Jogadores do Coritiba comemoram o retorno do clube à elite do futebol brasileiro no gramado de São Januário, no Rio de Janeiro. Clube pode ser bicampeão da Série B no sábado, em casa, contra o Figueirense| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo – enviado especial

O jogo dos 7 erros

A Gazeta ouviu coxas-brancas ilustres e traçou um breve manual do que o clube não deve fazer para não voltar mais ao inferno da Segunda Divisão.

1)Não errar nas contratações: "Precisa seguir o projeto, com planejamento nas contratações. Não dá mais para pagar salário fora da realidade, nem contratar vários joga­­dores no meio da temporada. Isso é tapa buraco." Ernesto Pedroso, inte­­grante do G9 que comanda o Coritiba.

2)Manter sempre o pé atrás: "É necessário tomar todos cuidados, nunca duvidar que se pode cair, menosprezar a situação. Para isso, aconselho somar o máximo de pontos possível no começo do campeonato." Dirceu Krüger, ex-jogador e atual coordenador das categorias de base do Alviverde.

3)Gastar o que pode: "Saber usar bem o dinheiro. Ou seja, arrecadar bem e gastar bem, com critérios e nunca acima da receita. Esse é um passo importante para a consolidação do atual projeto." Gus­­tavo Fruet, deputado federal pelo PSDB-PR.

4)Ter um líder em campo: "Na hora de montar o elenco, não se pode esquecer de ter alguém com o perfil de líder, para comandar o time dentro de campo. Sem ele, o time fica desestruturado." Guilherme Straube, integrante do grupo Helênicos, especializado em história do Coritiba.

5)Técnico e política: "Não adianta trazer um técnico muito caro e não ter elenco. É preciso planejamento. E saber que o futebol muda a cada 15 dias, para não deixar com que elementos extracampo abalem o futebol". Capitão Hidalgo, ex-jogador do Coritiba e comentarista esportivo.

6)Uma torcida de verdade: "A torcida tem de ajudar e não atrapalhar. Não pode fazer com que a pressão influencie o time. Ninguém gosta de trabalhar pressionado." Guilherme Straube.

7)Estrutura profissional:"[O Coritiba] não pode esquecer do planejamento, se estruturar cada vez mais. É necessário profissionalizar as áreas, dando suporte financeiro ao projeto." Vilson Ribeiro de Andrade, vice-presidente do Coritiba.

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Vestiário

Desabafos marcam festa do acesso

Rio de janeiro - Ainda no gramado de São Januário, os jogadores do Coritiba não continham a emoção. Édson Bastos, Jéci e Marcos Aurélio – alguns dos remanescentes do rebaixamento – eram os mais exaltados.

"Hoje o Coritiba é um exemplo para o futebol brasileiro. Apesar de todas as dificuldades, paga em dia os salários. Mas só a gente sabe mesmo o que passamos nesta temporada. Jogar em Joinville para 500 pessoas, pegar estrada, chegar em Curitiba às 4 horas da manhã e viajar de volta... Não foi fácil", destacou o goleiro, emocionado.

"Eu já chorei, já vibrei, já gritei, fiquei feliz... Neste momento, na verdade, passa um filme na cabeça. Não tem como não lembrar aquele jogo do rebaixamento. O Ney [Franco, técnico] foi homem pra caramba, viu", disse o capitão Jéci.

Marcos Aurélio, autor do gol do acesso, endossou. "Foi um ano de muito sofrimento. Após tudo que ocorreu no ano passado, sofremos alguma pressão. Mas trabalhamos e mostramos a força desse grupo."

Marcio Reinecken, enviado especial

Veja quem sai e quem deve permanecer no Verdão para a próxima temporada

A relação entre Coritiba e L.A. Sports irá mudar em 2011. A empresa, dona de um bom quinhão de atletas dentro do clube, não pretende mais colaborar financeiramente. "A parceria será menos abrangente", confirma o advogado Luiz Alberto Mar­­tins de Oliveira, responsável pela agência especializada em futebol, que mantém também uma espécie de cogestão com o Avaí, de Santa Catarina – antes, por cerca de cinco anos, a L.A. colaborou com o Paraná Clube.

