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O bodyboard chegou com a intensidade de uma grande onda na vida da curitibana Lorraine Lima. Treinamentos, viagens, disputas, badalações, apuros e aventuras em ambientes exóticos passaram a fazer parte da rotina da bodyboarder desde quando ela passou a peregrinar com sua prancha, há nove anos. Mas ela surfa essa onda com a serenidade típica das melhores em seu meio e já coleciona diversos títulos, entre eles o de campeã mundial amadora e sul-brasileira profissional. E Lorraine quer mais. Ontem à noite, a atleta deixaria Curitiba rumo ao Havaí para a disputa da última etapa da temporada de 2006 do WWT (Women’s World Tour), o principal circuito feminino de bodyboard profissional do planeta.

Na mira da curitibana – atual 12.ª do ranking mundial – está uma vaga entre as tops. "Meu objetivo é ficar no meio das dez primeiras, mas se eu terminar entre as 16 melhores já cortarei um bom caminho até as etapas decisivas da próxima temporada, pois poderei entrar diretamente nas oitavas de final", ressalta. Se confirmar a sua expectativa, será a melhor colocação de Lorraine na competição: em 2004, terminou em 25.º lugar; e em 2005, em 21.º. A etapa havaiana será em Pipeline e, embora aconteça nos primeiros dias de 2007, valerá para o fechamento da temporada 2006. "Estou empolgada, pois gosto das ondas de lá", diz.

Para percorrer litorais mundo afora competindo no esporte que tanto ama, a bodyboarder passa em média oito ou nove meses do ano longe de casa, rotina que a fez colecionar diversas histórias. Lorraine já enfrentou tubarões, dormiu em aeroportos, perdeu suas pranchas, conviveu com gente estranha, causou furor ao figurar nas páginas da Revista Playboy (em 2004) e enfrentou privações que desfazem o mito forjado pelo senso comum de que a vida de quem perambula pelo mundo surfando em locais paradisíacos é um "mar de rosas".

"Às vezes não quero nem surfar. Sinto muito a falta da minha família e gostaria de parar mais em casa, inclusive para ficar mais com a minha mãe, que passa por problemas de saúde e só esse ano foi hospitalizada por três vezes", lembra. "Em certas ocasiões, quando estou fora, mesmo na presença de amigos, minha cabeça está longe", afirma. A saudade, contudo, é apenas um dos entraves. "Há muitos locais com boas ondas que são desertos, sem infra-estrutura. São as maiores roubadas. Na Indonésia, por exemplo, a hospedagem é péssima e a comida é para lá de estranha, assim como os costumes. As pessoas comem com a mão, sem talheres, por exemplo."

Para ela, tão difícil quanto remar ao lado de tubarões nos mares da Austrália é encarar com bom humor as intermináveis jornadas nos aeroportos. "Nesse ano, quando tentava embarcar dos Estados Unidos para a Austrália, percebi que meu visto estava vencido. O pior é que minhas pranchas foram extraviadas. Tive que ficar dez dias parada nos EUA sem poder treinar e cheguei a dormir no aeroporto de Los Angeles por falta de hotel", recorda.

Por isso, segundo Lorraine, além de garra e competência técnica, é preciso ainda coragem para viajar sozinha em locais desconhecidos e ter de conviver com diversos tipos de pessoas, "desde os metódicos e organizados, até os mais doidos e drogados", diz. Mas nada disso a desanima, pelo contrário. "O esporte está me proporcionando uma experiência muito rica. Sei que a vida de atleta é curta, mas ainda não penso em parar. Talvez me aposente depois de chegar aos 30 anos, que é o auge da experiência e a faixa de idade da maioria das campeãs."

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