Opinião
Carlos Eduardo Vicelli, repórter.
Ah, se o Pan fosse no Rio
São só quatro anos, mas quanta diferença. Se em 2007 o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tentou ao máximo valorizar os Jogos Pan-Americanos, simplesmente pelo fato de a competição ser disputada no Rio de Janeiro, desta vez a entidade fechou os olhos para Guadalajara-11.
Como não está em jogo a nossa reputação de bom anfitrião e a Olimpíada de 2016 já foi confirmada para a capital fluminense , vale tudo. Ou vale muito pouco. Viaja quem quiser. Bernardinho já anunciou que os tricampeões do mundo de vôlei ficarão por aqui. Neste caso, treinar é bem mais importante. César Cielo, nossa estrela da natação, mantém suspense sobre a participação na maior competição esportiva das Américas. Disputar as etapas da Copa do Mundo pode ser bem mais lucrativo.
Influenciados pelos ídolos, outros talentos nacionais devem esvaziar ainda mais a delegação. A exposição também será diferente. Desta vez a Rede Globo não irá transmitir (os direitos são da Record). Isso, somado ao fato de os Estados Unidos, maiores medalhistas, mandarem normalmente uma delegação C, colam no Pan a pecha de segundo escalão.
O clima de euforia em verde e amarelo visto nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, não se repetirá em 2011, na edição mexicana da competição, entre 14 e 30 de outubro, em Guadalajara.
Apesar de ser o principal evento poliesportivo das Américas, para muitas modalidades os 15 dias de disputas são vistos apenas como mais um compromisso no calendário. Há ainda esportes em que, embora nenhum atleta ou dirigente afirme com todas as letras, o Pan é um obstáculo em um ano decisivo para assegurar vaga na Olimpíada de Londres, em 2012 poucas federações internacionais utilizam o torneio como classificatório para o principal evento esportivo do mundo.
Sem o apelo de ter o melhor desempenho possível por "jogar em casa", como foi em 2007, o Pan de Guadalajara pode não ter a presença de parte dos principais atletas brasileiros. Ou a participação deles pode não ser no melhor nível nas 36 modalidades (30 olímpicas) que serão disputadas.
A saltadora Fabiana Murer, por exemplo, ainda não sabe qual é o seu plano para a competição no México. "Minha prioridade será o Mundial, em agosto [na Coreia do Sul]. Depois, já devo entrar em clima de fim de temporada", diz a atleta do salto com vara, eleita a melhor do esporte nacional na votação do público para o Prêmio Brasil Olímpico de 2010, evento do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
Para ela, conquistar o bicampeonato do Pan não é uma obsessão. "[Se quiser] Me classifico fácil [para disputar o torneio], o índice para Guadalaraja é 4,35 metros". No Mundial indoor deste ano, o melhor salto dela foi de 4,82 m.
O vôlei masculino deve levar o time B ao México. O técnico Bernardinho pretende poupar os principais jogadores para a Copa do Mundo, em novembro, no Japão, torneio que garante antecipadamente três vagas olímpicas. Já a equipe feminina, comandada por José Roberto Guimarães, deve ir com o que tem de melhor.
"Ainda assim, é uma competição que vale a pena. Especialmente para quem não disputou uma Olimpíada. Pode-se viver um clima muito parecido, com Vila Olímpica e tudo mais", diz o ponteiro Murilo. Um dos destaques do vôlei mundial e eleito o melhor atleta masculino do ano na premiação do COB, ele participou de seu primeiro Pan no Rio, há três anos, ganhando a medalha de ouro, quando ainda era mais conhecido como "o irmão do Gustavo".
No judô, um Pan-Americano em Guadalajara valerá pontos para o ranking mundial, classificatório para os Jogos Olímpicos. Mas não o evento poliesportivo de outubro, e, sim, o da própria modalidade, em abril. "Ainda não sabemos como vai ser a convocação para a competição de outubro. É um evento oficial, não pode ser desprezado... Mas talvez valha a pena colocar na balança, avaliar se vale a pena ir com força máxima", diz o judoca Leandro Guilheiro, prata no Rio em 2007. "No meu caso, particularmente, seria uma forma de apagar meu primeiro Pan, em que me machuquei [teve uma lesão nas costas]", afirma, se apegando em uma motivação pessoal.
Em poucos casos, o caminho para os Jogos Olímpicos passa pelo evento de outubro em Guadalajara. É o caso da ginástica rítmica e do handebol, modalidade na qual apenas o time medalhista de ouro no Pan estará em Londres em 2012.
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