O brasileiro Adilson da Silva foi o primeiro a competir no golfe olímpico.| Foto: EMMANUEL DUNAND/AFP

A tacada inicial do brasileiro Adilson da Silva, às 7h30 desta quinta-feira (11), marcou oficialmente o retorno do golfe à Olimpíada depois de 112 anos. Mas não há muito o que se comemorar. A modalidade é a mais problemática da Rio-2016.

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O golfe está desfalcado de seus principais nomes nos Jogos. Na disputa masculina, entre os dez primeiros colocados do ranking mundial, cinco desistiram de vir, incluindo os quatro melhores do mundo. A alegação oficial foi o temor do zika vírus. Mas o fato de o torneio não contar pontos no circuito internacional e não distribuir premiação em dinheiro, também ajudou a afastar os competidores.

“Certamente a ausência deles não ajuda, mas temos que nos concentrar agora em quem está no Rio. Quem veio será sempre capaz de dizer que teve a honra de ser um atleta olímpico”, tenta amenizar o presidente da Federação Internacional de Golfe, o britânico Peter Dawson.

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Continuidade

Mesmo com todos os problemas, o golfe está garantido nos Jogos de Tóquio, em 2020. Uma possível exclusão viria apenas para a Olimpíada de 2024. No Rio, a curitibana Miriam Nagl é uma das representante do Brasil. Além dela, defendem o país, Victoria Loveday e Adilson da Silva.

O que joga contra o esporte na Olimpíada também é a atmosfera. No Brasil, ainda pesa o desconhecimento da modalidade. A vibração que virou marca registrada nas arenas olímpicas passa longe do golfe. O público é discreto e pequeno. Nesta quinta, os presentes eram basicamente fotógrafos, repórteres, dirigentes de confederações nacionais e funcionários.

Dentre os poucos que vieram como meros espectadores, alguns praticantes da modalidade e pessoas que ganharam ingressos. Distribuir entradas a voluntários foi uma das maneiras de ‘desencalhar’ os bilhetes do golfe.

“Vim assistir porque ganhei dois ingressos”, conta o estudante Bruno de Almeida. “É muito diferente aqui. O pessoal é quieto, as palmas são fraquinhas”, aponta a vendedora Michele Medeiros que acompanhou Bruno no evento.

A administradora Patricia Brandão também se aventurou a conhecer o esporte. “Meu filho é voluntário, ganhou as entradas, mas não podia vir” , conta ela que trouxe então a filha mais nova Letícia, de 10 anos. “Vim muito por causa dela, para ela poder participar de algum evento da Olimpíada”, completa.

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Polêmica ambiental e potencial construtivo

A construção do campo de golfe olímpico foi envolto por polêmicas com direito a protestos e contestações na Justiça. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, declara que, se pudesse, abriria mão da obra, considerada um ônus dos Jogos. “No Brasil, não acredito que há legado para um campo de golfe. Não é um esporte popular. Mas há coisas que você tem que fazer quando organiza a Olimpíada”, afirmou na inauguração do local no fim do ano passado.

O campo de 970 mil metros quadrados foi levantado em uma área da preservação ambiental na Barra da Tijuca, o que gerou muitos protestos. Um grupo chegou a acampar por cerca de três meses em frente ao empreendimento. O Ministério Público Estadual (MP-RJ) questionou a licença cedida pela Secretaria Municipal do Ambiente. A Prefeitura alega, porém, que a construção recuperou um local que estava devastado.

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Também levantou polêmica a engenharia financeira da obra que envolveu potencial construtivo – mesma estratégia utilizada para a reforma da Arena da Baixada antes da Copa de 2014.

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Uma construtora bancou a obra de R$ 60 milhões. Em troca, ganhou o direito de levantar torres de um condomínio de luxo na região com mais andares do que o permitido anteriormente – o limite passou de seis para 22. Este benefício concedido deve resultar em um lucro futuro bem maior para a empresa privada.

Por 20 anos, o campo vai funcionar, em teoria, como uma instalação pública, mas quem quiser jogar terá de pagar.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]