Ágatha participa da etapa de Curitiba do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Três meses após a conquista da prata no vôlei de praia da Olímpiada do Rio, a paranaense Ágatha administra um turbilhão de mudanças. O status de medalhista olímpica aumentou o prestígio e o assédio sobre a atleta. Ela se considera no ápice da carreira, mas nem tudo é festa depois do resultado histórico.

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Apenas três dias depois de subir ao pódio na Rio-2016, a companheira Bárbara anunciou que encerraria a dupla. Pega de surpresa, a curitibana radicada em Paranaguá teve de correr atrás de um novo time. Até o fim do ano vai competir ao lado de Carol Solberg, uma solução provisória. A partir de janeiro de 2017 inicia a parceria com Duda Lisboa, revelação do vôlei brasileiro de apenas 18 anos – 15 a menos do que Ágatha. Juntas, elas vão iniciar um novo ciclo sonhando com os Jogos de Tóquio-2020.

Financeiramente, a medalha de prata não resultou em ganho de patrocínio. Pior. A paranaense perdeu dois apoios importantes que representavam cerca de 80% de seu orçamento. “É um cenário muito ruim”, lamenta.

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Em Curitiba para a disputa da quarta etapa do circuito brasileiro, Ágatha conversou com a reportagem da Gazeta do Povo. Veja abaixo os principais tópicos da entrevista.

- RETORNO PARA CURITIBA

- PERDA DE PATROCÍNIOS PÓS-OLIMPÍADA

- RELAÇÃO COM A EX-COMPANHEIRA BÁRBARA

- O STATUS DE MEDALHISTA OLÍMPICA

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- NOVA DUPLA EM 2017

- TRABALHO COMO MODELO E PROJETO SOCIAL

Você está em uma fase de transição e voltou a jogar em casa depois de quatro anos. Qual a sensação?

Uma delícia poder jogar essa etapa aqui. Nessa reta final do ano rola um cansaço natural, ainda mais em ano olímpico. Então voltar para casa dá uma motivação a mais. Além disso, estou com dupla nova, então tudo é novidade, tem aquela vontade de entrosar o time, conhecer as qualidades e defeitos e vencer. Apesar desse time com a Carol ter prazo de validade, estamos muito felizes juntas.

Passaram-se três meses da conquista da medalha de prata. Conseguiu descansar?

Zero. Foi tudo atropelado. Pelo fim da dupla com a Bárbara, tive que correr atrás de todo um time novo porque a Bárbara ficou com toda a equipe. Eu fiquei apenas com o Renan, que é meu marido e preparador físico. Foi bem desgastante. Estou querendo muito as férias, poder viajar, ficar em paz com minha família.

E ainda pretende fazer uma pausa?

Em dezembro. Vou passar dez dias em Santa Catarina com minha família na virada do ano. E depois vou passar mais uns dez dias com meu marido na Costa Rica. Aí só nós dois realmente descansando. Já falei para ele: tudo que tiver que fazer de trabalho, faça até o último dia no Brasil, porque na viagem não quero mais falar de voleibol. Para começar o ano que vem recarregada.

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Financeiramente, a medalha olímpica trouxe mudanças?

O patrocínio que eu tinha da Embratel infelizmente acabou depois da Olimpíada. Era esse o previsto mesmo. Estamos negociando para o ano que vem, mas, no momento, estou sem. Como acabou o time com a Bárbara, o contrato com a Olympikus foi rescindido. Hoje o apoio que tenho é da Marinha, onde sou 3º sargento, e do governo estadual através do projeto TOP [Talento Olímpico do Paraná]. Essa bolsa do governo acabou mês passado, mas será renovada em 2017.

Essas perdas representam quanto em seu orçamento?

Uns 80% mais ou menos. É um cenário muito ruim para uma atleta que acabou de ganhar uma medalha de prata em uma Olimpíada. Tentei vários patrocínios pontuais para jogar essa etapa de Curitiba e não consegui. Aí você vê como está ruim. Era o momento de eu estar jogando com marcas locais e não deu certo. Espero muito que melhore para o ano que vem. A gente fez uma Olimpíada em casa, conseguiu bons resultados, recorde no número de medalhas, mas está difícil.

Aqui em Curitiba, você jogou pela primeira vez contra a Bárbara depois da separação. Como é vê-la do outro lado da rede?

Estranho. Acho que essa é a palavra. Eu entro com a mesma vontade de ganhar, mas é natural estranhar, ter um sentimento diferente, porque ficamos seis anos juntas.

