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O “Amahoro”, que significa paz na língua nativa de Ruanda, é o principal palco do país que ocupa a 102ª posição no ranking da Fifa... | Fotos: Julio Cesar Lima
O “Amahoro”, que significa paz na língua nativa de Ruanda, é o principal palco do país que ocupa a 102ª posição no ranking da Fifa...| Foto: Fotos: Julio Cesar Lima

Cinema

A história de raiva dos hutus

Da Redação

O estádio "Amahoro", mesmo significando "paz" no dialeto local, traz as piores lembranças ao povo de Ruanda. A praça esportiva foi um dos palcos do genocídio de 1994, com quase um milhão de mortos (algumas dessas ainda crianças) e milhares de mulheres violentadas. O massacre começou quando o presidente do país morreu em um atentado, após assinar um acordo de paz. Imediatamente os hutus creditaram o crime aos guerrilheiros tutsis, dando início ao assassinato de tutsis e hutus moderados.

Dois filmes ajudam a entender a amplitude do conflito e a interferência internacional. Hotel Ruanda, baseado em fatos reais, sobre a repressão hutu. O segundo filme, Aperte as Mãos do Diabo, é uma adapatação da autobiografia do general Romeo Dallaire, que teria sido ignorado ao pedir ajuda à Organização das Nações Unidas.

  • ...Estádio em Kigali, além de abrigar os jogos da seleção local, ficou marcado na história pelo chamado
  • Ícone do bom futebol, a seleção brasileira tem a simpatia dos moradores de Ruanda, mas a Inglaterra também tem adeptos no país

"Amahoro" significa paz, em linguagem kyniarwanda, a língua nativa de Ruanda, e é o nome do estádio nacional, onde a seleção, 102.ª colocada no ranking da Fifa, manda seus jogos. Para a população, no entanto, o futebol é muito mais que um esporte, significa também a chance de reconciliação de um país que se dividiu em 1994 e resultou na morte de um milhão de pessoas em um genocídio.

Com esse espírito e também boa dose de amor ao futebol, Ru­­anda não decepcionou nas Eli­­mi­natórias – apesar de não ter se qua­­lificado – e mostra que o campeonato que iniciou há dois me­­ses, com 12 clubes, pode colocar o país em seu primeiro Mun­­dial dentro de cinco anos.

Para isso, conta com di­­versos programas de reconciliação nacional que usam o futebol como in­­ter­­mediário para reduzir as diferenças entre os grupos étnicos tutsis e hutus, que dominam Ruanda. Na capital Kigali, vários professores de educação física se revezam nos treinamentos dirigidos aos jovens de 10 a 18 anos.

No Centre de Jeune, no bairro de Kyniasagra, região pobre da cidade, o diretor Ntyrengannio Emmanuel fala sobre a importância do futebol naquela área. "Houve redução da violência e, além disso, as nossas crianças também começaram a ter um pouco mais de esperança no fu­­turo. Muitas delas tiveram seus mortos e o esporte pode salvá-las."

No interior do país o quadro não é diferente. Vários campos de terra são parte do cenário. "A população tem verdadeiro amor pelo futebol. Como eu também gosto, é uma forma de aliar o trabalho com prazer, além de ajudar outras pessoas", disse o alemão Benedicte Beilharz, que é voluntário de um programa da Fifa na região de Gyseni, no Oeste de Ruanda.

Apesar da admiração pelos craques brasileiros, nem todo ruandês será um torcedor do Bra­­sil na Copa. Ligados em tu­­do o que acontece na Liga In­­gle­­sa, é comum ver os bares lo­­tados em dias de jogos do Chel­­sea, o preferido; Liverpool, Arsenal, Manchester United e outros clubes menos cotados.

"Temos muitos atletas que vão para a Inglaterra jogar e a televisão sempre mostra o campeonato (inglês). Por isso, torcemos muito pelos times ingleses", concluiu Jac­­ques Bouging, que chegou a dis­­putar a terceira divisão da Inglaterra e o campeonato da vizinha Uganda.

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