O bicampeonato brasileiro, conquistado no domingo, foi uma mistura de alegria e alívio para Jihad Kohdr. O paranaense de Matinhos se orgulha de ter superado toda a pressão da luta pelo título. Em outros tempos, a história poderia ter sido diferente. No ano passado, o surfista muçulmano descobriu sofrer de transtorno bipolar, distúbio caracterizado por variações emocionais: da extrema euforia ao descontrole e depressão. Desde então, toma remédios antidepressivos, receitados por seu psiquiatra.

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- Uma hora eu estava legal, outra estava bravo. Uma hora queria dar beijos, outra queria dar porrada. Virava mesa em casa, queria bater no meu pai, no meu irmão. Estou tomando remédio todos os dias. Agora mesmo, eu estava na maior pressão e consegui lidar com isso - conta Jihad após o título, entre um abraço e outro nos amigos.

Jihad procurou especialistas no ano passado, após o epísódio da deportação dos Estados Unidos. Ele estava com visto de turista, e não o de trabalho. Conseguiu regularizar sua situação no Consulado Geral dos EUA em São Paulo, foi para o Havaí, mas não a tempo de disputar as últimas competições que valiam vaga para o Circuito Mundial, o WCT.

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- Agora os vistos estão todos certos. Estou preparado para para tudo, mas sei que a vitória é certa - conta.

Jihad se cansa da pressão no Brasil e das perguntas sobre suas origens

A vaga para o WCT, por sinal, pode ser mais um remédio para Jihad. Caso se classifique, ele não poderá mais disputar o SuperSurf, o Circuito Brasileiro. Entre os assuntos que mais o incomodam está a pressão por resultados em seu país.

- Já fiz minha parte no Brasil. Quero enfrentar os melhores do mundo sem pressão. Aqui a pressão é muito grande. Da mídia, dos patrocinadores, de todo mundo. E eu mesmo me cobro muito.

Sempre muito educado, Jihad diz que as constantes perguntas sobre sua religião não chegam a incomodar, mas cansam.

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- Isso cansa. Toda vez é a mesma coisa. Tenho que falar que meu pai veio do Líbano, vendia maçãs, que minha mãe usa véu, etc - conta, rindo.