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Para se ter uma dimensão do atual relacionamento, Rafinha, Leonardo, Léo Gago e Marcos Paulo, as joias da coroa da galeria de atletas da L.A. no Coxa, foram responsáveis por 26 dos 63 gols (41,2%) que o clube marcou nesta campanha de retorno à elite do futebol brasileiro. Números que fizeram Vilson Ribeiro de Andrade, vice-presidente alviverde, enaltecer o acordo. "Tem sido muito positivo", disse ele.

Por "menos abrangente" leia-se que o novo casamento não en­­volverá dinheiro. "Até porque o Coritiba, na Série A, não irá mais precisar, tenho certeza", explica o empresário.

Luiz Alberto conta que a L.A. assumiu nesta temporada o pagamento das luvas (espécie de gratificação acertada no momento em que o contrato é assinado) do meia Rafinha e de parte do salário do volante Andrade, indicação do técnico Ney Franco, que chegou ao Alto da Glória no começo deste ano. O empresário preferiu não revelar valores, mas a Gazeta do Povo apurou que o crédito da L.A. apenas em relação à negociação de Rafinha é de R$ 150 mil. "Ficamos combinados que no momento em que houver uma venda, tudo será acertado", diz Luiz Alberto.

"Fio do bigode" que não existirá mais na próxima temporada. O empresário já programou um período sabático para o primeiro semestre do ano que vem. Irá viajar pela Europa, visitando clubes. Quer se desligar até mesmo do Avaí, com quem possui uma parceria ainda mais estreita. "Só fico se o time cair para a Segunda Divisão. Aí é uma questão de honra recolocá-lo no seu devido lugar", ressalta.

Em relação ao Coritiba, promete seguir como um colaborador. Podendo, e se houver interesse, manterá o atual grupo no Alviverde – apenas o vínculo de Marcos Paulo não termina após a definição da Série B.

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Há, ainda, o indicativo de que outras peças podem desembarcar no Couto Pereira, casos de Eltinho, Van­­dinho e Davi, que já receberam sondagens do clube. Negociações que dependem do treinador que substituirá Ney Franco – o nome será divulgado na próxima segunda-feira. "Não tenho dúvidas de que se trata de um grande parceiro", elogia Ribeiro de Andrade, sem entrar em detalhes sobre o futuro.

Clube deixa as "vacas magras"

Passados os infortúnios da Se­­gunda Divisão, o Coritiba esboça agora uma nova planilha financeira. A primeira constatação é óbvia: a maior exposição na mídia, fruto do retorno à elite do futebol nacional, resultará em um orçamento bem mais robusto em 2011 – a previsão é que o clube feche esta temporada com uma movimentação financeira de R$ 30 milhões.

A estimativa de receita, graças ao acesso, apresentada aos conselheiros do clube, terá um acréscimo de 46% – um bônus tido como insuficiente. "Atualmente fica muito difícil fazer futebol com um orçamento anual inferior a R$ 80 milhões", admite Vílson Ribeiro de Andrade, vice-presidente coxa.

A cota de televisão, principal fonte de recursos, irá dobrar, voltando aos patamares de 2009, o ano do rebaixamento, atingindo a casa dos R$ 12 milhões (fora o valor do pay per view). Há, também, o desejo de fazer o Couto Pereira – e a torcida – render ainda mais dividendos ao clube.

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Planos ambiciosos. A estimativa, explica o diretor Ernesto Pedroso, é que o interesse em ver in loco o Alviverde enfrentar Flumi­nense, São Paulo e Grêmio, entre outros, possa fazer com que o quadro associativo salte dos atuais 17 mil torcedores para 25 mil, o que geraria uma renda mensal estimada em R$ 1,75 milhão/mês. "Seria o suficiente para bancar as despesas do futebol", diz o dirigente, já projetando que os gastos com o departamento também devem se elevar – a folha salarial atual, com impostos, gira em torno de R$ 1,4 milhão por mês.

O planejamento prevê ainda a construção de novos camarotes e a exploração de painéis de publicidade. A expectativa é que somente as placas instaladas nas arquibancadas devam render mais R$ 500 mil a cada 30 dias. Números que serão incrementados por patrocinadores.

O contrato com o banco BMG, anunciante master, termina no fim deste ano, mas já há conversações para a renovação. O mesmo raciocínio vale para a empresa Ira, especializada em peças para mo­­tos, que também estampa sua marca no uniforme coxa.

"Na Série A vendemos o clube de outra forma, estamos no centro da mídia. Qualquer negociação fica bem mais fácil", afirma Pedroso. "O produto Coritiba volta a se valorizar", fecha An­­drade.