Raulzinho e Raul Filho, Ygor Coelho e Sebastião de Oliveira, Bruninho e Bernardinho: pais foram decisivos para a carreira de cada um.| Foto: Reprodução Instagram/Associação Miratus / CBV

O pai do armador Raulzinho, Raul Filho, desistiu de jogar a Olimpíada de Barcelona-1992 no estacionamento do aeroporto de Belo Horizonte a caminho de São Paulo, onde se apresentaria à seleção de basquete. Preferiu nem tirar a bagagem do porta-malas do carro e voltar para casa para ficar ao lado da esposa no nascimento do primeiro filho, hoje um dos destaques da equipe do técnico Rubén Magnano e do Utah Jazz na NBA.

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Não fosse o pai, Ygor Coelho não seria esportista e sequer conheceria o esporte que pratica: o badminton. Sebastião de Oliveira conheceu a modalidade quando viu um professor com uma raquete e peteca na escola pública em que trabalha como inspetor, três anos antes de o filho nascer.

Quando Ygor veio ao mundo, Sebastião já tinha iniciado o Projeto Miratus, centro de treinamento de badminton que atende 250 crianças carentes na favela da Chacrinha, zona oeste do Rio, e que forjou o filho a ser um atleta olímpico.

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Campeoníssimo, Bernardinho não hesitou logo após a derrota na final da Olimpíada de Londres-2012. Estava disposto a abrir mão do cargo de técnico da seleção masculina de vôlei para que as críticas em relação à convocação do filho Bruninho cessassem.

Na época, a imprensa questionava o fato de Bruninho ser o levantador titular da equipe, após o campeão olímpico Ricardinho sair da seleção por desavenças com o treinador.

Raulzinho, Ygor e Bruninho mal terão tempo para comemorar o Dia dos Pais domingo (14). Mas já sabem que o maior presente que poderão dar a seus velhos é uma boa participação na Olimpíada Rio-2016.

Volta para casa

Raulzinho, armador da seleção de basquete.  

Raulzinho, que encara o clássico com a Argentina neste sábado (13), às 14h15, precisando da vitória após duas derrotas, afirma que ao desistir de entrar no aeroporto para ir a São Paulo treinar com a seleção antes do embarque para Barcelona em 1992, a mãe do jogador considerou que o marido estava louco.

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“Aí ele respondeu que não, que estava feliz e que queria ficar do lado dela no meu nascimento. Poucos dias depois eu nasci”, recorda Raulzinho.

O armador diz que o pai sequer sonhava que 24 anos depois do episódio no aeroporto o próprio filho estaria disputando a segunda Olimpíada. “É muito gratificante poder realizar o meu sonho e o sonho do meu pai de jogar uma Olimpíada. Ainda mais pelo que ele fez por mim quando eu nasci”, enfatiza Raulzinho. “É sim um presente do Dia dos Pais a minha participação nessa Olimpíada, por ser no Brasil e por toda a minha família vir me ver”, atesta o armador.

Um novo esporte

Ygor Coelho, representante do Brasil no badminton que veio da favela.  

Mesma sensação sente Ygor, de um Dia dos Pais especial na Rio-2016. Ainda mais pelo fato de Sebastiao ter crescido sem pai.

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Aos seis anos, o criador do projeto que revolucionou a prática de badminton no Brasil foi entregue à antiga Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Funabem). O patrão da mãe, empregada doméstica de um ex-ministro, não permitia a presença de Sebastião na casa.

Para que a mesma situação de abandono pela qual passou não se repetisse com outras crianças, Sebastião criou com recursos próprios em 1998 o Projeto Miratus, que atende 250 crianças e adolescentes da favela da Chacrinha e de onde saiu não só Ygor, mas também Lohanny Vicente, 20 anos, primeira brasileira a disputar o badminton nos Jogos. “Hoje eu tenho 250 irmãos”, enfatiza Ygor.

O jogador de badminton considera sensacional o fato de estrear na primeira Olimpíada que disputa justamente na véspera do Dia dos Pais – ele enfrenta às 19h55 o irlandês Scott Evans. “Se eu estou aqui hoje, disputando uma Olimpíada, é porque meu pai me encaminhou. Sou fruto do trabalho dele”, enfatiza Ygor, que era treinado pelo pai até o ano passado, quando passou a trabalhar com o treinador da seleção da modalidade.

Cobrança

Bruninho, levantador e capitão da seleção de vôlei. 

No caso de Bruninho e Bernardinho, o contato é ainda mais estreito no dia a dia desde 2007, quando o levantador passou a ser convocado. Hoje capitão da seleção de vôlei, que neste sábado (13), diante da Itália, às 22h35, tenta se recuperar da derrota para os EUA, o levantador não teve vida fácil diante do argumento de que só estava na equipe por ser filho do treinador.

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“É uma das coisas mais difíceis trabalhar com o filho, porque sinto em alguns momentos que algumas pessoas tentam me atingir por meio do Bruno”, declarou aos prantos Bernardinho justamente no Dia dos Pais de 2012, quando pôs o cargo à disposição para preservar o filho na entrevista após a derrota de virada para a Rússia na final da Olimpíada.

“De vez em quando, tenho de bater de frente com ele, faz parte. E essa nossa relação, por ter se tornado profissional, fez até crescer nossa relação como pai e filho fora da seleção. Nos tornamos mais homens em relação isso”, atesta Bruninho em entrevista ao portal UOL em junho, dois meses antes da Rio-2016