Rúbia Schweitzek mora em Vila Velha, Espírito Santo, e desde 2004 não vinha a Curitiba. A visita à tia, que mora no Tarumã, a uma quadra do Pinheirão, ocorreu na semana passada. E, logo ao chegar, a primeira coisa que a turista quis rever foi o estádio.Foi lá que a garota havia assistido ao jogo entre Brasil e Uruguai, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Mas, ao chegar à frente da construção, ficou triste por ver que aquele foi, provavelmente, um dos últimos momentos de glória da praça esportiva.
Em volta do estádio é fácil encontrar lixo. Os muros estão pichados e parte do concreto rachado. Os portões enferrujados e, alguns, podres, só se sustentam encostados nas paredes e presos por correntes. Embora a entrada seja proibida, é possível ver um gramado tomado por ervas daninhas quase um mato.
Não é tudo. O abandono fez a região virar ponto de marginais. Muitos utilizam o lugar como abrigo. Outros, para assaltar quem se atrevesse a passar pela ruela que leva ao estádio quando escurece. À noite, não é raro se ouvir tiros. "Aqui só passo de dia. Vários vizinhos meus já foram assaltados", conta Cleidemar Schweitzek, a tia.
O martírio dela, no entanto, parece longe do fim. Após a reaproximação entre o poder público e o Atlético, a luz que se acendeu sobre o Pinheirão apagou-se repentinamente. O tal plano B para a Copa de 2014, que chegou a ter até construtora (Andrade Gutierrez), foi descartado. E mesmo o sonho de abrigar o Rubro-Negro no tempo em que a Arena estiver em obras parece impossível.
"Ninguém me procurou. Se isso ocorresse, teríamos de chamar um engenheiro para analisar o que é preciso fazer", afirma o presidente da Federação Paranaense de Futebol, Hélio Cury, sem muita esperança de ver o cenário mudar.
O Pinheirão está interditado desde maio de 2007. Para ser liberado, necessitaria de uma reforma de quase R$ 1 milhão. O tempo de consertar tudo também é indeterminado. "Antes nós ainda conseguíamos liberar a pista de atletismo. Agora ninguém pode entrar lá", diz Hélio, que não pensa em bancar a reforma. "Para quê? Quem jogaria aqui? Ninguém."
O problema maior do estádio é a penhora de cerca de R$ 50 milhões por dívidas com o INSS, prefeitura de Curitiba e outros credores menores entre eles o Atlético e o advogado Augusto Mafuz. "Devemos, não negamos. Estamos conversando para encontrar uma maneira de pagar. Contudo, não adianta dividir em 180 vezes, pois mesmo assim a parcela ficará muito alta", diz Cury, referindo-se ao Refis (programa de recuperação fiscal).
O dirigente discorda do valor pedido tanto pelo governo federal como pelo municipal. No primeiro caso, alega que o INSS foi conivente. Para Cury, se a FPF ficou 15 anos sem pagar os impostos na gestão de Onaireves Moura o órgão deveria ter agido bem antes. De acordo com as partes, o assunto está sendo conduzido em sigilo.
Enquanto isso não for resolvido, é provável que a vizinhança do elefante branco continue sofrendo os reflexos maléficos da construção que não pode ser passada adiante. Há quase três anos, depois de autorização da 4.ª Vara da Fazenda, o estádio foi leiloado e arrematado pelo Grupo Tacla, por apenas R$ 11,2 milhões cerca de 25% do valor da penhora na época. A venda foi anulada dias depois. Não houve recurso e o Pinheirão ficou lá, esquecido. Isso se é possível esquecer um estádio daquele porte.
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