Rubens Minelli, 81 anos completados hoje, foi o fundador do Paraná dentro de campo| Foto: Rubens Chiri/Futurapress

Há 20 anos...

Quando o Paraná surgiu, o cotidiano das pessoas era bem diferente, mas há coisas que não mudam...

Cinema

O Cinema 1 exibia o filme Batman, dirigido por Tim Burton. O Cine Plaza colocava em cartaz Os Caça Fantasmas II; e o Cine Condor mostrava De Volta para o Futuro II.

Música

As rádios executavam sucessos como Entre Tapas e Beijos (Leandro & Leonardo); Burguesia (Cazuza) e Paradise City (Guns N’ Roses).

Televisão

A Rede Globo exibia a novela Tieta, escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares.

Futebol

Exatamente cinco dias antes da fusão Pinheiros-Colorado, o Atlético era rebaixado à Série B do Brasileiro. Já o Coritiba brigava nos bastidores contra a punição da CBF por perder por WO para o Santos – o Alviverde acabou jogando a Segundona em 90.

Política

No dia 17/12/89, dois dias antes da fusão, Fernando Collor vencia Lula na eleição presidencial. Alvaro Dias era o governador do Paraná. Jaime Lerner, o prefeito de Curitiba.

Tecnologia

A Nintendo lança o Game Boy (videogame portátil) nos EUA, com o jogo Tetris. Em 1990, o Super Mario 3 – jogo recordista de venda – entra no mercado.

CARREGANDO :)

Ao acertar com o novo clube para formar o primeiro time, o já consagrado Rubens Minelli, hoje com 81 anos, percebeu estar em um campo minado. A fusão entre Pinheiros e Colorado – tão festejada pela mí­­dia local – só valia no papel. Duas décadas de­­pois, o treinador confessa: "Não foi fácil".

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Aposentado e morando em São Paulo, o técnico conversou com a reportagem da Gazeta do Povo para relembrar os primórdios do Tri­­color. Não escondeu a admiração e o carinho pela associação que fundou dentro de campo, mas fez questão de contar a saiajusta de contentar as duas alas paranistas.

"A única coisa que não deu certo naquele início de trabalho foi a desunião dos dirigentes. O Pi­­­nheiros tinha uma pujança financeira, mas sem torcida. O Colorado, ao contrário, possuía um quadro associativo frágil, porém um bom número de fãs. Mas o casamento não deu certo. Não podia jogar de calção azul, meia vermelha... Invocavam com tudo. Não havia boa vontade entre as duas partes", diz.

A percepção de racha também atingia o professor tetracampeão brasileiro e com currículo invejável. "Falavam que eu só escalava jogador do time ‘X’ ou que só gostava dos atletas do time ‘Z’. Uma bobagem."

E segue: "Certa vez, colocaram uma placa vermelha nas cadeiras sociais e isso causou uma revolta nos pinheirenses, com muita chiadeira. Pedi então para pintá-la de azul e deixar as letras apenas na cor original. Cada coisa besta! Assim, começou o nosso trabalho: puro antagonismo."

Com a prancheta na mão, Mi­­nelli usou da artimanha de um ve­­terano. "Minha chegada foi uma loucura. Havia dois times, 57 jogadores, três médicos, quatro massagistas, cinco roupeiros... Uma coisa de maluco mesmo. Eu não conhecia ninguém, então decidi fazer algo inusitado: peguei a comissão técnica do Colorado e pedi para eles me dizerem quem eram os 15 melhores do Pinheiros. Depois, fiz o contrário. Dessa forma, evitei apadrinhamentos. Deu certo, pois ninguém que ficou fora acabou se destacando em outro clube."

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Após perder na estreia, conseguiu 19 partidas de invencibilidade e só foi tropeçar novamente nas semifinais. O sucesso fez o time da Vila Capanema ganhar um sobrenome. "Fora do estado, o Paraná era conhecido como o time do Mi­­nelli ou o Paraná de Rubens Mine­lli", conta.

No balanço, o ex-técnico escancara o carinho pela equipe. "Jamais vou esquecer esse período da mi­­­nha trajetória profissional. Por es­­sas coincidências do destino, a fu­­são foi oficializada no dia do meu aniversário (19/12). Então, isso marca, viu!", explica, para em se­­guida contar uma história que ilustra essa empatia.

"Quando fui trabalhar como dirigente no Atlético, me perguntaram: ‘E aí, Minelli, onde é melhor: aqui ou no Paraná?’ Respondi na cara: ‘No Paraná, claro!’. Todo mundo me olhou assustado. Aí expliquei que o meu aniversário no clube era uma festa daquelas, com jantar para 1.200 pessoas. Com muitas homenagens para mim."

Minelli revela saudade do ambiente quase amador daquele projeto embrionário. "Falei certa vez para o Aramis Tissot (presidente) que vivia sempre uma apreensão antes dos treinos. Ele perguntou: ‘Por quê?’ E expliquei: ‘não dá para ser campeão com um elenco que anda de ônibus’. Nenhum jogador tinha carro. Então, chegavam todos juntos na mesma condução. Se o ônibus atrasasse, a atividade também não começava. Volta e meia, havia esse problema. Assim mesmo, subimos da Série C para a B."

A história, apesar de uma dose de exagero, teve desfecho anos depois. "Em 94, quando fui convidado para voltar, o Aramis, em tom de brincadeira, disse para mim: ‘Olha, a coisa mudou muito agora. Todo mundo tem carrão do ano.’ Aí confirmou que eu estava certo, pois fomos campeões."

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