Torcida
Organizada fala em "roubalheira"
Para a torcida organizada Fúria Independente, a crise dentro de campo tem origem no passado. De acordo com o presidente da facção, a principal entre os torcedores do clube, o time vem pagando caro por uma série de administrações ruins.
"A falta de estrutura de agora é resultado de uma política de dez anos atrás. Está caindo tudo agora. Todos os diretores do clube pensavam pequeno e houve muita roubalheira", ataca João Luís de Carvalho, líder da Fúria. "Todos têm culpa. Desde a fundação, quando o Paraná tinha dinheiro. Naquele momento, não investiram na construção de um CT, na reformulação do patrimônio", destaca
Sobre a gestão Aurival Correia, a organizada lamenta a falta de coesão. "Tem muita picuinha dentro do clube. Mas a caixa-preta segue fechada", cobra Carvalho. (RF)
Tempo não atenua a mágoa de Miranda
Há praticamente um ano, em setembro de 2007, a atual cúpula tricolor começava a trabalhar nos bastidores para derrubar o então presidente José Carlos de Miranda, acusado de levar dinheiro "por fora" na venda de alguns atletas.
Era apenas o fio condutor de uma crise que agora coloca o time da Vila Capanema na 16ª colocação na tabela, seriamente ameaçado de rebaixamento à Terceira Divisão.
Aurival Correia não gosta de comentar os problemas antigos. O presidente paranista prefere atribuir o desastroso momento da equipe nesta temporada à falta de sorte, à inexperiência com as armadilhas da Série B ou (reconhece ele) aos erros nas contratações. Na saga contra o descenso, o Paraná encara amanhã, às 20h30, o Bragantino, em Bragança Paulista.
De forma alguma o dirigente põe nesta lista a delicada situação financeira do Tricolor. O discurso "dinheiro não é problema" fugindo à regra usada pelas gestões anteriores surpreende ainda mais quando se fala da herança recebida pelo atual mandatário.
"Não gosto de abrir essas coisas. É difícil até explicar para o torcedor", diz, um pouco sem jeito.
Somente após 50 minutos de entrevista em uma pequena sala do Estádio Durival Britto (espaço com duas mesas, televisão, aparelho de DVD e paredes repletas de troféus), o cartola falou do acerto de contas com o passado. E a relação fracasso em campo e dívidas pareceu inevitável mesmo sem o dirigente concordar.
De acordo com Correia, por exemplo, engana-se quem pensa que a negociação de Josiel para o Al-Wahda, dos Emirados Árabes, salvou o fluxo de caixa da instituição.
O artilheiro do Brasileiro 2007 saiu do clube por US$ 2,5 milhões. Na transferência, 10% ficaram com o empresário do atleta, outros 10% terminaram com o intermediário, o Grupo de Investimento (formado por dirigentes tricolores) amealhou 40%. Sobraram para o clube os outros 40% ("Quase R$ 1 milhão", lembra). Destes, R$ 854 mil foram destinados para pagar uma dívida com o jogador Ilan, que não havia recebido seus 15% de transferência quando saiu do Paraná, há oito anos.
A recente venda de Éverton, outra fonte certa de retorno monetário, deixa a situação ainda mais enrolada. Segundo o presidente, o acerto com a Traffic serviu para honrar outros imbróglios judiciais.
Com a quantia recebida para ceder 15% dos direitos econômicos do garoto (percentual que restava ao Paraná), saudou-se duas velhas demandas para os débitos não crescerem em progressão geométrica:
1) Com a transação do prata da casa, empenhou-se parte da dívida de R$ 1,8 milhão referente à ação trabalhista do meia Hadson jogador que foi mandado embora em 2003 e teve reconhecido pela Justiça do Trabalho o direito de receber a cláusula penal por rescisão (remuneração anual vezes cem, conforme fórmula matemática exigida pela Lei Pelé).
2) Na mesma venda de Ilan, o Paraná chegou a negociar 107% do atleta. A fraude, com o excedente repassado ao PSTC, custou R$ 550 mil do faturamento. Pago à vista para o dono do time londrinense.
"Nestes últimos quatro anos, administramos aproximadamente 90 ações trabalhistas e outras tantas na esfera cível. Mas, na verdade, o importante é que não criamos mais nenhum novo passivo", atenua o presidente. "De 2004 para cá, apenas dois jogadores fizeram reclamatórias trabalhistas. O Gélson Baresi, que levou R$ 100 mil. Tem também o Jancarlos, mas estamos recorrendo."
O caso deste último também promete. Mesmo sem ainda ser notificado, o Paraná estaria devendo R$ 1,2 milhão para o meia que vestiu a camisa do clube em 2004. "Perdemos no Tribunal Regional do Trabalho e já pagamos R$ 30 mil para o Jancarlos. Por essa eu nem esperava. Agora, o caso está em Brasília", completa.
Assim mesmo, Aurival Correia faz questão de reforçar que não são as pendências o motivo central do fracasso em campo. "Nosso orçamento para o futebol é maior agora do que em 2007, quando estávamos na elite. Além disso, mantemos tudo em dia", assegura, no melhor estilo mea-culpa.
Com a vinda de reforços para salvar o time da degola, o custo com a bola encareceu ainda mais neste fim de ano. "Uns 30%", calcula. "Avançamos nas finanças, porém sem riscos."
Para o presidente paranista o momento é de união. Não cita nenhum nome dos supostos culpados pelos equívocos administrativos. E garante que durante todo esse período "blindou o departamento de futebol dessas histórias".
Enquanto não colhe os frutos dessa política de saneamento, o dirigente se desdobra. Diz evitar lugares públicos com receio de algum ato hostil por parte da torcida. Também deixa o estádio à francesa, antes dos jogos terminarem. "Minha filha sofre com tudo isso. Ela é cobrada pelos colegas", conta. "As pessoas perguntam por que eu praticamente larguei minha vida empresarial para me dedicar ao clube. Dizem que sou louco. Ninguém entende!"
Correia procura agora um centroavante e um meia. São as últimas fichas para não ficar para a história como alguém que pagou dívidas, mas levou o time ao inferno da Terceirona.
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