Rio (AG) Claudinei Quirino ainda ouve o barulho de gelo toda noite, quando vai dormir. Dos três acidentes na pista de Cesana Pariol, na Itália, ele não se lembra do último, no sábado, quando desmaiou, e do qual trouxe como lembrança uma queimadura no ombro e a perda temporária de sensibilidade no quarto e no quinto dedos da mão esquerda; além, é claro, de um apelido inusitado para o trenó da equipe brasileira de bobsled que disputou os Jogos Olímpicos de Inverno, em Turim.
"Começou com 14 porque foi nessa curva que caímos pela primeira vez. Na segunda, passamos a chamá-lo de 14 bis. Na última, também na curva 14, ele virou 14 tris. O apelido pegou", brinca Claudinei, que só fica mais sério quando fala do acidente.
"Eu vi pela tevê. Senti um nervoso... Todo mundo achou que eu tinha morrido porque demorei a me levantar."
Cludinei chegou a Presidente Prudente (SP) na terça-feira. Na volta, recebeu o apoio da família e amigos e um abaixo-assinado pedindo para que ele nunca mais repetisse a experiência. Mas nem precisava. Decepcionado com o desempenho da equipe, que terminou em último na prova de bobsled, ele é categórico: "Eu tenho medo, mas gosto da adrenalina. Se fosse hoje, não iria de novo, não. Quando aceitei o convite para ser reserva, achava que não precisaria descer. Mas com o doping do Armando, fiquei maluco. Eu pensava, caramba, e agora?. Na hora, aquele brilho no olho sumiu."
Mas nada disso importa mais. Passado o susto, o que Claudinei gosta mesmo de lembrar é do tal do espírito olímpico que, na pista gelada de Cesana Pariol, garantiu os melhores momentos dos "bananas congeladas" em Turim.
"Foi impressionante: todo mundo nos incentivou. Os mais legais foram os campeões olímpicos, os alemães, que nos emprestaram um capacete. No fim, quando fomos devolver, eles não quiseram. Só pediram uns pins do Brasil em troca" conta, orgulhoso, antes de voltar à rotina nas quentes pistas de Presidente Prudente, onde trabalha como assistente-técnico de uma equipe de atletismo.