Em festa, coxas-brancas pintam Curitiba de verde e branco
"Do alto de tantas glórias, a verde e branca vive sempre a tremular". Ontem, o torcedor do Coritiba fez jus à letra de Francis Night, espécie de hino não-oficial do clube. Fez bandeiras, bandeirolas e bandeirões tremularem pelas ruas de Curitiba para celebrar mais uma glória do time alviverde, o Centenário.
A vibração é a mesma dos outros torcedores, o nervosismo idem. É nas manifestações que o padre João Maria, 40 anos, destoa nos jogos do Coritiba. Assíduo no Alto da Glória, ele é conhecido nas cadeiras inferiores, tradicional reduto de coxas-brancas "cornetas". "Aqui a gente fica mais perto do campo", justifica.
Ele faz o possível para acompanhar o time, como transferir o comando do altar da paróquia de Mandirituba, região metropolitana de Curitiba, na missa de sábado, para poder assistir ao confronto com o Barueri.
"Gosto muito de vir aqui. É onde eu libero todo o estresse, a tensão do dia a dia. Eu sinto o que todo o torcedor sente. Vibro, grito, canto. Mas só as músicas inofensivas", garante.
Se é o adversário quem entoa ofensas ao Verdão, o clérigo se posiciona mais perto da uniformizada Império Alviverde e de sua bateria para não ouvir os apupos. "Fico lá só esperando e quando sai um gol corro até o alambrado entre as torcidas para provocar mesmo", confessa, sem remorso.
Na hora de protestar com a arbitragem, nada de levantar falso testemunho. No ímpeto da revolta, consegue trocar o tradicional "ladrão" para um comportado "juiz, tem dó!". Se o erro é dos jogadores e o torcedor ao lado solta um "que m...", João Maria limita-se a um "que pena".
"O Coritiba é um amor para mim, amor mesmo, capaz de me fazer derramar lágrimas. Quando perde eu fico muito chateado. Mas tenho muitas alegrias também", releva o sacerdote.
Da mureta, ele benze a entrada do time em campo e pede em silêncio que vença o melhor, "desde que o melhor seja o Coritiba".
Tamanha devoção lhe rendeu o convite para celebrar a missa dos 100 anos marcada para hoje, às 11 horas, no Couto Pereira. Praticamente uma benção para ele. "Fiquei muito emocionado de poder fazer parte do centenário do Coritiba", contou.
Para preparar a pregação, pesquisou um século de história, que será contada antes da celebração. "Fiquei arrepiado muitas vezes ao conhecer as alegrias e dificuldades enfrentadas pelo clube. Uma trajetória de emocionar até um atleticano", disse, sem provocação.
De Mandirituba ele trará 100 crianças para representar o futuro alviverde. A missa campal também terá um show do Padre Reginaldo Manzotti.
Influenciado pelo pai, João Maria começou a torcer pelo Coxa ainda criança em Antônio Olinto, próximo à Lapa. Quando optou pelo seminário, achou que teria de deixar de lado a sua paixão. "Mas esse é meu único hobby. Levo a emoção do estádio para a minha igreja. A missa tem de ser vibrante. Eu falo para os meus fiéis que com Jesus o jogo nunca está perdido", explica.
Mas com Pereira está. Um dos ídolos do padre falhou contra o Barueri no primeiro gol da derrota por 2 a 1. Por sorte o sacerdote tinha um casamento a realizar que pediu para começar um pouco mais tarde por causa do jogo e saiu antes do Couto.
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