Zagueiro já sofreu com vuvuzela
Em 2008, o zagueiro Alex (foto 2), do São José, teve uma experiência bem diferente da realidade que vai encarar a partir deste final de semana pela Série B do Estadual. Em vez dos estádios com públicos pequenos, o jogador, de 24 anos, presenciou em campo a empolgação da torcida sul-africana com a proximidade da Copa do Mundo. "O pessoal estava muito feliz e ansioso para que a Copa chegasse logo", recorda o zagueiro, que atuou cinco meses pelo Ajax, da Cidade do Cabo.
De má lembrança do país do Mundial, o zagueiro guarda apenas o barulho das vuvuzelas as cornetas que os torcedores sul-africanos levam aos estádios. "Aquilo me dava uma agonia. Eles fazem barulho do começo ao fim do jogo, não param um segundo. Nem dá para ouvir as orientações do técnico", diz.
Ano passado, Alex se arriscou novamente pelo futebol africano, dessa vez pelo time do Textáfrica, da cidade de Chimoio, no interior de Moçambique. Se por um lado a língua portuguesa em comum facilitava o trabalho, por outro, a dura realidade de miséria do país, devastado por 16 anos de guerra civil após a independência de Portugal, em 1976, era assustadora mesmo para um brasileiro. "Chimoio é uma das cidades mais pobres de Moçambique, praticamente isolada na selva. Tinha muita gente na rua passando fome, sem ter onde dormir. Aqui a gente também vê isso, mas em uma proporção muito menor", revela.
A série B do Campeonato Paranaense começa amanhã com dez clubes e 240 jogadores que já rodaram o país por equipes pequenas, com direito a passagens por mercados inexpressivos da bola (como Moçambique e Peru) em busca da realização profissional. Para esses atletas, que vivem uma realidade muito distante dos clubes de elite um exemplo são os salários, cujas folhas somadas não chegam nem à metade do R$ 1,4 milhão pago por mês somente pelo Coritiba a seu elenco , o sonho do futebol ainda está para ser conquistado.
O meia Marquinhos Alagoano encarna essa realidade. Aos 27 anos, o Foz é a nona equipe do atleta, que saiu de Maceió ainda adolescente, aos 13 anos, para tentar a vida no futebol. "Não me arrependo da escolha que fiz. É claro que tenho saudades dos meus pais e dos meus irmãos. Mas minha esposa sempre está comigo", conta.
No começo do ano passado, ele encarou a maior aventura da carreira. Levado por um grupo de empresários canadenses, desembarcou na Amazônia peruana, onde jogou pela equipe do Colégio Nacional Iquitos. Apesar do isolamento da selva e da pobreza da cidade de mesmo nome, o "cigano da bola" diz que não pensaria duas vezes em retornar se surgisse a oportunidade.
"Lá eu recebia R$ 16 mil por mês. Um salário desses aqui, só jogando na série A ou B do Campeonato Brasileiro", argumenta o meia, que pretende fazer da Segundona do Paranaense o trampolim para uma equipe de maior representatividade. "Como juvenil e júnior, joguei pelo Sport Recife e Bahia. E quem já jogou em time grande, mesmo que no começo da carreira, sempre quer voltar", resume.
Esse, aliás, é o objetivo de todos os jogadores do nanico torneio. Mesmo para outros que já estão com a idade mais avançada para o esporte, como o zagueiro Carlão, do Arapongas, de 28 anos.
"Pretendo mostrar meu futebol e ir para um clube maior. Até porque já estou quase passando da idade de me firmar em uma equipe grande", conta o boleiro, paulista de Taquaritinga, que jogou pela Caldense-MG no 1.° semestre.
Das sete equipes dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná em que atuou, a de maior representatividade até agora na carreira de Carlão foi o Botafogo de Ribeirão Preto-SP. "Quem sabe o Arapongas não seja a largada para eu chegar a um clube grande?", confia o zagueiro.
Rodolfo, goleiro do São José, de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, não lamenta o fato de ainda não ter vestido a camisa de um time grande. "Sou um vencedor. Sei que vou chegar lá. E se não chegar, fico de cabeça erguida por ter tentado", resume o goleiro, que nos últimos anos passou por times pequenos do Rio Grande do Sul até chegar ao São José há pouco mais de um mês.
De uma família de agricultores do interior da Bahia, caçula de nove irmãos, Rodolfo sabe reconhecer o que o futebol lhe trouxe, mesmo que sem os holofotes dos clubes top. "Até três anos atrás, minha família tinha outra visão sobre minha vontade de buscar um lugar no futebol. Mas hoje tenho orgulho de poder ajudá-los", revela o jogador, que deposita praticamente todo o salário na conta de um dos irmãos na Bahia.
Ao comentar que até tentou ganhar a vida como vendedor de loja antes de se dedicar exclusivamente ao esporte, o camisa 1 explica o que o levou a ser atleta. "Eu não tenho o futebol como glamour. Tenho como meu trabalho. Assim como o mecânico conserta carro, eu jogo bola. É o que eu gosto de fazer", resume.
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