O objetivo de Mohamed Tarabain quando mandou o filho Hussein, então com 7 anos, treinar tae kwon do era simples: achava que o garoto precisava praticar algum esporte, de preferência um que o ensinasse a se defender. Nem imaginava, uma década depois, ver o adolescente treinando no Irã ao lado de um dos maiores campeões da história da modalidade, com a meta de disputar os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
Aos 17 anos, Hussein Tarabain, paranaense de Foz do Iguaçu, já tem no currículo o vice-campeonato pan-americano sub-18 de 2007, conquistado em Daytona Beach, nos Estados Unidos. Dentro do Brasil, são três títulos nacionais e oito estaduais, desempenho inspirado no iraniano Hadi Saei, bicampeão olímpico e tri mundial.
"Pesquiso na internet, tenho fotos e vídeos das suas lutas e anoto seus principais pontos, defeitos e busco trabalhar isso em mim", conta Hussein, que teve sua vida mudada pelo ídolo. Não com imagens de socos e chutes, mas com uma carta.
Pouco antes do Mundial Sub-18 do ano passado, na Turquia, o paranaense recebeu uma correspondência de Saei. Em poucas linhas, o iraniano lhe desejou sorte na competição e recomendou esforço e dedicação para obter um bom resultado. Foi o que bastou para Hussein tomar coragem de pedir uma vaga na Casa do Tae Kwon Do do Irã, um dos mais respeitados centros de treinamento da modalidade no mundo.
"Quando dei por mim, já estava aqui no Irã. Parece um sonho", diz o paranaense, em Teerã desde janeiro, sob orientação de Saei, que deixou o dojô para assumir o cargo de coordenador técnico das seleções adulta e juvenil do país. "Além de melhorar minha técnica, é uma honra poder conversar e saber mais da experiência de uma lenda do esporte como ele."
Mesmo sendo muçulmano como 98% da população iraniana , Hussein diz ter sentido diferenças culturais grandes entre a vida no Brasil e em seu novo país. Ainda assim, prefere valorizar a bagagem cultural acumulada no dia a dia. "Cada lugar que visito, pessoa que conheço me parece um pedaço de uma história muito grande", conta, feliz pelo bônus da sua já proveitosa estada no Oriente Médio.
Graças à sua integração à equipe iraniana, conseguirá disputar dez competições neste ano na categoria adulto, inclusive o forte Aberto da França. Um calendário inviável caso ainda estivesse no Brasil.
"Vou criar uma base para, em 2010, estar em condições de conquistar a vaga para o Pan-Americano, o Mundial e depois, se Deus quiser, para a Olimpíada de Londres", planeja, com uma ambição impensável quando ele deu os primeiros golpes na academia de Toríbio Silveira, amigo da família e seu treinador até hoje.
"Meu professor acreditava muito em mim, pegava no meu pé e me ajudou a acreditar que podia vencer mais", relembra, iniciando uma retrospectiva da sua trajetória no dojô. "Desde pequeno fui muito tímido. Mas quando mexiam comigo, era agressivo. Precisava aprender a controlar isso, a não descarregar minha energia nas pessoas", revela.
Hussein também não esquece das dificuldades das primeiras competições. No início, só contava com o apoio da família e a boa vontade da escola, que abonava algumas faltas. Patrocínio mesmo, só em 2002, quando uma loja passou a oferecer todo o equipamento para a prática do tae kwon do. "O material que uso é importado. Inclui proteção para braços, cabeça, tronco, joelho, canela, pés e calcanhares. Além disso, muitas competições são fora do país, o que aumenta os custos", comenta.
Também é dessa época que traz o estafe que o acompanha até hoje embora à distância durante seu estágio no Irã. O técnico Toríbio Silveira, o fisioterapeuta Omar Issa e o preparador físico Flávio Marquezi. Apoio fundamental para ele cumprir à risca o seu lema no tae kwon do: "Enquanto os outros descansam, eu treino."
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