Padre João Maria apoia os jogadores do Coritiba na partida com o Barueri: quando ele foi embora, o jogo estava 0 a 0| Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

Em festa, coxas-brancas pintam Curitiba de verde e branco

"Do alto de tantas glórias, a verde e branca vive sempre a tremular". Ontem, o torcedor do Coritiba fez jus à letra de Francis Night, espécie de hino não-oficial do clube. Fez bandeiras, bandeirolas e bandeirões tremularem pelas ruas de Curitiba para celebrar mais uma glória do time alviverde, o Centenário.

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A vibração é a mesma dos outros tor­­cedores, o nervosismo idem. É nas manifestações que o padre João Maria, 40 anos, destoa nos jo­­gos do Coritiba. Assíduo no Alto da Glória, ele é conhecido nas cadeiras inferiores, tradicional reduto de coxas-brancas "cornetas". "Aqui a gente fica mais perto do campo", justifica.

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Ele faz o possível para acompanhar o time, como transferir o co­­mando do altar da paróquia de Mandirituba, região metropolitana de Curitiba, na missa de sábado, para poder assistir ao confronto com o Barueri.

"Gosto muito de vir aqui. É onde eu libero todo o estresse, a tensão do dia a dia. Eu sinto o que todo o torcedor sente. Vibro, grito, canto. Mas só as músicas inofensivas", garante.

Se é o adversário quem entoa ofensas ao Verdão, o clérigo se posiciona mais perto da uniformizada Império Alviverde e de sua bateria para não ouvir os apupos. "Fico lá só esperando e quando sai um gol corro até o alambrado entre as torcidas para provocar mesmo", confessa, sem remorso.

Na hora de protestar com a arbitragem, nada de levantar falso testemunho. No ímpeto da revolta, consegue trocar o tradicional "la­­drão" para um comportado "juiz, tem dó!". Se o erro é dos jogadores e o torcedor ao lado solta um "que m...", João Maria limita-se a um "que pena".

"O Coritiba é um amor para mim, amor mesmo, capaz de me fazer derramar lágrimas. Quando perde eu fico muito chateado. Mas tenho muitas alegrias também", releva o sacerdote.

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Da mureta, ele benze a entrada do time em campo e pede em silêncio que vença o melhor, "desde que o melhor seja o Coritiba".

Tamanha devoção lhe rendeu o convite para celebrar a missa dos 100 anos marcada para hoje, às 11 horas, no Couto Pereira. Pra­­ti­­camente uma benção para ele. "Fiquei muito emocionado de poder fazer parte do centenário do Coritiba", contou.

Para preparar a pregação, pesquisou um século de história, que será contada antes da celebração. "Fiquei arrepiado muitas vezes ao conhecer as alegrias e dificuldades enfrentadas pelo clube. Uma trajetória de emocionar até um atleticano", disse, sem provocação.

De Mandirituba ele trará 100 crianças para representar o futuro al­­viverde. A missa campal também terá um show do Padre Re­­­ginaldo Manzotti.

Influenciado pelo pai, João Ma­ria começou a torcer pelo Coxa ainda criança em Antônio Olinto, próximo à Lapa. Quando optou pelo seminário, achou que teria de deixar de lado a sua paixão. "Mas esse é meu único hobby. Levo a emoção do estádio para a minha igreja. A missa tem de ser vibrante. Eu falo para os meus fiéis que com ‘Jesus o jogo nunca está perdido’", explica.

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Mas com Pereira está. Um dos ídolos do padre falhou contra o Barueri no primeiro gol da derrota por 2 a 1. Por sorte o sacerdote tinha um casamento a realizar – que pediu para começar um pouco mais tarde por causa do jogo – e saiu antes do Couto.