Imagine o seguinte cenário. Brasil e Argentina se enfrentam na Olimpíada do Rio de Janeiro, a partida é dominada pelos visitantes, que aplicam 5 a 0 e eliminam os donos da casa.
No futebol, a seleção entraria imediatamente em crise, com técnico ameaçado de demissão – isso se já não tivesse caído no vestiário. No rugby sevens, que estreou na Rio-2016, os jogadores se cumprimentaram e tiram fotos juntos, ainda no gramado, após a corriqueira vitória dos hermanos por 31 a 0 nesta quarta-feira (10), no Estádio de Deodoro.
‘Temos de trabalhar”
Apesar de previsível, a derrota do Brasil para Argentina, por 31 a 0, deixou os jogadores brasileiros de cara amarrada após o jogo contra a grande potência continental.
“Temos de fazer melhor as coisas simples, assim como eles fazem”, opinou o paranaense Gustavo de Albuquerque, o Rambo, que criticou erros básicos que custaram a posse de bola para os Tupis. “E quando erramos, eles aproveitaram”, completou.
O atacante Felipe Sancery também frisou a necessidade de o Brasil aprender a manter mais a bola. Para chegar no nível dos Pumas, no entanto, ainda vai demorar.
“A gente se inspira neles, mas tem de trabalhar mais”, enfatizou.
Como alento, o defensor argentino Nicolas Bruzzone garante que a evolução do time brasileiros é nítida. Grande parte da mudança se deve à criação da seleção permanente, em São José dos Campos-SP, em 2013.
“O jogo deles mudou muito e cresceu nos últimos anos. A Argentina também tem um papel nisso, já que o técnico Andrés Romagnoli, que é meu amigo e já nos treinou, agora está com eles. Antes a dificuldade era muito menor”, atesta.
A rivalidade existe, mas o jogo está a anos-luz de ser um ‘clássico’. O placar massacrante é comum no confronto entre a principal potência do continente e um time sem tradição no esporte, cujo melhor resultado em um campeonato sul-americano foi o terceiro lugar (2011 e 2013). Apenas ressalta a diferença técnica entre as equipes.
Para o público, porém, não importava. O histórico do futebol não é facilmente esquecido e os brasileiros apoiavam para valer. “Não acredito que estamos perdendo para eles”, reclamava uma voluntária, no intervalo do duelo, quando o marcador apontava 19 a 0 para os convidados.
A torcida argentina também fazia sua festa no melhor estilo dos ‘hinchas’ do futebol. Deodoro virou uma mini Bombonera. “Exatamente, parece mesmo. Há muito parentes dos jogadores aqui e foi muito bom sentir o apoio deles”, comentou o defensor da Albiceleste Nicolas Bruzzone.
Havia bandeiras do país vizinho por todos os lados, além de grupos de torcedores que cantavam em coro segurando bexigas brancas e azuis, cena comum nos jogos de futebol por lá. Enquanto os locais provocavam cantado ‘Mil gols, só Pelé’, os argentinos devolviam com ‘Decime qué siente’, principal grito de guerra na Copa de 2014.
“Não tem sentido trazer a rivalidade do futebol para o rugby. Não é clássico”, aponta o educador físico Fernando Villegas, 42, que vive em Córdoba. O argentino ficará uma semana no Rio para ver os Pumas, apelido do time de rugby. Ao lado de cinco amigos, eles assistiram ao duelo usando perucas louras.
O apoio aos Tupis também foi intenso, mas o que chamou a atenção foi o desconhecimento de grande parte do público sobre o esporte. “Foi falta? Nem sei o que aconteceu. Para mim é só porrada”, gritou um torcedor.
“Depois da Olimpíada vou me dedicar a assistir rugby”, garantiu o aposentado Airton Bastos, 68, que não conhecia o esporte, mas assistiu a uma overdose de 12 partidas nessa quarta. “O brasileiro gosta de esporte de garra. Acho que vai pegar”, completou.
À tarde, no início da definição de nono até 12.º lugar, pelo menos ele pôde comemorar 12 pontos marcados pela seleção, que perdeu novamente, desta vez para os Estados Unidos.
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