A caminhada da porta de casa até a quadra do Central é curta, mas sempre causa a mesma reação. Quem passa pela calçada da rua em Icaraí, não disfarça o olhar ao avistar um rapaz de 2,13m, que tenta, em vão, se misturar à multidão. O menino que sonhava um dia ouvir o Maracanã gritar seu nome, cresceu demais. Trocou a camisa de atacante pela de goleiro e quando a altura já não mais o permitia guardar o gol, foi experimentar guardar o garrafão. Há quatro anos, mesmo que a contragosto, Lucas Bebê foi para o basquete. Num estalar de dedos, estava atuando na Espanha, na Seleção de base e saiu do banco de reservas para ser o destaque do Brasil na Copa América sub-18, em San Antonio.
O duplo-duplo (22 pontos e 14 rebotes) obtido na final contra os Estados Unidos, fez mais. Rendeu pedidos de fotos e autógrafos, despertou a atenção dos olheiros da NBA.
"Ninguém esperava que eu fosse tão bem. Nem eu! Ainda mais que tinha o time americano, eu era reserva e também não gostava muito de treinar. Mas depois daquele torneio já estou no top 5 do draft da NBA do ano que vem. O pessoal diz que sou fantástico, mas não vejo isso tudo," ri.
Seu Nogueira também vê. O bancário aposentado, que juntamente com a esposa adotou Lucas quando era bem pequeno, acredita no potencial do filho de 17 anos. Tanto que já não permite mais que ele jogue as tradicionais peladas de futebol nas férias. As saídas também passaram a ser monitoradas. Bebê torce o nariz, mas leva tudo com bom humor, sua marca registrada.
"Meu pai está me controlando, não me deixa sair. Mas já pensou se entro em 2011 pra NBA? Eu só assistia esses atletas pela TV e nem sabia mesmo se ia querer seguir jogando basquete. Mas agora há a chance de poder entrar e enfrentar o Kobe Bryant. Eu sempre torci pelo Lakers. Na verdade acho mesmo que torço pelo Kobe. Só que ele não vai conseguir passar pela minha marcação quando eu estiver lá. Vai zerar a partida," diverte-se o jovem pivô, que tem contrato com o MMT Estudiantes de Madri até 2014.
Se ainda sonha com o dia em que ficará frente a frente com seu maior ídolo, Lucas não esquece o encontro com Dwight Howard. O pivô do Orlando Magic, que por muito tempo serviu de inspiração, disse que o brasileiro deveria malhar mais para poder se sair bem no jogo de contato. Não ouviu nenhuma resposta. Bebê não conseguiu falar nada. Não arriscou uma palavrinha sequer em inglês. Preferiu ficar observando aquele "cara fortão" e guardar na memória a cara de choro de Howard quando perdeu a partida de xadrez que disputou logo depois de terem sido apresentados.
Os hábitos dos astros da NBA fora das quadras despertam o seu interesse tanto quanto dentro delas. Ele sabe quantos carros tem um, quanto outro gasta de gasolina por mês ou o que costuma fazer nas férias. Rubro-negro de carteirinha, Bebê discorre também com naturalidade quando o tema passa para o gramado. Influência do irmão, Sandro Riva, que jogou no Flamengo. As fotos ao lado de Kaká, Casillas e Cristiano Ronaldo são troféus. O craque português é descrito como "gente boa", alguém que se preocupa com o visual tanto quanto o próprio Bebê, mas que sofre bem menos que o fã brasileiro para manter o estilo.
"É difícil comprar roupa e tênis para mim. Calço 52 e só consigo tênis por causa do meu patrocinador. Se tiver que ir a um casamento vou de tênis, porque de sapato meus dedos ficam encolhidos. Calça só fui encontrar em Hollywood. As minhas viravam short quando eu sentava, mas eu levava a situação na boa. Agora as meninas olham mais, estou boa pinta. Isso é bom. Só que sei que tenho que pensar em jogar e ser bem-sucedido não só por elas. Quero um lugar na Seleção principal ao lado do Anderson Varejão e do Nenê. Gosto muito da raça e do jogo agressivo deles. Espero que o Rubén Magnano me chame. Vou lá no treino fazer uma visita," sorri.
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