Histórico
Relembre os principais casos de racismo no futebol brasileiro em 2014:
22/2 - Goleiro Lucio, do São Paulo-RS, foi chamado de macaco por torcedores do Pelotas. Um torcedor foi preso e proibido de entrar no estádio por 720 dias.
2/3 - Goleiro Dida, do América-RN, foi chamado de macaco por torcedores do Alecrim. Time perdeu dois mandos e foi multado.
5/3 - Árbitro Márcio Chagas encontra bananas em seu carro após jogo entre Esportivo e Veranópolis. Esportivo perdeu 3 pontos e foi rebaixado.
6/3 - Arouca, do Santos, foi chamado de macaco por torcedores do Mogi Mirim, que foi multado.
9/3 - Lateral-esquerdo Assis, do Uberlândia, acusa torcedor do Mamoré, que acabou preso.
30/3 - Zagueiro Paulão, do Inter, ouviu sons de macaco para ele em Grenal. Grêmio foi multado.
10/4 - Volante Marino, do São Bernardo, afirma ter sido chamado de macaco por torcedor do Paraná. Tricolor foi multado.
11/4 - O técnico Antônio Carlos Buião, do Vocem-SP, ouviu cantos racistas da torcida do Bandeirante. Time foi multado.
12/4 - No confronto entre Estanciano e Confiança, pelo Sergipano, o jogador Oliveira acusou Leandro Kivel de ofensas racistas. Não houve punição.
13/4 - O radialista Lourival Santos chamou Maicon Silva do Londrina de macaco. Ele foi preso e afastado do emprego.
18/4 - Atacante Reinaldo, do Luverdense, acusou torcedores do Vila Nova-GO de o chamarem de macaco. Ninguém foi punido.
28/8 - Torcedores do Grêmio xingaram de macaco o goleiro santista Aranha, no caso de mais destaque no ano. Tricolor foi excluído da Copa do Brasil.
27/9 - Francis, do Boa, acusou zagueiro Antônio Carlos, do Avaí, de chamá-lo de macaco. Ato rendeu gancho de cinco jogos e multa.
15/10 - Victor Palito, do Votuporanguense, foi chamado de macaco por jogador do Independente de Limeira. Não foi punido.
16/10 - Atacante Bruno Alves, do Macaé, é xingado por torcedor do Friburguense. O clube perdeu dois mandos de campo e foi multado.
A reação ao caso de injúria racial envolvendo o meia Marcos Guilherme, do Atlético, no Sul-Americano sub-20 pelo Brasil, contra o dono da casa, Uruguai, não deve ir longe. Mais uma vez.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tratou logo de pôr panos quentes no incidente, e orientou o jogador a "ter cautela nas declarações".
No jogo da noite de segunda-feira, no empate por 0 a 0 contra o Uruguai, Marcos Guilherme disse ter sido vítima de ofensas raciais proferidas pelo atacante Facundo Castro.
"O cara me chamou de macaco cinco vezes. Já enfrentei várias situações dessas no Brasil, não pode acontecer. Alguém tem de tomar uma atitude, senão isso não vai parar nunca", afirmou Marcos Guilherme, em entrevista ao canal SporTV, após o jogo.
"A gente nunca espera passar por isso. Não estou falando para fazer média, dar uma de coitado. É lamentável, espero que alguém tome providência", completou o jogador, que também lembrou episódios semelhantes ocorridos com outros jogadores. "São vários fatos que ocorreram com o Aranha, o Tinga, o Arouca e ninguém toma providência para acabar com isso. Estamos representando o país, nossa família em casa torcendo e vê isso, sofrer racismo dentro do nosso trabalho", desabafou.
Castro negou a ofensa à imprensa uruguaia. "Que se preocupem mais em jogar e não com coisas extracampo."
CBF lava as mãos
Sem imagens que comprovem o ato, a CBF decidiu não levar adiante as acusações. A recomendação veio do departamento jurídico da entidade. Nada vai mudar também na trajetória do time uruguaio na competição alguma punição só poderia ser aplicada se fosse registrada uma queixa-crime até 24 horas depois do ocorrido.
Segundo o técnico Gallo, em entrevista ao site Globoesporte.com, apenas o zagueiro Léo Pereira, companheiro de Marcos Guilherme no CT do Caju, teria presenciado as injúrias.
A posição oficial da CBF é que o foco do time é totalmente no campeonato. A Federação Uruguaia de futebol, por sua vez, negou ter recebido qualquer comunicado.
O empresário do atleta, Rafael Stival, que vem falando com Marcos Guilherme por meio do Whatsapp, disse que o jogador está mais calmo. "Ainda não falei com ele direito, estava muito tarde. Deixei uma mensagem de tranquilidade, parabenizando pelo que fez em campo. O Marcos me agradeceu e não comentou mais nada, até pelo horário", declarou. "Ele também me disse que o episódio servirá de combustível e que não se deixará abater", complementou.
Stival minimizou ainda a parte da declaração de Marcos Guilherme na qual afirmou que "já enfrentou várias situações dessas no Brasil".
"Acho que ele estava meio ansioso com isso e acabou se expressando mal. Ele nunca relatou nada sobre outros casos sofridos por aqui. Acredito que se referia a casos pelo Brasil, não especificamente com ele. Foi o que eu entendi", finalizou.
Negueba lamenta insultos contra jogador atleticano
O atacante Negueba (foto), do Coritiba, se solidarizou com o meia atleticano Marcos Guilherme, alvo de insultos raciais na partida contra o Uruguai pelo Sul-Americano sub-20, na noite da última segunda-feira. O jogador coxa-branca admitiu que também já passou pela mesma situação.
"Isso já aconteceu comigo, eu também joguei na seleção [de base]. As pessoas vêm, chegam perto, falam. Mas isso nunca me afetou e nem vai me afetar", contou Negueba.
"Falta educação, falta um pouco de humanidade. É bastante complicado. A gente está ali e do nada a pessoa chama de macaco. Isso fica bastante chato", completou.
Para o atacante, que tem sido titular na pré-temporada alviverde em Atibaia, no interior paulista, os casos de injúria racial, infelizmente, devem continuar ocorrendo. "Se não for comigo, vai ser com outro. Isso no futebol teremos diversas vezes", lamentou.