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Marcelo Nardi fundou a Fúria Independente, hoje comanda o futebol profissional do Paraná e vê como inevitável, no futuro, o clube ter um presidente com passagem pela torcida organizada | Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Marcelo Nardi fundou a Fúria Independente, hoje comanda o futebol profissional do Paraná e vê como inevitável, no futuro, o clube ter um presidente com passagem pela torcida organizada| Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Da bateria da Império para o Conselho Deliberativo do Coxa

A cena é comum. Coritiba em campo no Couto Pereira e na arquibancada está a dupla Gabriel Zornig, 28 anos, e Fabiano Mendonça, 34, regendo a bateria da Império Alviverde e animando o restante do estádio. Agora, além dos compromissos com a torcida, principal organizada ligada ao Coritiba, os dois têm afazeres políticos dentro do organograma alviverde.

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Relação de mão dupla

Autor do livro Para entender a violência do futebol, o sociólogo Maurício Murad, da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), vê a participação mais ativa das uniformizadas na vida política dos clubes como "um caminho que parece sem volta", com aspectos positivos e negativos. "O positivo é que democratiza a vida do clube, deixa mais popular. Por outro lado, pode ser negativo se der poder e força para grupos que pratiquem a violência", explica Murad. "Os clubes têm de exigir uma reciprocidade. Precisam dizer: a gente democratiza e vocês contribuem para pacificar os estádios", acrescenta o professor.

Colégio eleitoral

A alteração no Código Civil, em 2003, e a proliferação dos planos de sócio-torcedor ampliaram o espaço político das organizadas. O Código obrigou os clubes a abrir seu colégio eleitoral a todos os associados (antes, restringia-se aos conselheiros). Para manter o lugar na arquibancada, os organizados foram obrigados a aderir aos planos de sócio. E, consequentemente, adquiriram direito a voto – e peso político – dentro dos clubes.

As torcidas organizadas subiram mais um degrau na hierarquia dos clubes. O apoio que antes se restringia à arquibancada ou à cobrança – nem sempre pacífica – na linha "queremos time!" chegou aos gabinetes administrativos. É cada vez mais comum ver integrantes de Fúria Independente, Império Alviverde e Os Fanáticos participando ativamente da vida política de Paraná, Coritiba e Atlético.

O exemplo mais recente desta nova relação remonta à eleição presidencial no Coritiba, em dezembro passado. Além de Alex, que declarou voto ao oposicionista Rogério Bacellar, Vilson Ribeiro de Andrade creditou a derrota nas urnas ao apoio da Império, mesmo que velado.

A uniformizada não tomou lado oficialmente, mas muitos de seus sócios integraram a chapa Coxa Maior. Pelas contas do atual presidente do Conselho Deliberativo alviverde, Pierpaolo Petruzziello, dos 99 conselheiros recém-eleitos pela chapa – eram 160 no total –, cerca de 60% têm ou tiveram relação com a Império. "E 20% ainda participam da organizada", diz ele, que passou pela facção na adolescência. "Era o sonho de todo menino de 15 anos. A torcida sempre foi o pulmão do clube. Agora entendeu que não adianta só ficar xingando o presidente, precisa participar da política do clube", emenda.

Dois ex-presidentes da Império, Luiz Fernando Stellfeld, o Luizão, e Osvaldo Dietrich, mais conhecido como Porks, compõem o Conselho Consultivo da nova administração coxa-branca. "Nós temos uma ala jovem [dentro do Conselho] em que muitos são da Império. Quanto mais cedo puderem ajudar, melhor, pois trazem novas ideias e tecnologias", ressalta Luizão, que cita a criação de um grupo de WhatsApp dos membros do Conselho.

O paranista Marcelo Nardi é outro "ex-organizado" presente no organograma do seu clube. Superintendente de futebol tricolor desde o fim do ano passado, Nardi tem origem na Fúria Independente, principal uniformizada ligada ao time da Vila Capanema. Ajudou a fundar a torcida em 1993, saiu há 15 anos e foi ganhando espaço dentro do organograma tricolor até chegar ao comando do futebol.

"Se cada um souber o seu lugar e respeitar as regras do jogo, é importante para a democracia os torcedores se colocarem dentro do clube politicamente", diz ele, vendo como cada vez mais próximo o dia em que um "organizado" será presidente do Paraná. "Com o tempo deve acontecer. Todo mundo acaba passando por lá [pela Fúria]", afirma.

Não é, neste momento, o pensamento da organizada. Presidente da Fúria há 15 anos, Márcio Alexandre Silvestre explica que a missão atual da torcida é fazer o que for possível para reestruturar o Paraná, há anos envolvido com graves problemas financeiros e disputando a Série B desde 2008. Para isso, conta com um exército nada desprezível. Segundo ele, a organizada tem em torno de mil sócios ativos no clube. Dos 200 conselheiros eleitos – outros 200 são vitalícios –, cerca de 70% passaram pela Fúria.

"Temos uma galera nova que quer ajudar. Sabemos que não é uma vitória ou um campeonato que vai mudar a história do clube. É a política", afirma Silvestre.

No Atlético, a relação entre administração e arquibancada se tornou mais umbilical com a volta de Mario Celso Petraglia à presidência, em 2012. Como retribuição à ativa participação da Fanáticos na campanha eleitoral, a organizada ganhou espaço próprio e sem cadeiras na Arena e apoio na turbulenta relação com a Ultras, a outra facção ligada ao Rubro-Negro.

"Estamos bem unidos com o clube, um acordo legal. Acredito que temos mil associados e quase 100% são sócios do Atlético", contabiliza Adilson Pereira, presidente da Fanáticos desde a metade de 2014. "Temos quatro integrantes que são do Conselho Deliberativo. Estamos com ele [Petraglia] até o fim."

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