas das quatros etapas da Copa do Mundo de tiro. Em março, na Tailândia, levou o Brasil pela primeira vez ao ouro da competição e chegou ao topo do ranking – no momento é o quinto. Em junho, dois meses antes dos Jogos Olímpicos, repetiu o feito no Azerbaijão. Na última edição da revista americana Sports Illustrated, especial da Olimpíada, Wu é cotado com o favorito para ficar com a prata em 2016.
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“Para mim não é surpresa eu ter chegado nesse nível. Foi muita dedicação”, afirma o atleta, que treina de quatro a cinco horas por dia e teve uma de suas últimas bases em Curitiba, no Clube Santa Mônica, onde treina a namorada Rosane Budag, 42 anos, que também vai competir a Rio-2016 na prova de pistola de ar 10 metros e pistola três posições 50 metros.
Wu explica que a obtenção de uma arma para a prática esportiva leva no mínimo um ano no Brasil. Esse é o tempo do trâmite de toda a documentação de importação e legalização do equipamento. “O que prejudica é que no Brasil a arma de prática esportiva é tratada igual à arma de defesa”, explica.
O preço também atrapalha. Uma pistola como a que Wu utiliza custa na Europa cerca de R$ 9 mil. Com os impostos no Brasil, o valor dobra R$ 18 mil. A caixa de munição, suficiente para 50 disparos, custa em torno de R$ 100. “Essa quantidade eu uso em apenas meia hora de treino”, ilustra Wu. “É muito caro e muito burocrático praticar tiro esportivo no Brasil”, enfatiza.
O resultado de tanta dificuldade, afirma o atirador, é que muita gente acaba desistindo do esporte. “Eu conheço muitas pessoas de talento que não seguiram em frente justamente por causa disso tudo”, ressalta.
Improviso e namoro
Antes do salto que veio com a conquista do ouro no Pan-2015, Wu teve que se virar para seguir treinando. Sem um estande de treino em São Paulo nas mesmas condições das provas, o atirador ficou um ano treinando no quintal da própria casa. Mas ao invés de 10 metros, que é a é distância oficial da principal prova em que compete, o alvo que instalou na residência tinha apenas sete metros.
“A diferença desses três metros dificultava muito o treino porque o erro que você comete a sete metros é muito diferente do erro que você comete a dez metros”, argumenta.
O problema só foi solucionado quando o atirador passou a treinar no Clube Hebraica, com a distância oficial. Além do clube paulistano, Wu também ia a Curitiba nos finais de semana visitar a namorada e aproveitava para treinar no Clube Santa Mônica. “Lá a estrutura era boa, com todas as condições”, aponta.
A proximidade com a namorada na Olimpíada, aliás, também tem ajudado na preparação de ambos para a disputa. Distante da polêmica das paqueras dos atletas na Vila Olímpica, o casal ocupa o mesmo quarto no prédio da delegação brasileira. “É bom porque não muda a nossa rotina de estar junto e um apoiar o outro”, afirma Wu.
Sobre a intimidade do casal, o atirador afirma que o momento é só de concentração. “Tanto eu quanto ela só estamos pensando na nossas provas”, enfatiza a principal esperança brasileira do ouro inédito no tiro esportivo.
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