Aramis, Ernani e Ocimar: presidentes de tempos de vitórias, títulos e alegria ao Paraná opinam sobre passado, presente e futuro do clube| Foto: Antônio Costa, Valterci Santos e Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

Sem um líder, "revolução paranista" é um sonho distante

Muitos torcedores do Paraná vêem a situação atual do clube muito parecida com a do Atlético em 1995, quando o Rubro-Negro amargava resultados ruins em campo, na Série B nacional e com o Estádio Joaquim Américo fechado e abandonado. Na ocasião Mário Celso Petraglia assumiu e liderou uma nova diretoria que se seguiu e instalou uma verdadeiro revolução na equipe, hoje com um moderno estádio próprio, um CT moderno e alguns resultados expressivos, como o título do Brasileirão de 2001.

Entretanto, para uma mudança radical como esta funcionar no Tricolor seria preciso uma pessoa carismática e com liderança, algo que não parece possível de se ver nos atuais quadros de conselheiros do Paraná.

"Ao longo do futebol vi duas revoluções no futebol, uma com Jofre Cabral em 1968 e com o Petraglia em 1995, ambas no Atlético. Ambas foram lideradas por uma pessoa só, que conseguiu ser carismática para liderar, além de contar com conhecimento e experiência. Nenhuma revolução acontece sem um grande líder, e não vejo ninguém com este perfil surgindo no Paraná. Quem está lá trabalha, ama o clube, mas só", analisou Ernani Buchmann.

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Risco de rebaixamento no Campeonato Paranaense, no Brasileirão, na Série B, perda de título dentro da Vila Capanema e crises dentro e fora de campo. A segunda década da história do Paraná Clube segue sendo o oposto da primeira, recheada de títulos e alegrias ao torcedor tricolor. A torcida não agüentou uma nova derrota no último sábado, em casa contra o Brasiliense, e declarou guerra à diretoria e ao atual elenco, e o temor é ver um novo rebaixamento justamente com a aproximação dos 20 anos de fundação do Paraná.

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A atual diretoria é encabeçada por Aurival Correia, que foi um dos vice-presidentes da gestão de quatro anos (entre 2003 e 2007) de José Carlos de Miranda, afastado por acusações de improbidade administrativa. Em todo este período os únicos momentos de alegria foram o título estadual de 2006 e a classificação para a Taça Libertadores de 2007, com um quinto lugar no Brasileirão de 2006, melhor colocação do clube em Campeonatos Brasileiros. O que o torcedor não entende (ou não sabe) é o porquê de um calvário sem fim e, principalmente: onde estão os paranistas históricos?

A pergunta foi feita a três dos mais vitoriosos ex-presidentes do Paraná da década de 90, e parte da reposta repousa na reforma do estatuto do clube, em 2003. Nela o Conselho Normativo (formado por ex-presidentes) perdia o poder de indicar ou aprovar candidatos à presidência do Tricolor. A medida ampliou os poderes da diretoria na ocasião e esvaziou o setor da diretoria paranista que se notabilizou por formar dirigentes, sobretudo para o departamento de futebol.

"Temos que repensar o futebol profissional. Tentamos profissionalizar o departamento de futebol há cinco, seis anos, mas então veio a mudança no estatuto e o Conselho Normativo perdeu todo o poder. Eles acabaram com o conselho, ficaram com o poder nas mãos e depois não souberam tocar o clube ou o futebol do Paraná. Retrocedemos bastante nesta área e acho temerário, pelo que estamos vendo", disse o primeiro presidente da história tricolor, Aramis Tissot, à Gazeta do Povo. O ex-dirigente acha que o clube está órfão de pessoas que entendam de futebol há anos, mas falta humildade à atual diretoria para reconhecer este fato.

Outros endossam postura de Tissot

Esta posição se assemelha à apresentada pelo publicitário Ernani Buchmann, que dirigiu o Paraná entre 1996 e 1997, conquistando dois títulos paranaenses. "O clube apequenou-se nos últimos anos, e o que é mais triste é se acostumar a ser coadjuvante. O Paraná não foi criado para isto, e sim para ser tão importante quanto Atlético e Coritiba. Acho que o que estamos vendo é um círculo vicioso, já que os administradores encontraram dívidas e se desesperaram, montando assim times baratos que, ora deram certo, ora não deram. É preciso mudar radicalmente, o time do Paranaense por exemplo foi um dos mais fracos da história do clube", avaliou.

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Um nome sugerido pelos dois ex-presidentes do Paraná e outros nomes de passado vitorioso consultados pela reportagem da Gazeta do Povo para ajudar uma recuperação no futebol do Tricolor é um outro ex-presidente, e que hoje dirige o departamento de futebol do Atlético. Ocimar Bolicenho mostrou-se feliz com a lembrança, mas disse que a velha guarda está longe do clube desde a reforma estatutária e que jamais foi procurado para ajudar de alguma forma.

"Este Paraná Clube é bem diferente do que eu vivi. Mudou-se conceitos estabelecidos na época da fusão (entre Colorado e Pinheiros) com aquela reforma no estatuto, conceitos estes que haviam funcionado bem por muitos anos. Falamos na época dos riscos mas não nos ouviram. Acabaram jogando os primeiros 14 anos na lata do lixo e não me sinto surpreso com o que estou vendo. Na época em que o ex-presidentes tinham poderes nós preparávamos pessoas porque tínhamos experiência, eu e outros passamos por isso. Talvez o clube tenha que passar mais algum tempo por esta situação até ter as pessoas certas nos cargos certos", opinou Bolicenho.

Atual direção rebate críticas

Em sua defesa o atual presidente do Paraná, Aurival Correia, afirmou que o problema para os anos de "vacas magras" e vexames na Vila Capanema se devem exclusivamente à falta de dinheiro, e não de pessoas com entendimento e experiência no mundo do futebol.

"Tudo mudou muito nos últimos anos, era fácil trabalhar quando você tinha R$ 5 milhões de verba garantidos. Assim fica fácil planejar. Este ano entramos com zero de receita, não temos de onde tirar dinheiro, não temos um plano de sócio-torcedor agressivo. Nossas dificuldades são imensas, quando este ou aquele não vem é porque não temos condições financeiras, esta é a verdade. O que vejo é algumas pessoas se aproveitando do nosso momento ruim", rebateu.

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A única convergência de opiniões está na continuidade da instituição, independente do que o futuro reservar aos paranistas. "Não existe qualquer chance do clube acabar, temos uma torcida bastante significativa. A própria estrutura do clube não deixará o futebol do Paraná morrer", falou Buchmann. "A instituição é muito forte, as pessoas passam e o clube fica, não vai desaparecer", concluiu Bolicenho.