Ágatha, ao fundo, e Bárbara à frente. Antigas parceiras agora são adversárias. 

Foi muita surpresa quando ela decidiu encerrar a dupla?

Deixei bem claro que não estava esperando isso. Foi apenas três dias depois de a gente ganhar a medalha. Você imagina: o time ganhou e agora deslancha. Como não rolou isso, tive que virar a chave muito rápido para me encontrar o quanto antes, saber lidar com essa separação.

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Vocês ainda conversam?

Por mais que a gente more na mesma cidade [Rio de Janeiro], a gente não se cruza, não tem lugares em comum. Só aqui nos eventos esportivos mesmo. E nas competições temos um perfil muito concentrado. Então, a gente nem conversa muito. Cada uma está focada em sua dupla.

Mas a relação é tranquila?

Normal, a gente se cumprimenta, tudo... Eu levei isso como uma coisa profissional. É lógico que não tem mais essa proximidade. Faz parte. Não tem jeito.

Onde você guarda a medalha olímpica?

Eu ainda não consegui pendurar essa medalha na parede. Faço isso com todas, mas com essa ainda não consegui. Ela está em casa no Rio na caixinha de madeira que a gente ganhou. E tadinha, já está toda destruída [risos], descascada, o cordão está sujo. É que eu já tirei tanta foto com essa medalha, tanta gente pegou que não tinha como ela estar inteira. Mas eu gosto mesmo de dividir essa conquista com todo mundo.

Quando caiu a ficha que você agora carrega para sempre esse status de medalhista olímpica?

Demorou um pouco. Estou vivendo isso ainda. É uma coisa para a vida inteira e que ninguém tira de você. É como se fosse um sobrenome, um diferencial mesmo. Existe o respeito das pessoas, a confiança como atleta, saber que atingi meu nível máximo. E isso me motiva cada vez mais. Estou no meu ápice, quero muito ir para a próxima Olimpíada, ajudar mais pessoas.

E como está o planejamento para o início da dupla com a Duda em janeiro?

A parte estrutural do time está definida: onde vamos treinar, como vai ser, quem vai fazer parte da comissão. Vamos estar com tudo redondo em janeiro. Mas eu e a Duda, como time, conversando, ainda não está rolando. Hoje ela tem uma parceria e eu tenho outra, então estamos respeitando isso. Eu tenho que estar 100% com a Carol hoje e com a Duda só em janeiro.

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Ágatha inicia parceria com Duda em 2017. 

A Duda tem 15 anos a menos do que você. Como vai lidar com essa diferença de idade?

Talvez no início a gente sinta essa diferença. Não tem como. Tenho quase o dobro da idade dela. Vamos ter de encontrar nosso jeito de ser fora de quadra. Dentro de quadra, ela é muito madura, vencedora. Vai dar muito caldo. Fora, vamos ter de aprender a ser dupla. Eu vou entrar mais no mundo dela ou ela no meu? Talvez um meio termo, vamos ver. Mas apesar dos 33 anos, tenho alma de criança. Nisso vai ser gostoso. Ela vai ser minha irmã mais nova e vou puxar a orelha quando precisar [risos].

Nos Jogos de Tóquio você terá 37 anos. A preparação física ganha mais importância neste próximo ciclo olímpico?

Total. Eu já tenho essa consciência, mas vai aumentar mais. As férias, por exemplo, são um descanso mental, mas não físico. Tenho que continuar malhando. Não posso parar, pois o meu retorno físico é mais difícil a cada ano que passa. Vou demorar muito mais tempo para entrar em forma do que a Duda, que tem 18 anos. Mas eu levo vantagem no psicológico, mais experiência, bagagem.

Você segue fazendo alguns trabalhos como modelo?

Eu faço parte da agência Ford Models, um braço esportivo que eles tem lá. Quando surge trabalho, eles falam comigo e, se não atrapalha a minha agenda esportiva, eu faço. É um mundo que gosto muito de levar em paralelo, mas o foco é o vôlei.

Você tem o projeto social em Paranaguá que atende 300 crianças. Pensa em expandir para outras cidades?

Penso sim, mas, enquanto eu estiver jogando, acho que o máximo que conseguiria é trazer para Curitiba porque tenho pouco tempo de folga. E para ter um projeto social, eu tenho de estar presente. Não é legal só dar o nome. Não gosto disso.

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Ágatha com algumas crianças de seus projeto social desenvolvido em Paranaguá.