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Desfile da equipe no desembarque em Curitiba | João Bruschz/ Gazeta do Povo
Desfile da equipe no desembarque em Curitiba| Foto: João Bruschz/ Gazeta do Povo
  • Reportagem da Gazeta sobre a decisão

Já se passaram 20 anos, mas parece que foi ontem. No dia 11 de julho de 1992, o Paraná – que ainda nem havia completado 3 anos de vida – conquistava o primeiro título nacional de sua história. Como capitão daquele grupo fantástico, tive a honra de erguer a taça que projetou definitivamente o Tricolor como uma das forças do futebol brasileiro.

Em uma Fonte Nova completamente lotada, o triunfo por 1 a 0 (gol de Saulo) sobre o Vitória coroou a excelente campanha da equipe, comandada por Otacílio Gonçalves e premiou a organização e profissionalismo do clube. Além de levar ao delírio a imensa torcida tricolor.

Da estreia (vitória por 4 a 0 diante do Operário-MT, na Vila Capanema) no dia 9/2/1992, até a final, foram somente duas derrotas, sendo uma delas – contra o Criciúma, na segunda fase – com a equipe reserva, pois a equipe já havia garantido a classificação de forma antecipada. Campanha inquestionável, que teve seu auge na inesquecível final em Salvador.

O elenco paranista de 92 era praticamente o mesmo do ano anterior, que acabou por conquistar o primeiro título Paranaense do clube. A comissão técnica também foi mantida. Liderada pelo inesquecível Otacílio, o Chapinha, contava com profissionais de extraordinário talento, como Carlinhos Neves (preparador físico da seleção), entre outros.

Após uma pré-temporada muito bem planejada, iniciamos a primeira fase. Eram 32 equipes divididas em quatro grupos, com jogos em ida e volta (dentro dos grupos). Os três primeiros de cada chave já garantiriam o acesso à Série A. Paraná, Grêmio e América-MG foram os classificados, ficando de fora Londrina, Botafogo-SP, Ponte Preta, Operário-MS e Operário-MT. A nossa classificação se concretizou na última rodada, com uma vitória por 2 a 1 sobre o Londrina, no Couto Pereira. Como nota triste, o falecimento da esposa do goleiro Luís Henrique, que sofreu um aneurisma cerebral, momentos antes da partida, quando já se encontrava nas cadeiras do estádio. Um golpe duríssimo que tivemos que assimilar.

As duas fases seguintes foram dois quadrangulares, também em jogos de ida e volta. No primeiro, enfrentamos Grêmio, Coritiba e Criciúma (Paraná e Criciúma seguiram adiante). No segundo quadrangular, além da equipe catarinense, nos confrontamos com América-MG e União São João de Araras. Classificamos em primeiro, com o Criciúma em segundo. Como vencedor desse grupo, o adversário nas semifinais seria o Santa Cruz.

O regulamento da competição de 1992 previa que nas semifinais, em caso de empate em pontos ganhos (independente do saldo de gols), o classificado em primeiro lugar na fase anterior (nosso caso) iria para a final. Em resumo, bastava uma vitória simples no jogo de ida no Recife para passarmos pelo Santa e chegarmos a tão sonhada decisão.

O "Mundão do Arruda" entupido de torcedores assistiu ao nosso melhor jogo até então. O placar de 2 a 1, com dois gols de Saulo, foi até injusto, devido a marcante superioridade paranista. No jogo da volta, novamente vitória por 2 a 1, no Pinheirão. Enfim, estávamos na final.

O adversário seria o Vitória. E como os baianos tinham uma campanha melhor, jogariam por uma vitória apenas. Ou dois empates. E assim, no dia 5/7/92, no Pinheirão, perante a mais de 30 mil enlouquecidos torcedores, revertemos a vantagem do adversário com uma vitória por 2 a 1. Mas foi uma "pedreira".

Depois de um excelente primeiro tempo, onde abrimos 2 a 0, vimos os baianos partirem para o tudo ou nada, e nos darem um sufoco. No final, seguramos o placar partimos para Salvador com a vantagem do empate.

O bom desempenho do Vitória no segundo tempo da primeira partida, aliado ao fato de jogarem por uma vitória simples, encheu os baianos de otimismo. Desde a nossa chegada ao aeroporto de Salvador, na véspera da grande final, ouvíamos de todos – dos carregadores de malas aos funcionários do hotel – que seríamos massacrados na decisão. O clima criado era de euforia.

A cidade respirava a decisão. Só se via o vermelho e preto nas ruas. Na televisão, em cada intervalo comercial, durante os dias que antecederam a final, 30 segundos eram destinados à promoção do jogo. Ex-atletas, ídolos de outras áreas, os jogadores que atuariam, diretores, comissão técnica, torcedores, enfim, todos que pudessem contribuir, se manifestavam, convocando a torcida para apoiar o time rumo ao título. Como o Bahia (arquirrival do Vitória) havia se sagrado campeão brasileiro quatro anos antes (em 88), todos diziam que era chegada a hora do "rubro negro".

Éramos nós contra a Bahia inteira. Só que a confiança do grupo em nossa força era imensa. O impulso que faltava veio com a preleção (a mais genial que presenciei em minha vida) do comandante Otacílio. Aproximadamente três horas antes da partida, deixamos os nossos quartos do hotel onde concentramos, e rumamos à sala de reuniões onde aconteceria a palestra do "Chapinha".

Demonstrando uma serenidade acima do normal, Otacílio aguardou a chegada de todos, e após finalizar o habitual cigarro, iniciou a preleção. Citou o meu filho (à época com três anos), o filho do Adoílson (bebê de colo) e o do João Antônio, ainda na barriga da mãe, dizendo que essa energia era maior que a de qualquer torcida. E finalizou com a frase que para nós, daquele grupo, se tornou símbolo da conquista: "Obrigado por me tornarem mais uma vez campeão brasileiro". Dirigiu-se à porta e completou: "Vamos embora?". Meio espantados, alguns perguntaram: "E o jogo?". A resposta do mestre foi definitiva: "Vocês, melhor do que ninguém, sabem o que fazer para buscar o título. E merecem, por tudo que fizeram nesses seis meses. Vamos buscar a taça", finalizou.

A explosão de todos parecia a comemoração de um gol. Aplausos, gritos, algumas lágrimas. Daquele momento em diante nem 500 mil baianos poderiam nos vencer. E fomos para o estádio. Corremos, lutamos, vencemos. A melhor partida da equipe na competição.

A Fonte Nova pulsava, o Vitória foi valente, mas a força da união, amizade e talento do nosso grupo foi decisiva. A arrancada desde o meio campo de Saulo, para fazer o gol do título, foi o último ato de uma campanha memorável. O nome do Paraná estava definitivamente escrito na história do futebol brasileiro. O gigante recém-nascido se afirmava ao país. O batismo de um grande clube.

A festa na nossa chegada a Curitiba foi um momento especial. Os milhares de tricolores que nos aguardavam no aeroporto. Ver a alegria estampada no rosto daqueles fanáticos torcedores foi a maior retribuição que poderíamos ter pela conquista.

*Serginho Prestes, ex-jogador de futebol, é hoje comentarista esportivo.

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