A um ano da Olimpíada, cuja cerimônia de abertura será em 5 de agosto do ano que vem e o início das disputas no dia 3/8, a Rio-2016 pretende passar longe do histórico de elefantes brancos e orçamentos estourados na organização dos dois grandes eventos esportivos anteriores no Brasil: os Jogos Pan-Americanos de 2007 e a Copa do Mundo de 2014. Ao custo de R$ 38,2 bilhões, valor atualizado em abril de 2015, a organização tem seguido o cronograma não só para cumprir as exigências do Comitê Olímpico Internacional (COI) e atender cerca de 10 mil atletas de 200 países, mas também para deixar um legado à população carioca. “Queremos evitar todo e qualquer tipo de desperdício”, enfatiza a gerente de Sustentabilidade, Acessibilidade e Legado do Comitê Rio-2016, Tania Braga.
Para alcançar esse objetivo, a Rio-2016 vem trabalhando em três frentes. A primeira é potencializar ao máximo o uso das estruturas esportivas já existentes em 2009, quando o Rio foi escolhido sede. É o caso do Maracanã, do Maracanãzinho e do Parque Aquático Maria Lenk.
A segunda frente é construir estruturas definitivas que sejam usadas não só no período dos Jogos, mas que obrigatoriamente atendam as demandas da própria cidade depois da disputa. É o caso do bairro de Deodoro, na periferia carioca, que receberá provas de canoagem slalom, ciclismo BMX e mountain bike. Após a Rio-2016, a área de 500 mil metros quadrados vai se transformar em um parque para os 250 mil moradores do bairro e parte do 1 milhão de habitantes dos municípios vizinhos da Baixada Fluminense. Além das pistas de BMX adulto e infantil que ficarão no local, o circuito de canoagem poderá ser usado como piscina pelos moradores, que também terão áreas de piquenique e estação de internet.
Cidade comemora legado
O diretor de projetos da Empresa Olímpica Municipal (EOM), órgão da prefeitura que executa as obras da Olimpíada, Roberto Ainbinder, afirma que os Jogos Olímpicos estão sendo uma grande oportunidade para o Rio de Janeiro pôr em prática uma série de obras de melhorias que até então estava parada. “O COI [Comitê Olímpico Internacional] tem uma preocupação muito grande com legado e essa está sendo uma oportunidade gigante para a cidade tirar das gavetas empoeiradas projetos que não conseguiam ser viabilizados por uma série de entraves burocráticos. E tudo em um espaço curto de tempo”, afirma.
Para atrair investidores, o município autorizou a construção de edificações acima dos limites estabelecidos por lei, por meio de potencial construtivo, cujo valor é revertido em obra de infraestrutura para a região. Houve também a instalação de unidades culturais próximo do porto, como o Museu do Amanhã. Na área de transporte, o destaque é a instalação do Veículo Leve sobre Trilho (VLT), com 28 km de extensão integrado ao metrô, trens, ônibus e barcas. A capacidade é de 300 mil passageiros por dia e funcionará 24 horas por dia.
“Quando se decidiu que ali seria uma área vinculada à Olimpíada, quase que num passe de mágica foram superados todos os obstáculos. Essa é uma conquista da Rio-2016”, completa o diretor de projetos da EOM.
“Não há nenhuma estrutura de lazer em Deodoro. A carência nesse aspecto aumenta ainda mais por ser a região que mais concentra a população jovem da cidade, a maioria de baixa renda”, enfatiza o diretor de projetos da Empresa Olímpica Municipal (EOM), órgão da prefeitura responsável por executar as obras da Rio-2016, Roberto Ainbinder.
Outro exemplo de obra definitiva que atenderá o município é o Centro de Tênis, cuja quadra central terá capacidade para 10 mil espectadores. Todos os anos a cidade precisa montar uma quadra temporária para o Rio Open, disputa que em 2015 recebeu o astro espanhol Rafael Nadal. Com o Centro de Tênis, explica Ainbinder, o Rio Open dispensa a montagem das arquibancadas temporárias e a cidade ainda fica apta a pleitear disputas não só do ATP 500, mas também do ATP 1000, a elite do tênis mundial, além de shows e espetáculos.
Junto com outras nove estruturas esportivas que estão sendo erguidas, o Centro de Tênis fará parte após a Rio-2016 do Centro Olímpico de Treinamento (COT), que atenderá atletas de alto rendimento de 12 modalidades.
No caso das competições sem apelo de público no pós-Olimpíada, a organização optou por evoluir no modelo de estruturas móveis lançado por Londres-2012. Ao invés de apenas remontá-las na mesma função, optou-se por transformar essas instalações em equipamentos públicos, não necessariamente de caráter esportivo.
Ainbinder explica que o valor de construção de uma instalação temporária olímpica é praticamente o mesmo de uma definitiva. Entretanto, há de se levar em conta o tempo útil que a estrutura terá e como ela será usada a longo prazo para que não gere prejuízo. “Uma arena agrega anualmente de 10% a 15% do seu valor da construção em termos de manutenção. Ou seja, o custo em si da obra é só a ponta do iceberg”, explica.
A Arena de Basquete da última edição dos Jogos, por exemplo, projetada para ser desmontada e remontada, acabou se transformando justamente no que não deveria: um pequeno elefante branco. A estrutura chegou a ser oferecida à Rio-2016, mas o custo de transporte inviabilizou o processo. Desde então, a instalação está armazenada na capital inglesa à espera de demanda para ser novamente utilizada.
Para evitar que isso aconteça, a Arena de Handebol foi projetada com estrutura de encaixe para que no fim da Rio-2016 se transforme em quatro escolas de 4 mil metros quadrados, com 16 salas e capacidade para 500 alunos cada. As quatro devem estar em funcionamento no começo do ano letivo de 2018, dez meses após o encerramento da Paraolímpiada.
O Centro Aquático, que receberá provas de natação e polo aquático, também será desmontado, mas com destino diferente. A instalação para 18 mil pessoas será dividida em dois novos centros a serem erguidos fora do Parque Olímpico. As duas novas estruturas também serão parte do COT para o treinamento de atletas, mas compartilhadas com a população. “Vão ser como clubes públicos, em que a população terá acesso em horários determinados”, explica o diretor de projetos da EOM.
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