Se as acusações do árbitro Evandro Rogério Roman (ao lado de mais nove juízes de futebol) forem verdadeiras, a Série Prata deve ser desmascarada como um foco de corrupção permanente no apito paranaense. Indícios não faltam.

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De acordo com o relatório apresentado pelo Tribunal de Justiça Desportiva, a partir de 2002 há fortes suspeitas de manipulação dos resultados na Segundona. A tendência ganha força se analisada a escala de arbitragem dos times que conquistaram o acesso.

O Atlético Clube Paranavaí, que subiu há três anos, abre a lista. Em depoimento ao TJD, o auxiliar Moisés Aparecido de Souza disse que a escala era tendenciosa para o Vermelhinho. Citou que o juiz José Francisco de Oliveira, o Cidão, sabia que estaria em atividade nos jogos do ACP com 15 dias de antecedência.

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De acordo com levantamento feito pela Gazeta do Povo, a assiduidade do árbitro indica essa tendência. A partir da 8.ª rodada, ele apareceu em cinco das 12 partidas restantes – com três vitórias, um empate e uma derrota. Carlos Jack Rodrigues Magno, mais um nome sob suspeita, comandou outros dois duelos desta reta final (uma vitória e um empate).

No desfecho da primeira fase, contra o Roma, em Apucarana, houve muita reclamação por parte do adversário (o duelo terminou 0 a 0 e garantiu o ACP na segunda fase). Cidão mediava o embate, que poderia eliminar o representante do Noroeste.

Após os 90 minutos, os adversários se sentiram prejudicados e declararam à imprensa que "um diretor do ACP estava escalando os árbitros". A queixa foi veiculada na edição do dia 27/7/2002 do jornal Diário do Noroeste, de Paranavaí.

Hoje, vendo-se envolvido na onda de denúncias, o ex-presidente do ACP considera essa história absurda. "Não tenho intimidade alguma com o pessoal da Federação e também da arbitragem. Sou uma pessoa séria e frontalmente contra esse tipo de artifício. Tínhamos o melhor plantel, disparado", diz Edson Felipe, presidente na época do acesso e atualmente fora do futebol. "Se alguém negociava, não tinha o meu aval", completa.

Na temporada seguinte, a presença dos indiciados no "mensalão do apito" ganha força – mesmo com a entrada em vigor do Estatuto do Torcedor e a exigência do sorteio. O Cianorte, que festejou à época uma vaga na elite, teve na etapa decisiva cinco dos nove confrontos (três vitórias e duas derrotas) com a direção dos juízes que estão no banco dos réus. Na primeira aparição, uma história tragicômica.

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Era aniversário de 50 anos da cidade do Vale do Ivaí, o Leão venceu o Foz por 1 a 0, com gol de pênalti aos 44 minutos do 2.º tempo. Antônio Salazar Moreno foi quem marcou a falta máxima – para o desespero dos "convidados".

O mesmo homem de preto, um dos cinco apontados por Roman, teve a missão de comandar o jogo que definiria a vaga na Série Ouro. O Cianorte venceu por 1 a 0, aos 48’ da etapa final. No site oficial da associação, eis a descrição do lance: "Marcelo Lopes lança Canhoto, que é derrubado na meia direita. Muitos torcedores já estavam deixando o estádio, o predestinado ajeita a bola com muito carinho, catimbou um pouco, o árbitro descuidou e ele colocou a bola um metro para a frente (...)."

"Tenho tudo gravado. Foi uma partida normal. Inclusive, fomos muito prejudicados neste campeonato", refuta José Bersani, dirigente do Cianorte.

O Nacional, campeão de 2003, também viu a turma de indiciados na hora de subir à Primeira Divisão. Nas últimas cinco participações, foram quatro encontros com o grupo de apitadores sob suspeita (duas vitórias e dois empates). Magno apitou a última partida: um encontro sem gols com a Adap, que era concorrente direto do Cianorte. O placar beneficiou o Leão do Vale do Ivaí.

"A gente ouve falar de coisas, mas não tem provas. Eu posso assegurar que no nosso caso não ocorreu nada de errado", garante Manuel Mendonça, diretor financeiro da equipe de Rolândia.

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Na edição 2004, mais indícios – justamente no momento agudo do torneio. O Engenheiro Beltrão, um dos habilitados, teve cinco dos dez confrontos (três vitórias, um empate e uma derrota) com árbitros denunciados. O retrospecto é similar ao do Império, outro que obteve o sinal verde para enfrentar os grandes em 2005.

Sandro da Rocha, mais um dos citados, ficou à frente do jogão daquela disputa: a vitória do Foz por 6 a 5 sobre o Engenheiro. Um resultado que contrariou a lógica, mas apimentou a polêmica. Indignado com a arbitragem, mesmo vencendo, o técnico Bravinha agrediu o juiz. O time da fronteira ainda não esquece aquele dia.

"Ganhamos, apesar de termos sido roubados. O cara deu um pênalti escandaloso para eles e invadimos o campo. Ficou uns 15 minutos de interrupção. Graças a Deus, chegamos à virada nos acréscimos. O Luiz Linhares, presidente do Beltrão, teve de deixar o estádio com escolta policial. Ele disse para os torcedores que estatava ‘na gaveta’. Vencemos na raça", assegura Genésio de Camargo, o Cigano, gerente de futebol do Foz.

Linhares rebate. Ele se diz vítima de um complô promovido por Roman. Também faz questão de desqualificar a acusação descrita por Cigano. "Trata-se de um réu confesso. É mentira. Foi ele quem disse ter comprado o Cidão. E ainda colocou dinheiro dentro de um frasco de perfume, entregou o combinado antes da bola rolar e acabou perdendo."

Na próxima segunda-feira, o TJD vai julgar todos os envolvidos nestes e outros episódios. Conforme o artigo 275 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) – "Proceder de forma atentatória à dignidade do desporto, com o fim de alterar resultado de competição." – é possível que 13 pessoas (entre eles cinco árbitros) possam ser eliminadas do esporte.

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