A última segunda-feira ficou marcada pelos 30 anos da morte de Vágner Bacharel, o primeiro capitão da história do Paraná. Vitimado por conta de uma pancada de cabeça em uma dividida com o lateral Charuto, do Campo Mourão, o zagueiro ainda deixa uma enorme saudade aos seus familiares, que tiveram suas vidas completamente mudadas a partir do dia 20 de abril de 1990.
“Tivemos que voltar a morar no Rio de Janeiro com meus avós, minha mãe teve que voltar a trabalhar, já que não tínhamos mais a renda do meu pai. A questão financeira foi bem complicada no início e, no meu caso, principalmente, acabou me fazendo muita falta, pois ainda era muito criança”, disse Wágner Júnior, 35 anos, filho de Bacharel. “Eu ficava meio introspectivo”, completa.
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Quando adolescente, Júnior ainda tentou seguir os passos do pai e entrar na carreira do futebol. Mas, não conseguiu. “Tinha o peso disso (também querer ser jogador) na minha adolescência. Eu não sabia lidar muito bem. A pressão vinha mais de mim mesmo do que das pessoas de fora”, relembra Júnior.
Hoje, 30 anos após o acontecido, o filho de Bacharel garante que não existe mais dor. “Trauma em si não temos mais. É mais questão de saudade do que dor”, destaca.
Na Justiça
A família de Vágner Bacharel ganhou um processo contra médicos que atenderam o capitão, o Paraná e o Hospital Evangélico. Em 1995, o juiz Valter Ressel, da 16ª Vara Cível de Curitiba, determinou o pagamento de 500 salários mínimos (R$ 50 mil na época) por danos morais e dez salários mínimos mensais até a data em que o jogador completasse 65 anos - em 2019. A indenização seria dividida entre Paraná e Hospital Evangélico.
Entretanto, a dívida foi paga praticamente toda pelo empresário Carlos Alberto Werner - R$ 550 mil -, que era aliado do atual presidente do Tricolor, Leonardo Oliveira.
Em outubro do ano passado, por conta das dívidas com o empresário, o Paraná teve que ceder o CT Ninho da Gralha a Werner. Ao todo, Werner moveu cinco ações cíveis contra o time, por conta de empréstimos realizados entre os anos de 2014 e 2017.
A reportagem apurou que o Paraná entrou com uma ação contra o Hospital Evangélico, antes de a instituição ter sido leiloada e adquirida pelo grupo Mackenzie. No entanto, o clube informou que "questões de processos serão tratadas somente nos mesmos".
Cronologia
Relembre os principais momentos do caso Vágner Bacharel
1990
14/4 - Ao disputar uma bola no alto, Vágner leva uma cabeçada do defensor Charuto, do Sport Campo Mourão. O jogador cai desacordado e depois reclama de fortes dores de cabeça. É atendido pelo médico do Paraná, André Luiz Oliveira. O jogador foi imobilizado e conduzido ao Hospital Evangélico. O diagnóstico foi de traumatismo cervical e o tratamento iniciado.
16/4 - Vágner recebeu alta médica, decidida pelo médico do Tricolor, André Luiz Oliveira, e supervisionada pelo médico do Evangélico, Inolan Guiginski de Oliveira, ambos ortopedistas. O atleta foi para casa, onde continuaria o tratamento, utilizando o colar cervical. No mesmo dia, voltou para o hospital, por causa de fortes dores de cabeça e vômitos. A partir deste momento, ficou aos cuidados do neurologista Charles London. Após exame tomográfico, foi constatada uma fratura no crânio.
17/4 - Devido ao agravamento do quadro, Vágner foi transferido para a unidade de terapia intensiva (UTI).
19/4 - Após novo exame, e a piora do quadro, o jogador foi transferido à pedido da família para o Hospital Cajuru. Às 19h30 foi constatada a morte cerebral de Vágner.
20/4 - Às 9 horas o hospital noticiou que o atleta havia sofrido parada cardíaca irreversível.
23/4 - Começam as investigações sobre o caso. É aberto um inquérito policial e outro administrativo pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná. A família do jogador inicia o processo de ação indenizatória na Justiça.
1991
Dois dos três médicos envolvidos no caso são condenados pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná. André Luiz de Oliveira recebeu a pena de censura pública, e Inolan Guiginski de Oliveira censura confidencial. Charles London foi absolvido.
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