Teliana Pereira antes de embarcar para o Marrocos, onde disputará o WTA de Marrakesh.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Mais de 24 horas depois de ser a primeira mulher brasileira a vencer um torneio de WTA em 27 anos, “a ficha caiu” para a tenista Teliana Pereira. Ela já tinha retornado da Colômbia, passado por São Paulo, dado entrevista coletiva, chegado a Curitiba e participado de um churrasco com familiares e amigos. Mas só depois de tudo isso, quando ela deitou na cama, sozinha em seu quarto, e olhou para o troféu, veio o pensamento: “nossa, ele é meu mesmo”.

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Foi nesse momento que a pernambucana de 26 anos, que chegou ao Paraná ainda criança, não aguentou a emoção. Chorou. Resultado de todo o esforço para chegar até ali, o que incluiu uma mudança importante na alimentação nos últimos meses.

Após fazer uma cirurgia no joelho em agosto do ano passado, Teliana procurou um nutricionista para rever completamente os seus hábitos alimentares. “Eu estava sentindo que eu precisava, até pelo fato de eu ter machucado o joelho. Tudo que eu tivesse carregando a mais afetaria. Eu fui lá e ele disse: você precisa dar uma cuidadinha a mais, está um pouco cheinha”, admite, aos risos.

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A tenista número 1 do Brasil descobriu que tinha intolerância a lactose. “Eu ficava mal quando eu comia, mas eu não entendia o motivo”, lembra. A recomendação foi que ela cortasse também o que tivesse glúten. Teliana seguiu à risca, na busca de deixar de ser uma jogadora e tornar-se uma atleta, deixando de lado a paixão pelos doces e utilizando suplementos alimentares quando é necessário.

“Azar” do namorado Alexandre Zornig, que aguentou o mal humor da companheira.

“Ela ficava bastante [irritada] quando não comia, quando faltava um suplemento ou quando esquecia. Quando não estava tudo certinho, isso tirava ela um pouquinho de sério, era sistemático. Mas agora melhorou bastante”, admite ele.

“A alimentação dela tem muita fruta, água de coco, massa integral, arroz integral, lentilha, por exemplo. Eu ajudo, mas ela se vira bem sozinha aqui. Quando viaja é que suplementação é ainda mais importante”, acrescenta Zornig, lembrando que foi importante também a evolução mental da namorada, que se convenceu de algo crucial: importante se distrair às vezes, indo a um cinema, por exemplo. A vida não é só tênis.

Após três meses seguindo à risca a dieta e cinco quilos mais magra, a tenista de 59 kg está realmente sentindo a mudança com o desempenho melhor nos torneios.

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“Deu uma diferença gigantesca. O principal foi que eu perdi muita gordura, que é o que realmente pesa. Estou mais fina, mais definida, leve na quadra. Isso acaba mudando meu jogo e me ajudando bastante”, comemora, levando a sério a nutrição até hoje, mas sem tanto estresse como no início. “Às vezes eu dou umas escapadinhas para comer um docinho. Tem que ser feliz, né?”, argumenta a jovem, para depois dar um dos seus sorrisos contagiantes em que é impossível discordar dela.

Teliana ,número 81 do mundo (era 130 antes do título), falou com a Gazeta do Povo no Aeroporto Afonso Pena quando estava prestes a embarcar para mais uma sequência de torneios: qualifying do WTA de Marrakesh, no Marrocos, depois dois Challengers na França (Cagnes sur Mer e Saint Gaudens) e finalmente Roland Garros, o Grand Slam mais esperado do ano, no final de maio.

“Roland Garros é o torneio que eu mais amo, por tudo que o Guga fez e pelo fato de ser no saibro, onde eu treino, gosto de jogar e me sinto realmente a vontade”, conta. “O objetivo principal é furar o qualifyng e entrar na chave principal. Serão três jogos duros”, aposta a tenista, sem temer a pressão após o bom desempenho recente e também sonhando com a Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro.

“É um sonho jogar as Olimpíadas, ainda mais sendo no Brasil. Isso dá uma importância gigante. Mas é bem difícil porque você tem que estar entre as 50 melhores do ranking”, argumenta. “É claro que o Brasil tem direito a convidados. Tem essa margem ainda. Mas o mais garantido é melhorar no ranking”, admite a tenista, que colocou como objetivo no início do ano terminar entre as 70 melhores do mundo. Com um passo, ou raquetada, de cada vez.