Usain Bolt nunca esteve tão perto de perder a prova dos 100m rasos e Justin Gatlin é o responsável por isso. O carismático jamaicano, um dos maiores nomes da história atletismo, tentar coroar de vez sua vitoriosa trajetória com o tricampeonato olímpico da prova, algo nunca alcançado. O rival norte-americano é o vilão neste roteiro tão aguardado pelo público. A final está marcada para a noite deste domingo (14), às 22h25, no Engenhão.
ENTENDA O DESAFIO: Bolt x Gatlin
Mas Gatlin já foi o mocinho da história. Nos Jogos de Atenas, em 2004, ele ficou com o ouro na disputa mais valorizada do atletismo. Era o homem mais rápido do mundo e, com apenas 22 anos, o candidato ideal a iniciar um reinado próprio na modalidade.
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Em 2006, porém, a carreira mudou de rumo: caiu no doping por testosterona e era reincidente - em competições universitárias já havia sido suspenso por seis meses por uso de um estimulante irregular. Desta vez, a punição foi mais severa. Ficou quatro anos longe das pistas, perdeu patrocinadores, voltou a morar em um pequeno apartamento em Atlanta e viu Usain Bolt surgir para o mundo e tomar seu lugar de destaque.
Gatlin voltou a competir em 2010, agora com 28 anos, uma idade difícil para um recomeço em alto nível. Porém, o corredor começou a desafiar o envelhecimento. Rapidamente, o norte-americano retornou à seleção, conseguiu uma vaga na Olimpíada de Londres e conquistou o bronze nos 100m. Bom demais, correto?
Ele queria o topo. Em 2014, foi o homem mais rápido da temporada com 9s77 na prova. No ano passado, repetiu a dose e com a melhor marca da vida: 9s74. Nunca alguém tão velho – 33 anos - correu tão rápido, o que só aumenta os questionamentos sobre se o americano realmente está livre do doping. A fama de ‘trapaceiro’ o persegue.
“Pessoas gostam de rotular pessoas. É isso que elas gostam de fazer”, diz o atleta.
No Mundial de Pequim, em 2015, a vitória sobre Bolt não veio por um mínimo detalhe, ou melhor, um centésimo de segundo: 9s79 contra 9s80. Se Gatlin tivesse repetido o tempo da semifinal (9s77), o título era dele. O jamaicano não teve margem para dosar o ritmo como costuma fazer.
“Nunca falo de uma pessoa só. Falo sempre de oito [finalistas]. E tudo pode acontecer. Tenho que estar preparado e fazer o meu melhor”, disse Bolt nesta semana no Rio em tom de respeito. Ele tem sofrido com dores na coxa nos últimos meses.
A melhor marca deste ano, mais uma vez, é de Gatlin: 9s80. “Eu trabalhei duro, fiz todo o caminho desde o fundo do poço. As pessoas precisam parar de me olhar e julgar”, desabafou o atleta dos EUA à Associated Press.
Gatlin estabeleceu como meta correr os 100m na Olimpíada em 9s66. Se conseguir, estará muito próximo de se transformar no campeão mais velho da história da prova. E também o mais odiado.
Imagem ruim
A suspensão de todo o atletismo russo da Olimpíada de 2016 em razão de uma cadeia sistemática de doping no país levantou o questionamento se atletas já pegos anteriormente com substâncias irregulares deveriam ou não ser impedidos de vir aos Jogos.
Vários atletas dizem que nomes como o de Justin Gatlin não poderiam estar no Rio. A polêmica cresceu de vez nesta semana quando uma própria competidora americana defendeu essa posição. “Eu não acho que alguém como ele [Gatlin] que já foi flagrado por doping poderia estar no time”, disse a nadadora Lilly King, ouro nos 100m peito na capital carioca.
Por conta do histórico, Gatlin é um dos atletas que mais passam por testes antidoping. Em 2016, por exemplo, já foram quatro exames de sangue e dez de urina. Mesmo sendo aprovado, as suspeitas não se encerram.
Ele foi pego por testosterona em 2006. Estudos de cientistas europeus sugerem que atletas continuam se beneficiando do uso do hormônio mesmo depois de parar de usá-lo em dose extra. A substância deixa de ser detectada em testes, mas pode permanecer no organismo por meses e até anos.
“Eu não fui a primeira pessoa que testei positivo e não serei a última. Vamos ser honestos. Mas eu já paguei minha punição”, defendeu Gatlin em entrevista ao NY Times.
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